Monday, March 31, 2008

3ª Edição do Freak show da Prova Oral em Coimbra. Dia 3 de Abril. 22 horas. Entrada Livre.












Depois do retumbante sucesso da primeira edição no Santiago Alquimista em Lisboa e da segunda na Tertúlia Castelense na Maia - com José Cid a sair literalmente em ombros - eis que está de volta o freak show numa imponente e avassaladora terceira edição, que desta vez se realiza em Coimbra. Na Discoteca Ar de Rato. Esta Quinta feira. Às 22 horas. Com entrada livre. Repito: Entrada Livre.





E assim, o que urge dizer é que não há memória de tão luxuoso cartaz para uma cerimónia destas. Para começar, teremos poesia com o célebre Sarapitolas que os amantes de Coimbra conhecem bem. Depois, o audaz faquir Stephano que desde novo deu uma nova utilidade às facas da cozinha. Também a pura e casta Lili que presenteará a assistência com uma inesquecível – digo eu, digo eu – sessão de striptease e os não menos incríveis beatsboxers que apesar de ainda não terem um nome totalmente definido - pronto, não há nome ainda! - são já considerados por muitos como a maior revelação de toda a ria de Aveiro. Segue-se Alexandrino com uma sessão de hipnose que nunca ninguém sabe bem o que será e, Rita Cardoso, vencedora da edição 2000 do Festival Termómetro, que traz temas novos para apresentar pela primeira vez ao vivo. A ela se seguirão exímios intérpretes do fado de Coimbra -silêncio agora por favor- que no final da sua actuação se cruzarão seguramente com o Encantador de Serpentes que subirá ao palco. Sim, leram bem, vou até escrever com letras grandes: ENCANTADOR DE SERPENTES. Finalmente, o promissor João Gentil fecha a edição do Freak show com uma actuação que se prevê histórica.





Estamos conversados portanto. Fazendo um resumo como nos fazia a professora primária para não nos esquecermos. Eis o que importa para já reter: 3ª Edição do Freak Show. Ar de Rato em Coimbra. 22 Horas. Entrada Livre. Avisem-se uns aos outros e cheguem cedo se quiserem ver isto nos lugares da frente. Eu serei o apresentador da cerimónia que posteriormente será difundida na Prova Oral. Acho que não preciso de dizer mais nada.

Saturday, March 29, 2008

David e Rita Red Shoes no Boa Noite Alvim



Esta semana no Boa Noite Alvim juntamos um actor anão e uma cantora que se agiganta a cada semana que passa. O anão só podia ser o David. Não é não que existam mais – existem pois – mas o David para além de manter relações de amizade com a grande maioria da equipa desta equipa e em particular com o lindíssimo apresentador deste programa que está igualmente a escrever este post, tem um humor muito – como direi – homicida. É mesmo isso quando David com a sua voz olha em volta e diz “Tenho fome!” é difícil não percebermos que temos que imediatamente lhe arranjar comida sob pena de algum de nós perder a vida. Este é David, o habitante mais conhecido do bairro alto, mas também actor, mas também bailarino, mas também anão, possivelmente, o anão com mais graça que conhecemos.

Depois, Rita Red Shoes. A artista de que se fala e se falará – a nosso ver – durante muitos anos mais, porque não nos parecer nada que vá ficar por aqui. Agora que decidiu erguer a cabeça por detrás das teclas onde se refugiava nas actuações de David Fonseca, ei-la em nome próprio, de pé, sem ser atrás daquele piano que foi escondendo o rosto de uma das mulheres mais bonitas do momento. Se não acreditam, vejam-na ao lado dos dois monstros que estão a acompanhá-la em estúdio. Rita lançou o seu primeiro disco.Chama-se “ Golden Era”

Saibam por isso que podem e devem fazer os vossos comentários a esta emissão e deixarem já perguntas para a próxima, que terá como convidados Rui Reininho e Beatriz Batarda. O primeiro, mítico vocalista dos GNR e a segunda, uma das maiores actrizes que este país alguma vez já teve. Aceitam-se perguntas pois e já agora se quiserem entrar em directo saibam que para o fazerem terão que ter uma simples webcam para interagirem connosco. Enviem os vossos dados ( Nome, idade e contacto) para: boanoitealvim@sic.pt e esperem pelo nosso contacto.

Este Domingo, a partir das 23 - já com com dias a saberem a Verão que isto da mudança da hora é coisa boa – não percam David e Rita Red Shoes no Boa Noite Alvim. Na Sic Radical.

Thursday, March 27, 2008

Ouvidos Moucos







Vou já dizendo para arrepiar caminho, que não tenho medo nenhum de morrer. Vamos cá ver: ter até tenho, porque morrer significa um apagar de luz que não estou preparado – nem nunca estarei, aqui vos digo –, mas o que eu tenho mesmo, é medo de fazer sofrer enquanto morro. Quando morremos há muitas pessoas que morrem connosco e é a pensar nelas que não quero. Não quero que pessoas que tanto gosto morram comigo por saberem que morri. Daí que quando me dizem "olha que a continuares assim, vais morrer sozinho!", eu invariavelmente suspiro como se fosse um sonho bom. E porquê? Porque não quero que na altura de morrer, ninguém esteja comigo.




Pelo contrário, faço questão que quando o pressentir tenha fôlego suficiente para dizer a quem está próximo "Olha, parece que estão ali a chamar-vos lá fora, se não se importam deixem-me agora um pouco sozinho que eu quero aqui fazer uma coisa que não podem ver!" e posto isto, aproveitando a ausência que sei ir ser curta, morro ali num instantinho. Assim, de repente. Sem sofrer nada e sem fazer sofrer. Como se saíssemos de manhã para comprar cigarros e não voltássemos. Ficávamos a meio do caminho entregues a um momento que deve ser nosso, apenas e só, nosso. Mas não é. E cada vez mais percebo que todos querem estar presentes na hora da nossa morte quando muitos deles o deveriam ter feito em vida. Dispenso pois os aplausos que saberei não ouvir – aplaudam-me agora – dispenso pois flores – dêem-me agora – poupem-me os elogios "Que era bom rapazinho! Que deixará saudades! – falem-me agora enquanto vos ouço pois quando estiver reduzido a cinzas não ouvirei patavina do que me dizem. Mas não. Pelo contrário, quando estamos a morrer – e eu espero estar muito longe disso – é usual dizerem "Ele está a morrer, não posso o deixar sozinho" -, quando afinal – para mim por exemplo – é tudo o que quero.




Por mais que nos custe, nos funerais as pessoas falam umas para as outras e não para quem morre, tal qual muitas mulheres se vestem umas para as outras e não para os homens. A morrer – e esse dia virá por mais que me custe – gostaria apenas de pedir um último desejo. O de estar vivo, apenas e só, para assistir à minha morte. Que mórbido, dirão! Pois que o seja, ora essa, mas quando vamos morrer somos pequeninos de novo e tal qual o aniversário de uma criança muito pequena tudo nos deverá ser permitido. E assim – pensando bem – é legitimo o que peço. Viver apenas o tempo suficiente para assistir à minha morte. O tempo suficiente para perceber quem me chora com igual intensidade à que eu chorei quando o Veloso falhou o penalty frente ao PSV Eindhoven. Só peço isto – respeitem-me pois- perceber quem ali foi e que eu já não via tanto tempo só para comentar em tom baixo "ainda ontem liguei àquele sacana para irmos para os copos para o Bairro e disse-me que estava cheio de trabalho e agora é isto, olha para ele ali como se não tivesse nada para fazer!" Quando morre alguém, de repente, as pessoas ficam sem nada para fazer. Daí que não vá a funerais ou que os evite a todo o custo porque quero chorar e rir com quem é vivo, fazer-lhe uma última homenagem todos os dias como se fosse o primeiro e não o último. Bater-lhe palmas em vida, dizer "És o maior! Gosto de conversar contigo pá!" na certeza de que a pessoa ouvirá o que lhe digo. De lhe telefonar a dizer "era só para saber se estavas bem, pois não tenho novidade alguma" de lhe escrever ou enviar uma mensagem revelando que a festa está boa "Mas que não é a mesma sem ti". Depois de morrer – e esse dia virá pois então – só ouvirei palavras e sentirei os gestos que me tenham sido dirigidos ainda em vida. A tudo o resto – só por perrice - faço questão de fazer ouvidos moucos.

Wednesday, March 26, 2008




Eram um dos sonhos da minha vida e finalmente aconteceu. Fui entrevistado para uma revista de moda interior. Chama-se Chick Intimate Cult e sabem que mais? Está bem feita. Tal qual a Isabel Figueira que aparece na capa.


ENTREVISTA FERNANDO ALVIM

Fernando Alvim, homem dos sete ofícios, genuíno entertainer

CK: Que relevância dás às peças de moda íntima na globalidade do teu vestuário e quais as tuas preferências a nível de modelagem, cores e materiais?
Alvim: Dou muita importância. Com verdade, visto-me melhor por dentro do que por fora. Não é de ânimo levo que muitos dizem que eu tenho um bonito interior. Os meus boxers são sempre escolhidos criteriosamente. Gosto de cores garridas e fluorescentes para ser visto no escuro, porque já fui confundido e isso trouxe-me dissabores. Uso boxers negros nos funerais - em sinal de luto profundo e brancos nos casamentos. Sou incapaz de usar a cor azul no fim-de-ano. Não entro nessas superstições e essa cor faz-me lembrar um clube qualquer da norte, não estou a ver bem qual.

CK: És o tipo de homem que compra o seu próprio vestuário, e em consequência também o teu próprio underwear?
A: Às vezes não. Gosto muito quando uma mulher me compra roupa interior a pensar em mim. Gosto que de perceber que ela esteve a pensar no meu corpo, a pensar nas medidas do meu corpo, para me dar aquela peça de vestuário. A pergunta impõe-se: Em que pensará um mulher quando escolhe uns boxers para mim?

CK: Que grau de influencia pensas que acabam por ter as mulheres na escolha do homem em termos de algo tão íntimo como o underwear?
A: Muita. toda. São basicamente as mulheres que escolhem a minha roupa interior. também gosto de roupa interior que roubam dos estendais da vizinhança. Acho muito giro e até romântico. Ainda outro dia percebi que andava há mais de um mês a usar uns boxers muito engraçados do meu vizinho da frente. Desafortunadamente, encontramo-nos num urinol próximo e fui apanhado. É claro que os devolvi.

CK: Quais as peças que consideras essenciais no guarda-roupa masculino?
A: Boxers, meias, uma sweat, uma t-shirt, uns ténis, uma casaco com estilo e uns jeans comprados na candonga, daquelas marcas porreiras tipo: Mike ou Elvis Strauss. São das minhas marcas favoritas.

CK: Como gostas de vê-las vestidas?
A: Não gosto, mas quando tem que ser prefiro que usem saias e vestidos. Caramba, será que as mulheres ainda não perceberam que por serem mulheres podem fazê-lo . Já pensaram na quantidade de homens que gostariam de usar um vestidinho ou uma saia cintada e não podem. Eu, por exemplo, gostava muito de, de vez em quando, usar um top justinho e chamar-me Isabel mas tenho medo que me gozem. As pessoas nestas coisas são muito ruins.

CK: E a nível de moda íntima, quais as tuas preferências a nível de modelos, cores, materiais?
A: Vejo tudo e quando não posso ver em directo, ponho a gravar. Tenho cassetes e cassetes só de moda íntima e também de anúncios. Um dos meus preferidos era com a Adriana Karembeu (n.r. na campanha da Wonderbra). Gosto tanto dela. Tem um par de olhos tão bonitos! A nível modelos gosto muito das brasileiras, mas também das checas e das polacas. E das finlandesas. E das portuguesas, sobretudo destas últimas. Gosto de cores suaves e discretas. Materiais gosto que sejam pouco resistentes, que sejam bons para facilmente rasgar.

CK: Finalmente, como te auto-defines?
A: Sou um ser maravilhoso, bonito, inteligente, sensível e com outras características que fazem de mim uma das pessoas mais singulares de todo o mundo. Já não é a primeira vez que besunto o espelho ao ver nele, reflectida a minha imagem.

Saturday, March 22, 2008

Juntos à noite


Existem dois propósitos para sair à noite: Deliberadamente para beber uns copos e outra para ver umas miúdas. Às vezes saímos com estas duas intenções mas é muito raro. As mulheres por exemplo são bem mais capazes de saírem umas com as outras na onda ' Party girl' mas com os homens é fácil perceber que não é assim. Para começar se nos juntamos muitos – e aqui leia-se uns 4 - é certinho que ficamos à porta. Depois, porque sabemos que não nos iremos divertir sem elas. Esperem lá, não é que não nos consigamos divertir apenas connosco – conseguimos pois – mas ninguém está a ver quatro rapazes a dizerem 'É a nossa festa! É a party boy, somos muito malucos!'. Desenganem-se, os homens não entram nesta. Se estamos 4 rapazes juntos, o mais provável é acabarmos num tasco a beber umas jolas ou então numa esplanada onde entra toda a gente. Aliás, se esta já era uma das grandes vantagens das esplanadas – o facto de entrar toda a gente porque o ar é de todos e não há porteiro – a estas veio juntar-se uma outra: nas esplanadas, não há inibição alguma de podermos fumar. De resto, antevejo que aquelas discotecas que possuem o espaço exterior apenas para o Verão, já decerto terão percebido que este local pode servir para a rapaziada da fumaça se entreter e olhar para a piscina.


De resto, as diferenças entre as mulheres e os homens a este nível são tão grandes que eu nem sei por onde começar. Mas porque sei que de mim esperam qualquer coisa – e não deviam - posso avançar que só as mulheres têm um hino para sair à noite quando estão juntas. Um hino, ouviram bem. E esse hino é a música das Amarguinhas. E sim, devem haver muitas mulheres a ler isto e a franzir o nariz enquanto dizem que eu não sei do que falo, mas eu estaria disposto a apostar com cada uma delas – e aposto aqui a uma sessão de sexo bem saboroso- que em algum momento na vossa vida, já se juntaram as 4, dentro de um carro, a cantarem esta música. E porquê? Porque apela à vossa essência, ora essa. Reparem na letra: 'Meninas hoje vamos sair, Just girls vai ser só curtir, Veste uma camisola amarela, Espera-me juntinho à janela!' Se virem bem, quando adaptada ao universo feminino, a coisa soa bem, agora se a mesma música for direccionada para o público masculino os contornos que poderá ganhar, são no mínimo esquisitos. Não custa nada fazer este exercício. Vamos pois a isto: Meninos hoje vamos sair ( em 33 anos de existência nunca ouvi homem algum a dizer tamanho dislate) Just Boys vai ser só curtir ( é impressão minha ou isto está perigosamente a descambar para o outro lado?) veste uma camisola amarela ( e pintar as unhas, não? E uma saia justa que ninguém nota? E uma camisola cor-de-rosinha não seria melhor ainda?) Espera-me juntinho à janela ( ahh? O quê? À Janela, mas por quem me tomam? ) E pronto, acho que não é preciso analisarmos mais.


Depois, mesmo ao sair, as raparigas fazem questão de ficar juntas a noite toda, enquanto que os homens – Deus nos livre – só ficamos juntos se estivermos acorrentados ou coisa assim. Isto é, eu não sei se isto será fácil de entender para muitos, mas se é verdade que as mulheres saem em grupo à noite para estarem juntas, nós saímos à noite em grupo para estarmos precisamente separados, porque sinceramente temos mais que fazer 'olha aquela ali!'. E tudo por uma questão de quase sobrevivência, porque enquanto 4 raparigas juntas a dançarem em cima de uma coluna constituem uma imagem bem atraente e gostosa, já 4 rapazes a fazerem o mesmo só podem estar muito perto de uma coma alcoólica. Daí que seja muito frequente que as raparigas dêem as mãos nas discotecas que estão muito cheias para não se perderem, enquanto será no mínimo bizarro vermos quatro matulões de mãozinha dada em igual situação, se é que me faço entender.


E só assim se percebe, que muitas sejam as mulheres que finda a noite, combinem entre si dormirem juntas e achem isso muito bom. Enquanto para um homem, combinarem dormir juntos no final da noite, só pode significar que estão numa despedida de solteiro, muito longe de casa.

Thursday, March 20, 2008

A vida vista aqui de cima


De cada vez que me apanho no alto de um avião e olho cá para baixo da janela, penso na vida. Na minha e na dos outros, na vida em si, nua, tal qual veio ao mundo, como se estivesse nos instantes antes de entrar na banheira para um duche. Um frio de rachar cá fora, e nós ali com as mãozinhas a ver se água já está quente ao ponto de podermos entrar sem receio. E o que dali vejo – ainda do alto do avião - não é muito diferente de uma cidade Playmobil, com casas feitas de Lego e pessoas a quem já vão faltando peças. Carros a andarem muito devagarinho e imponentes fábricas que daqui me parecem estar ao alcance de uma rajada de vento. E sabem que mais? A vida não é muito diferente de uma cidade Playmobil. Acho até, que quando nascemos nos é dado um tabuleiro com as peças deste jogo e nos dizem “ Toma rapazinho, agora faz-te à vida e tenta encaixar todas as peças que aqui estão. Se o conseguires terás terminado com êxito o jogo que te era proposto. E isto é a vida. Não mais do que isto, meu bom rapaz! E agora adeus que tenho mais que fazer” E enquanto vai desaparecendo nos céus, este espécie de super-herói do Serviço de Entregas Rápidas vai olhando para trás enquanto repete as frases, com a voz colocada como se estivesse a representar uma peça do Shakespeare: “E isto é a vida! Não penses que é mais do que isto! Junta as Peças! – a voz começa a diluir-se no espaço! - Junta as peças! - O superheroi cada vez mais longe - Junta as Peças! – na verdade, a distância é tanta que já só se torna perceptível a palavra “peças” mas advinha-se que as outras serão “Junta as”.

E posto isto, com o jogo na mão, fazemo-nos à vida como se estivéssemos prontinhos a ir para o mar em dia revoltoso. De resto, se a vida fosse uma coisa tão boa, não era olhada com esta desconfiança. Esperem lá, a vida é uma coisa boa – pode até ser muito boa - mas existe em nós um receio em relação a ela que é muito semelhante ao que sentimos quando emprestamos dinheiro a alguém que não conhecemos bem. Com um pé atrás. Ou com dois. ou três, se os tivéssemos. Reparem só, não deve ser à toa que os pescadores quando se preparam para ir à pesca, apagam o cigarro na areia, fecham o casaco até cá em cima e dizem “Bem, vou fazer-me ao mar”.Ou então, se preferirem, ainda em tenra idade mas no auge da afirmação da masculinidade, quando somos confrontados com uma provocação verbal de um qualquer betinho com camisa aos quadradinhos, é natural que alguém diga “Faz-te a ele, pá! E assim é também com a vida. E por isso se diz “Faz-te à vida” no mesmo tom de faz-te ao mar, de faz-te a ele, de faz-te galp. E assim por diante, como se fôssemos rompendo o mar. E isto é a vida. Não contem com mais do que isto.

E assim, há quem consiga construir a sua cidade Playmobil, encaixando peça sobre peça, dando sentido a cada lego, percebendo que ali só pode ser aquela e não nenhuma outra, mostrando, radiantes, como conseguiram ser fiéis ao plano que lhes haviam anexado desde o início e que tinham visto num anúncio na televisão. Uma fotografia a cores, tirada de cima, a mostrar como tudo deverá ser, tal qual o papel de instruções de montagem de um qualquer armário do IKEA. E posto isto, outros há que perdem peças ou que se esquecem de que não era ali que as deveriam ter colocado ou que perdem o sacana do papel que ainda agora aqui estava ou que deliberadamente inventam na certeza de que assim também vai dar. Ou então, que comem peças tal qual uma criança as leva à boca. Para esses, a vida será bem diferente de uma cidade Playmobil. E isso, pode ser bem melhor.

Thursday, March 13, 2008

Medo de ser maior



Existe um complexo de inferioridade em Portugal que se manifesta num medo de ser maior. O português sente-se confortável em ser mediano e só quer ser o maior para o livro do Guiness. No livro do Guiness, o Português não receia em ser grande e são muitas as iniciativas que dão conta dessa nobre intenção. Ora porque se trata do maior ajuntamento de Pais Natais do mundo ou porque há uma sandes de courato que dá a volta ao mercado da ribeira.




Se há um português que por azar revela publicamente 'Que quer ser o maior do mundo' essa intenção é invariavelmente seguida de um comentário jocoso tipo 'este gajo deve ter a mania!' E eu pergunto: 'Que mal tem em ter a mania de ser o maior do mundo?' repito: 'Que mal tem – e agora apetecia-me dizer aqui um palavrão – em ter a mania de ser o maior do mundo?' Eu não vejo mal nenhum nisso, pelo contrário, deveríamos ter todos esta mania, de não nos encolhermos tanto quando percebemos que é muita a concorrência, de não fugirmos tanto quando deparamos com o gigantismo do adversário, de não nos amedrontarmos tanto por ter muita gente à frente. Que mal tem – e como ficava aqui tão bem um palavrão – querermos ser os maiores? Devia até ser um hábito. Uma característica inata a todos nós, bastando para isso que não nos contentássemos com pouco.




E em vez disso, o que acontece? Damo-nos por contentes com um terceiro lugar que o que interessa foi ter participado. Que não ganhamos mas obtivemos a vitória moral. Que a nossa imagem ficou mais uma vez defendida sem que no entanto, tenhamos ido ao pódio. E não pode ser? Não, não pode. Se estamos empatados – e não estou a falar de futebol - não faz sentido defender o resultado. Temos que atacar – outra vez o palavrão - temos que asfixiar o adversário e só a vitória importa – mais um – temos que fazer entender aos outros que se estamos ali é para ganhar e ficar em primeiro. O segundo lugar já é bom? Não, não é. O terceiro é bom? Não, é pior ainda.


E então, qual é a solução para isto? É muito fácil, o português não pode nunca olhar para trás antes de cortar a meta. E assim, enquanto o intrépido animador diz 'Palminhas, palminhas, palminhas, é para a SIC, é para a SIC, é para SIC' na recta do Mindelo, o melhor é fazer pela vida, dar corda aos pedais e esticar o pescoço para o photo finish.




O resto, não interessa. O adversário temos que ser nós, não podemos estar à espera da desinspiração dos outros, dos falhanços dos outros – neste momento ouve-se já o som dos violinos em crescendo e Rock Balboa sobe a trote a longa escadaria – Portugal tem contar apenas consigo e nunca olhar para trás – 'Palminhas, palminhas!' – se estamos atrás temos que estar na frente, se a bola vem no alto não podemos estar à espera que a mesma não seja interceptada antes – o som de Eye of the Tiger que se faça ouvir – que nós sejamos o antes e nunca o depois, que o país aposte tudo na antecipação em vez de: Olha que sorte, a bola veio ter comigo! Que sejamos sempre o antes, o antes ouviram bem? Que nunca olhemos para trás quando estamos em terceiro lugar porque de certeza que os adversários não terão desistido para ir comer uma tosta mista, que sejamos o antes – repito – que nunca por nunca olhemos para trás antes de cortar a meta, antes de marcar golo, antes de perdermos a aposta, o desafio, o que quer que seja. Que nunca olhemos para trás vos digo – e agora ficava tão bem aqui um palavrão.

Tuesday, March 11, 2008

























O amor é tal e qual uma pessoa que chega muito tarde a casa. Primeiro, pressente-se-lhe os passos a subir as escadas, depois o destro espernear na fechadura e sem que ninguém acorde, eis que se junta a nós com os seus pés frios, no corpo quente que o aguarda.

Thursday, March 06, 2008

Os Melhores



Os melhores cantores são os bêbados, os melhores cabeleireiros são os larilas, os melhores taxistas são os que dizem “No tempo do Salazar é que era bom”, o melhor cigarro é o primeiro do dia, o melhor carteiro toca sempre duas vezes e uma delas é na nossa mulher, o melhor leitão é o da Mealhada, a melhor Miss foi a Helena Laureano mas já foi há muito tempo. Os melhores filhos são os nossos, os melhores pilotos são aqueles que já caíram uma vez ou outra mas sem importância, os melhores filmes nunca ganham os óscares, a melhor festa é sempre aquela a que não vamos, as melhores evasões são as fiscais. Os melhores árbitros são aqueles que conseguem roubar mesmo à frente do nosso nariz, as mulheres mais bonitas são sempre as dos outros, as melhores mercearias são as mais careiras, os alunos de maior talento são os que não estudam nadinha, os melhores políticos são os que se fazem aprovar tal qual uma lei.

Os melhores artistas são os que vivem na penúria, os maiores génios são os que obtiveram reconhecimento depois de morrer, a melhor notícia é a de abertura, o melhor do mundo foi o Pele. Os melhores momentos são aqueles que não estávamos mesmo a contar, o melhor do dia foi isto agorinha mesmo, o melhor orgasmo “desculpem mas não posso dizer!” a melhor caneta é aquela que não escreve no exacto instante em que precisávamos dela, o melhor lápis é aquele que desaparece no momento em que alguém do outro lado da linha nos diz “Quer apontar o número?” e nós do outro lado” Quero pois, estou só aqui à procura de um lápis que deve estar por aqui, é só um bocadinho se não se importa, porra para a porcaria do lápis que não aparece, oh querida viste o lápis? A melhor comida é a lá de casa, o melhor calor é o do Inverno, a melhor namorada foi a primeira, o melhor jogo foi aquele 6 a 3, a melhor fundação é a que faz lavagem de dinheiro, o melhor ladrão é o que rouba aos ricos para dar aos pobrezinhos, o melhor pudim- e agora cantemos todos juntos - "É pudim Danone! Não pares!Não pares!É pudim Danone!" - o melhor nariz é do Júlio Isidro, a melhor caldeirada é a que estamos metidos, o melhor número suplementar é o do totoloto, o melhor domingo é aquele em que passamos a ver filmes deprimentes deitados no sofá, o melhor tempo é o tempo da outra senhora, o melhor de tudo é termos saúde, a melhor série foi o verão azul, a melhor jornalista é a Clara de Sousa quando vem com uma saia curtinha, a melhor linha foi “Bingo!”.


A melhor mãe é a nossa, a melhor frase é aquela que nunca te disse, o melhor orvalho é o da manhã pela fresquinha, as melhores previsões meteorológicas eram as do Anthímio de Azevedo. Os melhores doces eram os da avó, a melhor canja é a de galinha, o melhor vizinho é aquele que só chama a polícia por volta das 2 da manhã, as melhores multas são as que são amnistiadas com a vinda do Papa, a melhor revolução foi o 25 de Abril, os melhores desenhos – com excepção da animação com bonecos de plasticina da Bulgária – eram os do Vasco Granja, a melhor aposta era a “ai que me esqueci de preencher o boletim!”, o melhor médico era o de família, as melhores compromissos são os inadiáveis, o melhor número será sempre o 115. O melhor partido é “aquela rapariga que é de boas famílias, filho!”, o melhor sindicalista foi o Torres Couto quando tinha bigode. A melhor noiva é aquela que chega mais de meia hora atrasada, o melhor aumento já foi há muito tempo, os melhores recibos são os verdes, o melhor da minha rua, sou eu.

Monday, March 03, 2008

Saudades do Verão















A melhor entrevistadora da imprensa portuguesa chama-se Helena Teixeira da Silva. E digo isto porque se percebe que Helena faz boas perguntas mesmo a pedir boas respostas. E basta ler cada uma das entrevistas para o perceber. Esta semana, o convidado da última página de Domingo do Jornal de Noticias, é o meu bom amigo Bruno Nogueira (http://jnverao.blogs.sapo.pt/21913.html). No Verão passado, enquanto estava de férias na maravilhosa Quinta de Sto António (http://www.quintasantoantonio.pt/) em Tabuaço, muito perto da Régua, fui eu. É essa entrevista que eu recupero aqui. Talvez, por me ter lembrado que estou com saudades do verão. E não são poucas.


Helena Teixeira da Silva
Está de férias na Régua. Ao telefone diz preferir responder por mail, mas não tem a certeza se, em pleno Douro, conseguirá aceder à internet. Conseguiu. Fernando Alvim, 33 anos, mais de dez anos de currículo radiofónico e televisivo, continua a ser considerado um dos mais promissores comunicadores.

Tony Blair foi capa da última Men's Vogue; Caetano Veloso da última Rolling Stone. O primeiro foi melhorado pelo Photoshop para parecer um homem saudável; o segundo surge com rímel e outros adornos femininos, vá lá saber-se porquê. Qual inveja mais?
O Caetano Veloso, porque está a atravessar a fase “ Ney Matogrosso” e toda a ajuda é pouca. Para além disso, penso que não haverá dúvidas em relação à diferença de notoriedade das duas publicações, a men’s vogue é uma espécie de “ Ana + atrevida” a Rolling Stone é para homens com barba rija. Sem rímel, portanto.

Supostamente, Freud nunca conseguiu responder à pergunta: "O que quer uma mulher?". E você?
Não consegui e suspeito que quem o conseguir se torne rapidamente milionário por tamanha descoberta. As mulheres conseguem estar ao telefone e escrever uma carta no computador ao mesmo tempo, aposto que neste momento estará uma mulher a ler este inquérito e a jogar vólei no mesmo instante. E isto é estranho. Muito estranho mesmo.

De acordo com um inquérito da match.com, sete em cada dez solteiros vão de férias convencidos de que encontrarão o par ideal. É com esse espírito que parte de férias?
Não, na verdade, faço exactamente o contrário, só procuro a mulher ideal durante os meses em que trabalho, porque nas férias procuro uma mulher que não seja ideal. Gosto de me meter com uma boa galdéria com nomes tipo Josefina, Ivanka e Jurema. Tão bom, tão bom.

No livro "No dia em que fugimos tu não estava em casa" revela-se um pinga-amor. É um romântico?
É bem verdade, sou o Vítor Espadinha dos tempos modernos, só que não trago nos olhos a luz de Maio nem nas mãos o calor de Agosto embora reconheça que sou um 30 de Fevereiro de um ano por inventar.

Também é um daqueles homens que não entende por que razão as mulheres gostam do Dr. House?
Porque pensaram inicialmente que o “Doutor Casa” falava de casamentos e da forma como poderiam planear a cerimónia. As mulheres adoram estas coisas, ver os vestidos de noiva, o tapete vermelho para a entrada, confétis, comprar alsa drink, enfim. Pensavam que era isto e quando perceberam que não era, já era tarde demais, o “Doutor Casa” não casando ninguém tinha até já desfeito alguns casamentos e sem que notassem, tinha-se tornado um vício.

Aos 24 anos foi viver e trabalhar para Lisboa. Foi a sua sorte?
Não, foi precisamente ter vivido no Porto até aos 24.


A maior parte dos colegas que no início dos anos 90 esteve consigo na Rádio Press são hoje jornalistas. Lamenta por eles ou por si?
Logicamente, lamento por eles e por todos os meios de comunicação que os acolheram. Juro, que fiz tudo para impedir que tal acontecesse.

Não faz nada sem meter uma piada pelo meio. E se deixarem de lhe achar graça?
Como assim? Eu pensava que isso já tinha acontecido. Querem ver que não.

A popularidade é um vício?
Não, é uma consequência do teu trabalho e da tua exposição. Podes ser popular por boas ou más razões, agora que me lembro, há em Portugal um partido popular sem razão nenhuma.

O "Boa Noite Alvim [Sic Radical] é a uma tentativa de fazer um programa mais sério?
Não mais sério, mas sim mais adulto o que não é a mesma coisa. Não apresento programas em busca de alguma suposta seriedade, pelo contrário, gosto de ficar a dever dinheiro no talho lá da rua e roubar maçãs a merceeiros distraídos. Gosto de ser visto como um bom malandro.

Nesse programa, a actriz brasileira Bruna Lombardi disse que "fala demasiado para seres misterioso". Considerando que as mulheres gostam de homens misteriosos, vai corrigir a trajectória?
Não sou misterioso, não tenho segredos, falo demasiado, mas uma vez uma prima afastada disse-me isto “ óoo cara linda , óoo cara linda!” enquanto me dava estalos na cara a um ritmo de 50 por minuto. Querem melhor coisa do que isto?

Esteve seis anos à frente do Curto-Circuito [Sic Radical]. Se tivesse que traçar o perfil dos adolescentes de hoje, com base nesse programa, diria que é uma geração rasca?
Não é uma geração rasca, nem à rasca, nem de desenrasca. É uma geração que ainda não teve o tempo suficiente para mostrar o que vale mas vai fazê-lo o quanto antes. Os miúdos são agora mais inteligentes porque crescem mais cedo, porque passam pela pré-primária e chegam à primeira classe a saber contar e até a ler. Vi outro dia uma criança de 4 anos a falar e ler correctamente inglês e fiquei impressionadíssimo. Só mais tarde, percebi que se chamava martha stewart e era inglesa.

Em "O Perfeito Anormal" [Sic Radical] descobriu Ricardo Araújo Pereira e José Diogo Quintela. Sente-se uma espécie de Júlio Isidro?
Sim mas não só. Sinto-me uma espécie de Júlio Isidro mas também um pouco de Luís Pereira de Sousa, de Demis Roussos, de Totó Cotugno, de Vítor Espadinha, de Eládio Clímaco, de Júlio César, de Anthimio de Azevedo. A este propósito, aproveito para dizer que amanhã o céu estará pouco nublado ou limpo com rajadas de 100km/hora a norte do cabo da roca.

E no Festival Termómetro Unplugged descobriu os Ornatos Violeta e os Silence 4. Reclama gratidão ou vive bem sem ela?
Reclamo gratidão e eles telefonam-me várias vezes por dia a dizer obrigado. É assim há muitos anos e por vezes já quase nem falamos, o telefona toca, eu atendo, digo: Estou! E do outro lado ouço apenas: Obrigado!

Voltando à televisão, é para Nuno Markl [com quem dividiu "O perfeito anormal"] o que Jardim Gonçalves era para Paulo Teixeira Pinto?
Talvez, mas com menos dinheiro, menos idade e o melhor de tudo, sem o Joe Berardo pelo meio.

Consegue realmente apreciar o programa do Rui Unas na Sic Radical?
Não vejo televisão desde o tempo em que o Mário Crespo era correspondente da RTP em Nova Iorque e a Vera Roquete apresentava o “Agora escolha”. Estamos conversados?

Qual é a motivação para continuar a editar a revista 365, que só tem cinco mil exemplares e o faz perder dinheiro?
A certeza de que um dia serei condecorado pelo presidente da república e a esperança de um dia entrevistar Manuela Eanes, que para mim, fez por um produto o que muitas mães não fazem por um filho. O produto é: A Laca.

Nessa revista, entrevista ícones datados como a menina que fazia a publicidade do "comboio que vai com o Pai Natal ao circo". Como foi essa experiência?
Foi óptima e valeu também pela sessão fotográfica. Fui para a estação de Sta Apolónia vestido de coelhinho e foi com esta indumentária que tratei de convencer o chefe da estação a fazer uma sessão fotográfica numa das carruagens do comboio, juntamente com o Pai Natal e a miúda que agora tem a minha idade. Eu acho que eles estavam convencidos que íamos fazer um filme porno dentro da carruagem e não fácil convencê-los. As imagens em breve poderão ser vistas no sexyhot. Ou talvez não.

Além da rádio e da televisão, é DJ. Não acha estranho que lhe paguem no país inteiro para passar a música do dartacão e outras pérolas semelhantes?
Acho, acho mesmo muito estranho mas existem pessoas para tudo, até mesmo para me ouvirem a passar música. Eu bem lhes digo no inicio das minhas actuações para não perderem tempo, para se recolherem aos lares mas não adianta muito. As pessoas querem ouvir o dartacão, o tom sawyer, a abelha maia e o loveboat. Sinto-me impotente, felizmente, só nesta situação.


"Eu tenho uma ideia" é talvez a frase que mais vezes o ouvimos repetir. Tens mesmo facilidade em vender tudo o que te passa pela cabeça?
É verdade que “eu tenho ideia” é uma das minhas frases mais repetidas. Na infância era “ Ainda falta muito” que eu repetia exaustivamente nas viagens longas e já na adolescência “ Pai empresta-me dinheiro!” figurava na primeira posição. De resto, ter uma ideia não significa que a iremos vender. Com verdade, não tenho jeitinho nenhum para o negócio.

É verdade que tem vocação para ser roubado?
Não, o que me parece é que há muito gente com vocação para me roubar.