Wednesday, September 26, 2012

Baixa-Chiado PT Bluestation_Outubro 2012

Declaração de princípios 
ou 
O Senhor Programador diz ao que vem
ou
O outono é uma estação onde também param combóios
ou sopas.


Uma estação de metro pode ser o que quisermos. Uma casa ou uma vida também. Há ruas que só não são mais do aquilo que são, porque não querem e não me venham dizer que não podem. Quem quer pode, mas o problema é que quem pode, às vezes não quer. Eu quero. Quero tudo o que houver no prato, que eu tenho fome e quero provar a sobremesa e quero conhecer o que não conheço e viver o que ainda não tive. Quero tudo, sim, e sei que não peço pouco e dispensaria bem dormir se o corpo a isso não me obrigasse. Não quero dormir. Quero estar acordado e que o relógio pare para que eu possa viver mais um pouco. E não quero mais do mesmo, não quero sempre os mesmos locais, nem as mesmas pessoas, nem as mesmas coisas. Quero, isso sim, peixinho fresco, quero notícias novas, quero conhecer pessoas que me são estranhas e me tirem deste conforto de sofá de domingo. Quero não saber quem é e abrir-lhe a porta, quero não conhecer o sabor e provar, quero não saber para onde me levam e ir como se fosse para casa ter com a mãezinha. E posto isto, quero uma estação que cuide de mim e pareça diferente a cada dia, como se esta fosse uma mulher com um vestido novo, de cabelo apanhado, a olhar-se para o espelho e a sentir-se vaidosa como aquelas mulheres que aparecem na televisão a anunciar cereais que emagrecem muito. Ora, eu quero. E pelos vistos posso – já viram isto? - fazer com que durante o mês de outubro a estação de metro Baixa-Chiado PT Bluestation seja um pouco minha, como se fosse eu a fazer o jantar e a servir à mesa. E o que eu quero é ver-vos a sorver o prato, a repetir de novo, a comentar o quanto estava bom para a pessoa do lado. E ficarei contente se perceber que gostaram e que vieram de novo, mesmo que só de passagem, mesmo porque invariavelmente teriam de vir e passar por aqui. Mas aqui entre nós, eu não quero pensar nada disso. Perdoem-me a franqueza mas eu quero pensar que vieram de facto para ver o que havia de novo, o que fizemos desta vez, o que mudámos para vos causar espanto e surpresa. Não quero ser previsível – não quero não - por mim, serei sempre os números que não saem no euro milhões de forma a que não me adivinhem, por mim serei um dia que não estava a contar, como quem acha uma coisa que se pensara perdida para sempre no meio das arrumações da casa. Quero que o mês de outubro na Baixa-Chiado PT Bluestation seja banho de verão e cama fresca. E é nela, com todos, que viveremos estes novos dias. 

Fernando Alvim

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