Friday, January 11, 2013

Blogue Memória VI


O texto que recuperamos hoje foi publicado numa bonita terça-feira de Abril. Corria o ano (que, segundo o Ministro das Finanças, ainda não era de viragem) de 2009. Reza assim:

Deixa-me pertencer à tua guestlist!


Depois dos cartões da casa que deram origem à imortal frase "Não tem cartão, não entra" e depois das zonas vip's com os resultados divisionários que se conhecem, eis que chega a moda da guestlist. E se não se importam, saiam da frente que eu quero ver se tenho o meu nome na lista. A guestlist é a nova moda do movimento nocturno e não existe estabelecimento que já não tenha pensado nisto. E eu estou a pensar nisto. De tal modo, que me encontro a escrever este artigo depois de me inscrever na guestlist de colaboradores da noite.pt. Comigo é assim: Primeiro ligo para a redacção e identifico-me. Qual o seu nome? Perguntam. Fernando Alvim! – Respondo. Vai para onde? de novo questionam. Era para escrever um artigo para a vossa publicação se não se importam! – digo. E posto isto – dada a autorização com um firme "Pode sim senhor, está aqui o seu nome! – começo a escrever. Que é o que estou a fazer neste momento, se me dão licença.

Isto das modas tem que se lhe diga e eu quero dizer. Uma boa moda, para ser boa, não é necessário que se entenda. As melhores, são exactamente, as que não se compreendem. E porquê? Porque as pessoas não gostam de coisas planeadas e sobretudo, não gostam de perceber que se lhes está a impingir uma coisa . Querem não perceber, como muitas das vezes acontece com o amor: Mas porque é que gostas dela? Perguntam. E nós vamos dizendo "Não sei, mas gosto". E a verdade, é que gostamos mesmo. Há muito a aprender com as senhoras que vendem queijinhos no Continente, com aqueles palitinhos, sabem? Elas nunca dizem para comprarmos um queijinho, o que elas perguntam – vejam lá se isto não é verdade – é se queremos um bocadinho? E nós, muitas das vezes queremos um bocadinho sim. Dois. Três. Até nos habituarmos e queremos muitos bocadinhos juntos, que possam formar um queijo. De preferência daquela marca que é bem bom.

Mas voltemos à guestlist. Eu também não sei muito bem o que é que isto vai dar, mas eu também não sei muito bem o que é o twiter e já lá estou. Disseram-me que era porreiro e eu inscrevi-me logo. Eu gosto de coisas porreiras. As coisas porreiras nem são muito grandes nem muito pequenas, são a nossa medida, como aquelas sapatilhas que usamos para grandes caminhadas. Podem não ser muito bonitas, mas não aleijam nos pés. E é isso que importa. Com a guestlist é o mesmo. Pode não ser muito bonito, mas pode ser útil, sobretudo para percebermos se o cliente que quer entrar, está ou não já embriagado. O porteiro pergunta: O senhor, está na guestlist. Em que nome? E ele vai respondendo enquanto cambaleia-a: "Olhe, procure aí Cavaco Silva, o meu nome é Aníbal Cavaco Silva! Ora, obviamente que isto não é verdade, porque sabemos que o nosso presidente não frequenta a movida nocturna e assim a conclusão lógica que se tira, é que este individuo é alguém que já não está em condições. E antes que perturbe a ordem pública, não entra. Aliás, é por causa de exemplos como este que eu proponho, que de agora em diante, se use guestlist em tudo. No roulotte dos cachorros, por exemplo. Ao pedido: Olhe queria uma bifana, por favor. Eis que logo ouvimos: O seu nome está na guestlist? No hospital: Olhe, trago aqui o meu primo, ele precisa de ser operado com urgência, que é um daqueles apêndices aborrecidos, pode ser?. E logo uma voz nos questiona: "O seu nome está na guestlist?". Aliás, há quem diga que o grande problema de Cicciolina, ex-deputada italiana e antiga glória dos filmes alternativos, terá sido exactamente este: ter tido demasiados homens que não estavam na sua guestlist. Mas isso era dantes. Hoje, tenho a certeza, que Cicciolina não dispensaria a sua guestlist. E fazia ela muito bem. Não que diminuísse o número de homens com quem tinha relações, mas pelo menos, sabia os nomes.

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