Sejamos justos, poucas serão as pessoas que gostem mais de nós do que os nossos pais mas não concordo que estes tenham que ser obrigatoriamente os nossos melhores amigos. Os nossos pais são os nossos pais e está implícito ou explicito – como quiserem – que terão que ser no mundo as pessoas que gostem mais de nós. Ainda me lembro da minha Tia Belinha me dizer: "Olha que os teus pais são os teus melhores amigos, Nandinho!" E eu respondia: "Ora essa tia, mas é claro que não, os meus melhores amigos são outros que não os meus pais! E olhe, já agora, chegue-me aí o doce da abóbora que está tão bom!"
Gosto dos meus pais como se fossem meus filhos e sinto que os meus pais gostam de mim exactamente do mesmo modo: como se fossem meus pais. E são. O meu pai tem o mesmo nome que eu e maldita a hora em que alguém teve esta ideia, porque se chamam por um de nós em casa não são raras as vezes que nos encontramos no corredor a tirar satisfações sobre quem é que chamou quem: Foi para mim? - diz o meu pai. Não foi nada, era por mim que estavam a chamar, aposto contigo. Digo eu. Apostas a quanto? - pergunta o meu pai. E depois disto, colocamos o dinheiro em cima da mesa, olhamos fixamente para as notas e esperamos com dor que nos seja dada a resposta pela minha mãe: "Eu estava a chamar pelo teu pai palerma!" - diz a minha mãe e nesse momento o meu pai deita as mãos ás notas e tal qual uma criança de 5 anos vai aos saltos pela casa toda enquanto grita: "Eu não te disse! Eu não te disse!"
De resto, o meu pai do qual herdei umas fartas sobrancelhas, é o responsável pelo ensinamento mais precioso que alguma vez me foi dado. Teria pouco mais de 3, 4 anos de idade, era já um rapazinho muito bonito e inteligente – um sobredotado diziam todos - mas não havia maneira de conseguir acertar correctamente com os sapatos. O da esquerda invariavelmente no pé direito e o da direita no pé esquerdo. Até ao dia em que o meu pai se chegou a mim e com as suas duas mãos emparelhando os meus olhos muito pequenos e a minha cara agora comprimida, disse: "Filho, ouve o que o teu pai te vai dizer (é impressão minha ou isto está parecido com um episódio bíblico?): "Para que nunca te enganes a calçar os sapatos – disse – primeiro pensa como tu achas que os deves calçar e depois disso, fazes exactamente ao contrário!" - E assim fiz. E assim faço. E quantas vezes uso isto nos meus dias. Não bebo mais a partir de hoje e venha mais uma para a mesa do fundo. Não leio mais o Eduardo Sá porque já não sou nenhuma criança e venham cá malta ler isto que ele acaba de escrever. Não vejo e nem vou a nem mais um jogo do Benfica e por favor dê-me um bilhete ali para a bancada superior norte.
E depois disto, é curioso notar na forma como à medida que vamos crescendo, tendemos a distanciar-nos da sua protecção e mesmo do tratamento que lhe damos, só para parecermos maiores. Deixamos de os chamar de "Mamã" e "Papá" e pela caladinha da noite, sem que notem, vamos encurtando o termo para metade, primeiro usando "pá" e "mã", outras vezes usando o seu nome próprio, e só depois, na última fase, o frio e distante " Pai" e "Mãe" que erradamente optamos como definitivo. De resto, sonho com a minha filha já para aí com uns 40 anos a correr atrás do mim num qualquer jardim público enquanto me diz com indisfarçável vergonha, "Vamos Papá, que essas raparigas já não são para a sua idade!"
Gosto dos meus pais como se fossem meus filhos e sinto que os meus pais gostam de mim exactamente do mesmo modo: como se fossem meus pais. E são. O meu pai tem o mesmo nome que eu e maldita a hora em que alguém teve esta ideia, porque se chamam por um de nós em casa não são raras as vezes que nos encontramos no corredor a tirar satisfações sobre quem é que chamou quem: Foi para mim? - diz o meu pai. Não foi nada, era por mim que estavam a chamar, aposto contigo. Digo eu. Apostas a quanto? - pergunta o meu pai. E depois disto, colocamos o dinheiro em cima da mesa, olhamos fixamente para as notas e esperamos com dor que nos seja dada a resposta pela minha mãe: "Eu estava a chamar pelo teu pai palerma!" - diz a minha mãe e nesse momento o meu pai deita as mãos ás notas e tal qual uma criança de 5 anos vai aos saltos pela casa toda enquanto grita: "Eu não te disse! Eu não te disse!"
De resto, o meu pai do qual herdei umas fartas sobrancelhas, é o responsável pelo ensinamento mais precioso que alguma vez me foi dado. Teria pouco mais de 3, 4 anos de idade, era já um rapazinho muito bonito e inteligente – um sobredotado diziam todos - mas não havia maneira de conseguir acertar correctamente com os sapatos. O da esquerda invariavelmente no pé direito e o da direita no pé esquerdo. Até ao dia em que o meu pai se chegou a mim e com as suas duas mãos emparelhando os meus olhos muito pequenos e a minha cara agora comprimida, disse: "Filho, ouve o que o teu pai te vai dizer (é impressão minha ou isto está parecido com um episódio bíblico?): "Para que nunca te enganes a calçar os sapatos – disse – primeiro pensa como tu achas que os deves calçar e depois disso, fazes exactamente ao contrário!" - E assim fiz. E assim faço. E quantas vezes uso isto nos meus dias. Não bebo mais a partir de hoje e venha mais uma para a mesa do fundo. Não leio mais o Eduardo Sá porque já não sou nenhuma criança e venham cá malta ler isto que ele acaba de escrever. Não vejo e nem vou a nem mais um jogo do Benfica e por favor dê-me um bilhete ali para a bancada superior norte.
E depois disto, é curioso notar na forma como à medida que vamos crescendo, tendemos a distanciar-nos da sua protecção e mesmo do tratamento que lhe damos, só para parecermos maiores. Deixamos de os chamar de "Mamã" e "Papá" e pela caladinha da noite, sem que notem, vamos encurtando o termo para metade, primeiro usando "pá" e "mã", outras vezes usando o seu nome próprio, e só depois, na última fase, o frio e distante " Pai" e "Mãe" que erradamente optamos como definitivo. De resto, sonho com a minha filha já para aí com uns 40 anos a correr atrás do mim num qualquer jardim público enquanto me diz com indisfarçável vergonha, "Vamos Papá, que essas raparigas já não são para a sua idade!"
hum....bem observado...
ReplyDeleteOnde é que eu já li isto... deve ter sido de manhã no "Metro" ;)
ReplyDeleteBeijinhos
interessante. gostei do conselgho do sr teu pai.
ReplyDelete*
uma filha de 40 anos?
ReplyDeleteeu compreendo a tua dor... ou parte dela... a minha mãe e eu também temos o mesmo nome.
ReplyDeleteSó que tu tiveste mais sorte porque não acabaste com um diminutivo horrível que 21 anos depois ainda está praticamente "colado" a ti...
"Já não são" ou "ainda não são" para a "sua" idade? É que num jardim público, quer-me parecer q não te safavas mto, digo eu...;)
ReplyDeleteMUITO BOM!
ReplyDeleteengraçado... eu também tenho que fazer sempre tudo ao contrário daquilo que penso.... por isso não vou beber esta cerveja nem fumar esta ganza que tenho na mão... ah e não vou cobiçar a mulher do vizinho que tem um cuzão daqueles em forma de coração
ReplyDeleteAlvim no seu melhor....
ReplyDeleteO meu Pai deu-me um cachaço forte uma vez que só aterrei no chão:
- Carago Papá mas este cigarro é de chocolate!!!...
- Tábem, pronto, já fica para quando for um cigarro a sério!
E quando fiz 18 anos, fui ao cinema Coliseu ver o Indiana Jones, e no Intervalo fumamos os dois um SG Gigante! Apartir daquele dia fui adulto!
LINDO!
ReplyDeleteObrigada por me fazeres rir tantas vezes, por me fazeres pensar sobre certos assuntos outras tantas...
Resumindo, obrigada.
Muito bem, mesmo.
ReplyDeleteA escrever melhor, a entrevistar melhor, só tens q ter cuidado para deixar os teus convidados falar, ou corres o risco de ficar a falar sozinho...
Não leves a mal uma crítica (construtiva) de uma mamã (jovem...) que muito te admira!
Bjinhos
concordo com a maria...
ReplyDeleteandas muito falador...:) nao é que seja desagradavel, nós gostamos muito de te ouvir...mas corres o risco de ficar a falar sozinho...
Oh Alvim, para quando o mítico Maurício Zacarias Reinaldo Gomes - também conhecido como no meio como o 'Reinaldo das Doce' - no Boa Noite?
ReplyDeleteLembro-te que esta ex-glória do futebol português (e guineense) comemora 50 anos de vida no próximo dia 2 de Novembro. Seria uma fantástica prenda de anos, tanto para ele como para nós, todos os 5 telespectadores que te veêm regularmente. :)
Ah, e convida também a Laura Gomes...
Não é Laura Gomes, mas sim Laura Diogo. Enganei-me.
ReplyDeleteÓ "Nandinho" cá em casa tb somos todas Anas... Quando alguém nos chama vamos as 3... Acho que a mha mãe chama a isso economia doméstica...
ReplyDeleteeu cá acho que foi falta de imaginação...
Eu comecei a chamar a minha mãe de mããã para economizar sílabas... Mamã tem muitas sílabas... Ou se calhar até tens razão e isto foi a desculpa que eu arranjei para que não fosse tão mau. A verdade é que ela gozava comigo e chamava-me lhaaaa (filha..)
ReplyDeletea parte do texto, que esta bem escrito, eloquente no entendimento, tenho a dizer também, que até a data (e não, não sou uma leitora assidua...vou espreitando) sempre te imaginei rapariga, não sei bem com que idade, talvez com a minha...importa talvez dizer, que ainda bem! dá-me uma satisfação enorme em constatar o contrario, e saber que ainda existem por ai homens capazes!
ReplyDeletesem qq tipo de femeninismo emancipado,
uma leitora
A tua mãe não te chama Fernando...chama-te "Lambão"...continua a ler Eduardo Sá...é meu professor este ano..e é incrivel a capacidade daquele senhor nos deixar embasbacadas com tanta sabedoria...!!
ReplyDeleteBeijinhos
Andreia
Muito bom :-)
ReplyDeleteVou voltar.
alvim, ja li isto no metro...
ReplyDeletevamos lá pá, mais texto original para o blog...o que o pessoal quer são inéditos...força ai! abraço
yooh alvim!!
ReplyDeletequero te agradecer pelo fino que me pagas-te em cantanhede!!
ham ganda noite nao???
abraxo
eduardo
lol... experimenta escrever... sóbrio!!!
ReplyDeletegrande texto, há que concordar em kuase tudo!!!
abraço
Hahahaha.... Logo vi que fazias as coisas sempre ao contrario...se a fazer ao contrario és assim imagino a fazer como quererias fazer hahahaha....Bjkas
ReplyDeleteLOL O teu pai... Aquele senhor tão simpático que de cada vez que me vê, desata a contar as tuas andanças e a relatar os teus projectos!
ReplyDeletePode até não ser o teu melhor amigo mas acredita que é a pessoa que tem mais orgulho em ti. ;)
E que bela lição de moral, hein?
Bom trabalhinho! (Já agora, brigada pelo conselho.)
Beijoca, vizinho***