Tenho saudades de quando era inocente e a minha cara o revelava em cada gesto. Lembro-me bem de os adultos falarem de coisas à minha frente a pensar que eu era inocente e que eu não as entenderia. E eu debaixo da mesa a ouvir aquilo tudo e a questionar-me se eles estariam bem da cabeça. Eu debaixo da mesa a compreender tudo o que diziam enquanto brincava com os legos, e a perceber que supostamente não deveria estar a entender nada, como se tivesse a ver um filme que não era para a minha idade. Mas estava, embora muitas das vezes com alguma interferência ou com pouca rede, como regularmente acontece em algumas partes da auto-estrada.
O nosso sistema jurídico defende que até provas em contrário, somos todos inocentes, mas a sociedade fora dos tribunais, a da rua e dos jornais, advoga para si que até provas em contrário, somos todos culpados. E porquê? Porque a inocência não vende. Mas a culpa sim.
E sabem que mais? Somos todos culpados por isto e devíamos ir todos presos para aprendermos. Mas não vamos, porque nos declaramos inocentes, como se fossemos pequeninos e não entendêssemos nada do que dizem à nossa volta. Mas entendemos sim e é fácil perceber que a capa de um jornal que declara em letras garrafais que um homem ou uma mulher igual a nós é “Culpado” é muito mais conclusivo do que a mesma capa, com o mesmo homem ou a mesma mulher igual a nós, com as letras grandes a dizer “ Inocente”. A culpa não deixa dúvidas, mas a inocência levanta-as. A culpa é irredutível, a inocência é um processo que nunca está acabado. A capa de um jornal com alguém a declarar-se inocente será sempre olhada com desconfiança como quem diz “ Deve ser inocente, deve!?”, enquanto esse mesmo alguém declarado culpado não suscita a mínima incerteza. Sendo culpado, acabou-se. Sendo inocente, isso é o que se vai ver ainda. Porque a inocência é difícil de provar – tem que haver provas cabais disso, temos que jurar a pés juntos e com as mãos sem fazer figas, prometer por tudo o que é mais sagrado como quando fazíamos quando éramos mais pequenos e nos questionavam se estaríamos a falar verdade “ Juras pela tua mãe que não contas a ninguém ? E nós jurávamos. "Juras por tudo o que é mais sagrado?" E nós jurávamos para saber o segredo que depois contaríamos a outros, fazendo-os jurar do mesmo modo. A culpa não é no entanto assim. Se uma vez é culpado, é para sempre culpado. Mesmo que tenho sido sempre inocente.
O nosso sistema jurídico defende que até provas em contrário, somos todos inocentes, mas a sociedade fora dos tribunais, a da rua e dos jornais, advoga para si que até provas em contrário, somos todos culpados. E porquê? Porque a inocência não vende. Mas a culpa sim.
E sabem que mais? Somos todos culpados por isto e devíamos ir todos presos para aprendermos. Mas não vamos, porque nos declaramos inocentes, como se fossemos pequeninos e não entendêssemos nada do que dizem à nossa volta. Mas entendemos sim e é fácil perceber que a capa de um jornal que declara em letras garrafais que um homem ou uma mulher igual a nós é “Culpado” é muito mais conclusivo do que a mesma capa, com o mesmo homem ou a mesma mulher igual a nós, com as letras grandes a dizer “ Inocente”. A culpa não deixa dúvidas, mas a inocência levanta-as. A culpa é irredutível, a inocência é um processo que nunca está acabado. A capa de um jornal com alguém a declarar-se inocente será sempre olhada com desconfiança como quem diz “ Deve ser inocente, deve!?”, enquanto esse mesmo alguém declarado culpado não suscita a mínima incerteza. Sendo culpado, acabou-se. Sendo inocente, isso é o que se vai ver ainda. Porque a inocência é difícil de provar – tem que haver provas cabais disso, temos que jurar a pés juntos e com as mãos sem fazer figas, prometer por tudo o que é mais sagrado como quando fazíamos quando éramos mais pequenos e nos questionavam se estaríamos a falar verdade “ Juras pela tua mãe que não contas a ninguém ? E nós jurávamos. "Juras por tudo o que é mais sagrado?" E nós jurávamos para saber o segredo que depois contaríamos a outros, fazendo-os jurar do mesmo modo. A culpa não é no entanto assim. Se uma vez é culpado, é para sempre culpado. Mesmo que tenho sido sempre inocente.
Esse provérbio não é velho já? É. Já estamos fartos dele? Já. Mesmo assim vais dizê-lo? Vou.
ReplyDeleteQuem mais jura mais mente.
E a culpa, essa, é de quem acredita.
Olá, tudo bem?
ReplyDeleteA inocência das crianças é singular e a forma simples como encaram a vida faz com que muitas vezes nos nós nos sintamos uns grandes burros, pois complicamos tudo. É pena que com o crescimento a inocência se perca...
Já com os adultos infelizmente a coisa não é nada bonita pois as pessoas em geral tem o péssimo hábito de julgar sem antes se inteirarem de todos os factos e/ou ouvir todos os intervenientes, e depois o "triste" em questão fica com uma nuvem negra a pairar para todo o sempre sobre a sua cabeça e nada que faça a fará dissipar.
Temos por outro lado os culpados que fazem coisas impensáveis, não tendo em conta as consequências, no sentido de que a dúvida subsista, pois vivem bem com ela dada a sua falta de consciência. Sendo muitas vezes a culpa imputada a um inocente que estava no sítio errado à hora errada e mais a jeito.
Hoje em dia são poucos os que assumem aquilo que fazem e que estão dispostos a arcar com as consequências e ainda mais raros aqueles que não julgam pelas aparências.
Excelente reflexão/texto.
Um beijo, fica bem,
Susana (de Águeda)
P.S.: Uma sugestão de tema para a Prova Oral do dia da criança. Porque é que não levas lá alguém que nos possa dar uma luzes de como responder aos nossos filhos quando eles nos fazem aquelas perguntas hilariantes mas muito sérias como "Ó mãe o que é sexo?" (que foi a última que o meu filho me fez), perante as quais ficamos perplexos e a pensar "e agora como é que saio desta?!"
Como se "tivesses" a ver um filme, Alvim? Vai lá mudar aquilo, anda...:p
ReplyDeleteMeu Deus, eu também já fui para debaixo da mesa... Meu Deus, e quem é culpado por ser inocente?
ReplyDeleteEu acho que, ainda hoje, a tua cara revela essa inocência que falas e não estou no gozo - nem no sentido abrasileirado do termo -.
ReplyDeletePosto isto, vou lolipar para outro lado
Lolita
No meu tempo dizia-se: "quem mais jura, mais mente." E olha que não está muito longe da verdade!!
ReplyDeleteSó agora reparei que vais a Évora dia 18 de Março! Pois lá estarei...
Grande verdade, Alvim!
ReplyDeleteInfelizmente é uma grande verdade. E tanta gente inocente que tem sido estigmatizada e assim ficará para o resto da vida...
Beijinhos,
Teresinha
Sábias palavras...
ReplyDelete=)
*
Alvim... Quando brincavas com os legos ouvias conversas de adultos?... Nós aqui na faculdade, numa forma mais académica fazemos maquetes e ouvimos-te a falar de sexo a toda a hora. O resto falamos entre nós.
ReplyDeleteP.S.: Essa imagem só me faz lembrar uma coisa, um estridente:
-Bravo Alvim, Bravo!
Seguido de um reticente:
-Bravo não! Palavra do senhor!