Tuesday, October 30, 2007

Boa Noite Alvim com José Rodrigues dos Santos e Elisabete Jacinto







Ao dia 29 de Outubro do ano de 2007 d.C. adivinha-se mais um extraordinário e inesquecível Boa Noite Alvim. No nosso sofá estará sentado José Rodrigues dos Santos. Este jornalista é das figuras mais conhecidas e reconhecidas do nosso país, sendo considerado por muitos como um dos melhor e mais carismáticos pivots de telejornal do nosso país. Como se isso ainda não bastasse José Rodrigues dos Santos tem-se tornado um dos escritores mais vendidos e comentados da nossa praça. No top dos 10 livros mais vendidos em Portugal em 2006, três deles eram seus. Depois do estrondoso sucesso de “A Filha do Capitão”, “Codex 632” e a “Formula de Deus”, acaba de lançar para o mercado um novo romance que promete correr fazer muita tinta, ao abordar mais temas polémicos: “O Sétimo Selo”, fala-nos do perigo para humanidade das alterações climáticas e do fim do petróleo! Vamos tentar saber mais sobre o homem, o jornalista, o escritor, perguntar aquilo que nunca ninguém lhe perguntou. Não será um trabalho fácil mas vamos conseguir!

Mas não ficamos por aqui. Na nossa sala estará também Elisabete Jacinto. Esta aventureira entrou no mundo muitas vezes ainda dominado por homens e pilotou motas em provas duríssimas de todo-o-terreno nos quatro cantos do mundo. Foi também a primeira portuguesa a participar de mota no Dakkar, sem dúvida uma das provas mais míticas e difíceis. Mas os desafios são com ela e não podia ficar por aqui. Passados apenas 3 meses de ter carta de pesados participou no Dakkar ao volante de um camião. É em 2004 que Elisabete não só se torna numa das primeiras mulheres do Mundo a concluir o rali Paris Dakar conduzindo um camião como se transforma na primeira mulher a ganhar uma especial nesta categoria no Rallye Optic Tunisie 2000. Tudo isto faz de Elisabete Jacinto uma mulher com “M” grande e uma convidada que, com certeza, terá estórias maravilhosas para nos contar.

Escrevam as vossas opiniões e as vossas perguntas aqui no blog, para o mail boanoitealvim@sip.pt ou liguem para o número 21 443 48 52 e entrem em directo na conversa.

Não se esqueçam: é hoje, terça-feira pelas 23h na SIC Radical

Thursday, October 25, 2007

Sábado. Sala das Artes do Fórum Vallis Longos em Valongo. 21.45. Ao vivo " Uma noite para esquecer"


Primeiro pensei que seria melhor não dizer a muito gente como se tudo isto fosse um daqueles segredos que é melhor não revelar antes de perceber o que vai acontecer. Mas depois de melhor pensar, achei que seria palerma se não o fizesse e que nada devo temer quando o espectáculo que irei apresentar se chama “ Uma noite para esquecer”.

E assim, é com toda a pompa e circunstância que revelo que este Sábado, 27 de Outubro, me irei apresentar ao vivo, pela primeira vez, na Sala das Artes do Fórum Vallis Longos com um estupendo número de stand up ou algo muito parecido com isso ou uma conversa animada ou uma simples conversa que ninguém no seu perfeito juízo poderá perder. Reparem que esta pode ser a primeira noite de muitas outras do género ou uma noite única e irrepetível, que num caso ou outro, poderá significar o nascimento de algo ou presenciar por uma única vez um acontecimento com a singularidade deste.

A Sala das Artes do Fórum Vallis Longos tem capacidade para 170 pessoas e os bilhetes só pecam por, quanto a mim, terem um preço que me parece excessivo. Custam 1 euro. Repito, o meu espectáculo ao vivo, custa um euro. Repito de novo: O espectáculo que demorou anos a preparar e que agora é apresentado ao vivo custa 1 euro. É por isso óbvio que não poderão esperar muito. Só assim se compreende que se chame “ Uma noite para esquecer”.

Este Sábado, 21.30, Sala das Artes do Fórum Vallis Longos ( é ao lado da Câmara Municipal). Estarei pois à vossa espera. Até lá.

No meu tempo é que era bom


A grande maioria das pessoas tem muito medo de chegar a velho mas eu com a honestidade que me é reconhecida não tenho medo nenhum. Pelo contrário, estou mortinho por chegar aos 60 e mal vejo alguém com estes anos todos dou por mim a suspirar alto “ Ai quem me dera ter a vossa idade!”. As pessoas com esta idade, pensam que eu estou a brincar – Não diga isso jovem! - Mas não estou, juro que falo a verdade. Houvesse alguém disposto a trocar de idade comigo e assevero que daria o meu fresquíssimo corpo de 33 por um outro de 66. Daí que faça tudo para envelhecer rápido, durmo poucas horas, tenho uma alimentação desequilibrada e não raras vezes, só para ver se adoeço, meto-me à chuva na rua e provoco um deliberado choque térmico quando me abraço literalmente ao aquecedor lá de casa. Nada. Os anos não passam, olho para o espelho e não há forma de envelhecer, sinto-me cada vez mais novo e irrita-me profundamente quando me tratam por “ oh jovem!” quando era tão melhor que me tratassem com a deferência que tem um “ O senhor, não se importa?”. Ninguém me trata por senhor e isso angustia-me. Ou me tratam pelo meu nome, por “ pista!” ou ainda “ Agarra que é ladrão!” mas nunca por senhor, nunca, mesmo que eu use a minha linguagem mais retro pensando erradamente que daí poderia advir uma maior respeitabilidade. Desenganem-se. Ainda outro dia entrei numa pastelaria da Avenida de Roma e disse ao empregado: “ Olhe, apetecia-me um sorvete de cacau, se fizesse a fineza! e o empregado olhou para mim com tal despeito que me vi obrigado a abandonar o estaminé. As pessoas já não percebem o romantismo que está inerente a um “ Dê-me por favor uma limonada!”, já ninguém alcança o poder imensurável de um “ Vamos beber uma gasosa!


Daí que não seja de estranhar que mais do que ter filhos eu gostava era de ter netos pois sinto que nasci muito mais com vocação para ser avô do que para ser pai. E muito mais para ser velho do que novo. E mais depressa jogo um dominó do que o novíssimo Football Manager. Mil vezes prefiro pedir uma ginjinha no Lux do que um vodka maçã. Gosto bem mais de ter um desconto na multiópticas do que usar o Cartão Jovem. Prefiro ir um fim-de-semana em autopsiada ver o Convento de Mafra do que entregar-me à decadência das ruas de Amesterdão onde jamais me darão no final um serviço de louça completo. É mais digno bater palmas na assistência do programa “Praça da Alegria” do que na primeira fila do Royal Albert Hall. Antiquado? Eu? Tenham juízo.

Às vezes, alguns amigos que durante muito tempo não me viram olham para mim e dizem “ Tu estás velho e acabado pá!” e mesmo eu sabendo que infelizmente não é verdade, é tanta a alegria que me transmitem ao dizê-lo que lhes pago imediatamente uma imperial.


De resto, não vejo a hora de começar a dizer a torto e a direito “ No meu tempo é que era bom!” como pronta resposta a qualquer episódio que me possam contar: “ olhe senhor Fernando, ontem a festa foi rija lá na baixa! E eu respondo sem pestanejar “ Não diga nada homem, tenha vergonha, no meu tempo é que era bom! E se puder, prometo que tudo farei para utilizar autocarros em horas de ponta só para que, ao ver que ninguém se levanta para me dar lugar, poder dizer a plenos pulmões “ Esta Juventude! Esta Juventude!”

Thursday, October 18, 2007

Eu não te disse!

Sejamos justos, poucas serão as pessoas que gostem mais de nós do que os nossos pais mas não concordo que estes tenham que ser obrigatoriamente os nossos melhores amigos. Os nossos pais são os nossos pais e está implícito ou explicito – como quiserem – que terão que ser no mundo as pessoas que gostem mais de nós. Ainda me lembro da minha Tia Belinha me dizer: "Olha que os teus pais são os teus melhores amigos, Nandinho!" E eu respondia: "Ora essa tia, mas é claro que não, os meus melhores amigos são outros que não os meus pais! E olhe, já agora, chegue-me aí o doce da abóbora que está tão bom!"

Gosto dos meus pais como se fossem meus filhos e sinto que os meus pais gostam de mim exactamente do mesmo modo: como se fossem meus pais. E são. O meu pai tem o mesmo nome que eu e maldita a hora em que alguém teve esta ideia, porque se chamam por um de nós em casa não são raras as vezes que nos encontramos no corredor a tirar satisfações sobre quem é que chamou quem: Foi para mim? - diz o meu pai. Não foi nada, era por mim que estavam a chamar, aposto contigo. Digo eu. Apostas a quanto? - pergunta o meu pai. E depois disto, colocamos o dinheiro em cima da mesa, olhamos fixamente para as notas e esperamos com dor que nos seja dada a resposta pela minha mãe: "Eu estava a chamar pelo teu pai palerma!" - diz a minha mãe e nesse momento o meu pai deita as mãos ás notas e tal qual uma criança de 5 anos vai aos saltos pela casa toda enquanto grita: "Eu não te disse! Eu não te disse!"

De resto, o meu pai do qual herdei umas fartas sobrancelhas, é o responsável pelo ensinamento mais precioso que alguma vez me foi dado. Teria pouco mais de 3, 4 anos de idade, era já um rapazinho muito bonito e inteligente – um sobredotado diziam todos - mas não havia maneira de conseguir acertar correctamente com os sapatos. O da esquerda invariavelmente no pé direito e o da direita no pé esquerdo. Até ao dia em que o meu pai se chegou a mim e com as suas duas mãos emparelhando os meus olhos muito pequenos e a minha cara agora comprimida, disse: "Filho, ouve o que o teu pai te vai dizer (é impressão minha ou isto está parecido com um episódio bíblico?): "Para que nunca te enganes a calçar os sapatos – disse – primeiro pensa como tu achas que os deves calçar e depois disso, fazes exactamente ao contrário!" - E assim fiz. E assim faço. E quantas vezes uso isto nos meus dias. Não bebo mais a partir de hoje e venha mais uma para a mesa do fundo. Não leio mais o Eduardo Sá porque já não sou nenhuma criança e venham cá malta ler isto que ele acaba de escrever. Não vejo e nem vou a nem mais um jogo do Benfica e por favor dê-me um bilhete ali para a bancada superior norte.

E depois disto, é curioso notar na forma como à medida que vamos crescendo, tendemos a distanciar-nos da sua protecção e mesmo do tratamento que lhe damos, só para parecermos maiores. Deixamos de os chamar de "Mamã" e "Papá" e pela caladinha da noite, sem que notem, vamos encurtando o termo para metade, primeiro usando "pá" e "mã", outras vezes usando o seu nome próprio, e só depois, na última fase, o frio e distante " Pai" e "Mãe" que erradamente optamos como definitivo. De resto, sonho com a minha filha já para aí com uns 40 anos a correr atrás do mim num qualquer jardim público enquanto me diz com indisfarçável vergonha, "Vamos Papá, que essas raparigas já não são para a sua idade!"

Tuesday, October 16, 2007

Boa Noite Alvim com Vanessa Oliveira, Zé Diogo Quintela e António Raminhos








E como quem não quer a coisa, partimos para a quarta emissão da segunda série do Boa Noite Alvim. Fazendo zapping é quase impossível não percebermos a ascensão meteórica de Vanessa Oliveira. Mais de metade da rapaziada da nossa equipa de produção exigiu que a trouxéssemos e com verdade, os salários são tão parcos, que é com mimos destes que conseguimos que não falem à imprensa. Mais: não fugirei à verdade se vos disser que uns assinaláveis 67% dos homens casados desta mesma equipa estariam dispostos a pedir o divórcio ás suas cônjuges, a troco de uma abebia com a estonteante repórter da “Família Superstar”. Dirão os mais atentos, “Então Alvim, e a Cláudia Vieira?” E eu respondo: Tenham calma rapazes que está quase, está quase…!

Ora, a partir do momento em que tivemos a confirmação de Vanessa Oliveira tudo o resto foi muito simples. Ligámos para o grande Zé Diogo Quintela e a única coisa que dissemos ao auscultador foi, e passamos a citar: Vanessa Oliveira. Com a vossa licença eis a reacção deste jovem à proposta: “Uggghhh! Uiii ca bom!”.

Enfim, talvez não tenha sido assim, mas a verdade é que sabendo de quem o iria acompanhar nesta emissão, Zé Diogo, o único elemento dos Gato Fedorento, assumidamente do Sporting e de Direita, não pestanejou para aceitar o convite prometendo que estará ao seu melhor nível.

Assim, perante estes dois achamos por bem juntar um homem de elevada estatura que embora muitos possam ainda não conhecer, nós conhecemos e ainda não percebemos se isso é bom. Na dúvida, convidamos António Raminhos para subir ao nosso mini palco -que nos faz lembrar as minis de verão e em particular o mini chuva de estrelas com a lendária ( que é feito desta mulher?) Margarida Reis.

Ora, se com 3 convidados destes não fazemos um grande programa não acredito que outros os possam superar. Hoje, terça-feira, a partir das 23h, na
SIC Radical, queremos perguntas e opiniões válidas - e também inválidas - para serem colocadas e respondidas em directo. Se houver uma pergunta ou opinião que justifique, que fique claro que irá receber na comodidade do seu sofá, uma genuína garrafinha de Jameson. Infelizmente, sem gelo.

Escrevam aqui, no blog do Boa Noite Alvim ou liguem para o 21 443 48 52.

Vemo-nos logo à noite.

Monday, October 15, 2007


Se há coisas que os homens gostam de fazer quando estão juntos, para além de comentar os seios daquela que vai ali - olha outra, e mais uma, e sabes quem anda metido com ela? E eu uma vez fiz isto e aquilo, e olha-me para aquele par, e a prima, olha-me só para a prima que vai ao lado - é sem dúvida alguma tentar colocar em causa a masculinidade uns dos outros. É uma espécie de jogo, de uma brincadeira congénita, em que todos se divertem ao tentar provar que aquele ali é e passo a citar: “Um grande Maricas!”

Para um homem que se diz heterossexual, não adianta admiti-lo por uma só vez, porque terá que prová-lo até ao final dos seus dias. Eu não imagino como será entre as mulheres, mas entre os homens, ao mínimo corte de cabelo menos convencional já alguém pergunta “Olha lá meu maricas, então não havia lá alguém que te fizesse um corte à homem?” , veste-se um par de calças com algo que não seja de ganga e irremediavelmente ouve-se “ Tu no Intendente é que ficavas bem com essas calças! E olha que ainda ganhavas dinheiro!” Já no bar, alguém tem a ideia de pagar uma rodada de Imperial aos amigos desde que todos se comprometam a bebê-la de Penalty e basta alguém engasgar-se ou atrasar-se a pousar o copo no balcão e já todos cantam “ Cheiras a leitinho, cheiras a leitinho!”. Aliás, qualquer atitude que possa ser menos masculina ou é rotulada com “És um grande maricas” ou “És um menino”. E convenhamos, o que é ser um “menino”?

A vossa sorte é que eu estudo sempre muito antes de escrever qualquer artigo, pelo que as minhas conclusões são o resultado de horas de pesquisa e investigação árdua nas bibliotecas de Oxford e também do insuspeitável Instituto Karolinska, os mesmos que me fizeram chegar à conclusão que há uma grande diferença entre “ser um menino” e por outro lado “um grande maricas”. Para que me entendam: “Um menino” é facilmente apelidado deste modo, por normalmente se associar ao seu acto uma frase que demonstra alguma inocência e porque não dizê-lo, ingenuidade. Por exemplo: Acabamos de jantar e já depois de servida a sobremesa um dos elementos da mesa chama o empregado e diz: - “olhe óhfaxavor, traga-me um bagaço dos seus para todos aqui na mesa que aqui ninguém vai dizer que não” e é aí que alguém, para grande surpresa dos presentes diz: “Eh pá, para mim não me traga que isso faz-me mal ao colesterol!” e depois disto ouvem-se imediatamente toda a espécie de sons colectivos como se o Nuno Gomes tivesse acabado de falhar escandalosamente um golo. Já adivinharam, é aqui que todos dizem “És um menino, és um menino!"

Já “Um grande maricas” é basicamente “Um menino” mas sem expressões tenrinhas associadas. Isto é, faz as coisas sem precisar de dizer rigorosamente nada, o que lhe dá um estatuto diferente mas não obrigatoriamente melhor. Aliás, fica-se até com a ideia de que é mais fácil a uma mulher apaixonar-se por um “mariquinhas” do que propriamente por “um menino”. Atente-se pois nas palavras sábias de Tonicha incluídas no single “Tu és o Zé que fumas”. Diz isto: Tu és o Zé que fumas, tu és o fumador, tu és o mariquinhas (Cá está, cá está!) tu és o meu amor! Isto é, Tonicha mesmo sabendo que o objecto do seu desejo é mariquinhas, não a faz deixar de afirmar - com grande convicção de resto - que se trata do seu amor, o que aqui para nós, não aconteceria se este mesmo amor fosse “um menino".

Tuesday, October 09, 2007

Como esquecer alguém em 5 minutos ou talvez mais um bocadinho




Antes de tudo, há que reconhecer que este poderia ser um belo nome para um daqueles livros que as pessoas oferecem umas às outras apenas e só pelo título e que usualmente se encontram em qualquer bomba de gasolina, no corredor do fundo, lado esquerdo, junto aos jornais. Não interessa o autor, nem se alguma vez se leu alguma coisa, nem se os críticos do mil folhas falaram bem, o que importa mesmo, é a mensagem que o título oferece a quem o recebe. E se depois lá dentro, nas páginas que se refugiam na capa, o conteúdo não for grande coisa, isso de nada importa. Entrega-se o livrinho como se estivéssemos a entregar uma senha de papel com uma mensagem, a fazer olhinhos, para a miúda que está na carteira ao lado: “Vai onde te leva o coração!”, “Fazes-me Falta!” “Não há coincidências” e claro o inevitável “Amo-te”.

Houvesse um medicamento, que depois de tomado nos fizesse esquecer a pessoa que amamos e as farmácias ficariam inundadas de gente à sua procura. Existisse uma operação que nos removesse a parte da memória que nos faz lembrar esse alguém e ficariam enormes as listas de espera para essa cirurgia. Mas não existe. Não há. Não se vende, nem se opera.

Mas pode-se esquecer? Pode. Como assim? Ora, usando uma técnica vulgarmente usada pelos bombeiros para extinguir os incêndios. O lendário truque do “Fogo contra Fogo” que basicamente consiste em lançar outro fogo em direcção ao que vem a arder. Assim, queima-se uma área que ainda não esteja ardida, para que quando o fogo lá chegar nada mais tenha para arder. E é limpinho.

O que há a fazer é queimar o que ainda houver de bom e fazer com que as coisas que estejam associadas à pessoa que queiramos esquecer não nos pareçam assim tão agradáveis. E quando ela – leia-se o incêndio – aparecer, já só resta terra queimada.


E assim, aproveitando esta bonita analogia dos incêndios, é justo revelar que aqui o grande problema é o vento, o vento que pode reacender as chamas. E esse vento, pode ser uma chamada dela – que ninguém atenda o telefone – uma súbita vontade de lhe ligarmos nós, às 4 da manhã com uma voz notoriamente embriagada – apague-se já o número – ouçam, o vento pode ser uma foto dela ainda no quarto – que se guarde isso numa gaveta escura – uma carta que imbecilmente relemos – perigo, perigo! – Aceitar um convite para jantar a dois sob o pretexto de irmos falar sobre o ambiente no mundo – isso é muito arriscado – ir a casa dela rever a primeira temporada dos Sopranos em dvd – que fique claro, ao aceitarem este convite, isto já nem será vento, mas possivelmente, um tornado.



E assim, voltando à perniciosa técnica do fogo contra fogo, o mais importante, é queimarmos tudo à volta sem usarmos um único fósforo. É dizermos “isto é muito bonito e tal, mas eu tenho que sair daqui antes que se faça tarde” e assim, ao não permitirmos recaídas que sabemos que só irão adiar o inevitável, extinguiremos o pouco que vai existindo até que tudo fique reduzido a cinzas, tão frias e inertes, que nenhum vento será capaz de as reanimar.

Monday, October 08, 2007

À noite todos os gatos são parvos





Este espectacular título aqui em cima serve só mesmo para chamar a atenção, pois como decerto terão a oportunidade de verificar não irei fazer uma única referência a qualquer espécie de felino durante a minha dissertação. Esclarecidos quanto a isto, podemos pois avançar.

Falar sobre a amizade é uma coisa muito séria e eu nestas coisas, quando são coisas muito sérias cito sempre o Carlos do Carmo que um dia disse “Um homem sem amigos é um homem sozinho” e sabem que mais? Estava cheiinho de razão.

De entre todos os géneros de amigos que podemos ter, dos melhores aos mais distantes, dos mais generosos e bons ouvintes aos sovinas e raiospartamcomoéqueeupossoseramigodestegajo, há um compartimento à parte, onde incluímos os amigos da noite. E se analisarmos bem, cedo percebemos que logo aqui existe uma atitude diferenciadora em relação aos outros géneros de amigos, quando quase nos vimos na obrigação de fazer este tipo de classificação se questionados : - “Aquele ali é teu amigo?” E nós respondemos: Sim, é meu amigo, mas da noite, entendes? Da noite! Não há aqui confusões”

Supostamente um amigo da noite não é tão levado a sério quanto os outros e se falarmos de um relacionamento que possamos ter iniciado à noite, o estigma a ele associado é ainda superior. Conversa entre mães:

Mãe A: Olhe, Dona Zulmira, não imagina a desgraça que me aconteceu ao meu filho?
Mãe B: Então, mas diga, diga, desembuche mulher.
A: O meu filho chegou-me ontem a casa, diz que está apaixonado por uma jovem, que quer casar, ter filhos e está disposto a largar tudo por ela.
B: Então, mas isso é bom, não vejo qual é o problema?
A: Pois, mas o problema é que ele a conheceu à noite. Ohhh, virgem santíssima!

(Dona Zulmira Desmaia, o público bate muitas palmas e o corpo de Zulmira sai de cena enquanto então esta ainda vocifera: Ai deus credo, da noite não, da noite não! que o seu filho merece melhor sorte senhora Mãe A! Da noite não, da noite não”)

E isto é que me preocupa, mas da noite não, porquê, senhora Mãe B? É suposto que uma rapariga que conheçamos à noite seja uma galdéria, é isso? Uma porca? Que eventualmente seja mais fácil ou permeável a ser seduzida do que de dia? Que mais depressa vá para cama connosco e que entregue o seu corpo a uma valente sessão de sexo muitíssimo saboroso? Que só por estar com os níveis de álcool acima da média convencionada pelo acordo de Shenguen pode eventualmente esquecer-se dos seus puros e castos critérios de selectividade? É isso? É isso? Responda, responda agora se tiver coragem. A senhora ainda está aí? A senhora ainda está aí?

Pois é, não responde. Mas as respostas estão à vista de todos e não é preciso ir muito longe para perceber que a maioria dos cidadãos deste país insiste em pensar que não é possível ter um amigo dos bons à noite. E é. Da mesma forma que os cépticos do costume teimam em não acreditar que podem a essa hora comer um bife tenrinho e muitíssimo bem passado. E podem. E os outros ainda, que a juram a pés juntos que o homem nunca foi à Lua? E foi. E isto para dizer, que os amigos da noite são tão bons ou melhores ainda que os do dia. E são. E que as mulheres à noite produzem-se mais e ficam ainda mais bonitas. E ficam. E que amigo, é aquele que sabe tudo a nossa respeito e, mesmo assim, ainda gosta de nós. E gosta. E que um parágrafo como este pode sempre acabar quando já não sabemos o que estamos a dizer. E pode.