Existe um complexo de inferioridade em Portugal que se manifesta num medo de ser maior. O português sente-se confortável em ser mediano e só quer ser o maior para o livro do Guiness. No livro do Guiness, o Português não receia em ser grande e são muitas as iniciativas que dão conta dessa nobre intenção. Ora porque se trata do maior ajuntamento de Pais Natais do mundo ou porque há uma sandes de courato que dá a volta ao mercado da ribeira.
Se há um português que por azar revela publicamente 'Que quer ser o maior do mundo' essa intenção é invariavelmente seguida de um comentário jocoso tipo 'este gajo deve ter a mania!' E eu pergunto: 'Que mal tem em ter a mania de ser o maior do mundo?' repito: 'Que mal tem – e agora apetecia-me dizer aqui um palavrão – em ter a mania de ser o maior do mundo?' Eu não vejo mal nenhum nisso, pelo contrário, deveríamos ter todos esta mania, de não nos encolhermos tanto quando percebemos que é muita a concorrência, de não fugirmos tanto quando deparamos com o gigantismo do adversário, de não nos amedrontarmos tanto por ter muita gente à frente. Que mal tem – e como ficava aqui tão bem um palavrão – querermos ser os maiores? Devia até ser um hábito. Uma característica inata a todos nós, bastando para isso que não nos contentássemos com pouco.
E em vez disso, o que acontece? Damo-nos por contentes com um terceiro lugar que o que interessa foi ter participado. Que não ganhamos mas obtivemos a vitória moral. Que a nossa imagem ficou mais uma vez defendida sem que no entanto, tenhamos ido ao pódio. E não pode ser? Não, não pode. Se estamos empatados – e não estou a falar de futebol - não faz sentido defender o resultado. Temos que atacar – outra vez o palavrão - temos que asfixiar o adversário e só a vitória importa – mais um – temos que fazer entender aos outros que se estamos ali é para ganhar e ficar em primeiro. O segundo lugar já é bom? Não, não é. O terceiro é bom? Não, é pior ainda.
E então, qual é a solução para isto? É muito fácil, o português não pode nunca olhar para trás antes de cortar a meta. E assim, enquanto o intrépido animador diz 'Palminhas, palminhas, palminhas, é para a SIC, é para a SIC, é para SIC' na recta do Mindelo, o melhor é fazer pela vida, dar corda aos pedais e esticar o pescoço para o photo finish.
O resto, não interessa. O adversário temos que ser nós, não podemos estar à espera da desinspiração dos outros, dos falhanços dos outros – neste momento ouve-se já o som dos violinos em crescendo e Rock Balboa sobe a trote a longa escadaria – Portugal tem contar apenas consigo e nunca olhar para trás – 'Palminhas, palminhas!' – se estamos atrás temos que estar na frente, se a bola vem no alto não podemos estar à espera que a mesma não seja interceptada antes – o som de Eye of the Tiger que se faça ouvir – que nós sejamos o antes e nunca o depois, que o país aposte tudo na antecipação em vez de: Olha que sorte, a bola veio ter comigo! Que sejamos sempre o antes, o antes ouviram bem? Que nunca olhemos para trás quando estamos em terceiro lugar porque de certeza que os adversários não terão desistido para ir comer uma tosta mista, que sejamos o antes – repito – que nunca por nunca olhemos para trás antes de cortar a meta, antes de marcar golo, antes de perdermos a aposta, o desafio, o que quer que seja. Que nunca olhemos para trás vos digo – e agora ficava tão bem aqui um palavrão.
enaaaa, hoje sou a primeira a comentar!
ReplyDeleteeu concordo plenamente contigo, Portugal tem este complexo de inferioridade e o hábito de dizer que o vizinho é sempre melhor. O vizinho tem sempre tudo melhor que nós! O vizinho consegue sempre tudo, mas nós não! (palavrão)
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Só faltou mesmo o palavrão!!! :):)
ReplyDeleteMuito bom!!
Que se perca o complexo de "Portugal dos Pequeninos"!!
Mais do que qualquer questão de falta de ambição, o que 'trama' o comum Português é esta mania de nos comparar-mos uns aos outros pela mesma medida. Pelo facto de o filho da D.Olinda estar empregado e a ganhar 900 euros e nós não arranjamos maneira de levar a vida p'rá frente. Padronizamos o sucesso, esse constructo tão relativo. E por isso somos obrigados a seguir a pegada dos outros e, consequentemente, não arriscamos fazer algo diferente, porque as pessoas que nos rodeiam não têm a paciência de esperar pelo momento certo. Tudo tem que ser conseguído já (e, no fundo, esse tudo é fugaz e dissolve-se para culminar em nada).
ReplyDeleteMas é verdade, temos medo de ser líderes e de arriscar.
É isso mesmo, não poderia estar mais de acordo!! Talvez seja por isso que Portugal tarda em "dar o salto" a muitos níveis...
ReplyDeleteBasicamente uma questão de mentalidade!
Grande abraço,
WWW.SEMGAS.BLOGSPOT.COM
Já uma vez aqui disse que era o maior e repito-o:
ReplyDelete«Sou o maior.»
Oh pá! E não é que és mesmo o melhor?! Digo: o maior!!!!Nem o melhor post, do dia ou do país. É mesmo AQUELE post de quem se espera sempre mais e melhor... e não desilude. Simplesmente o MAIOR.
ReplyDeleteLá isso...
ReplyDeletePortugal vive num paradoxo face às esperanças que tem no futuro. Sonhamos com um destino maravilhoso, idêntico à época dos descobrimentos e ao mesmo tempo, não fazemos nada e não esperamos nada porque não cremos que Portugal possa brilhar de novo.
Os Portugueses até gostam de desafios e ficam tristes quando falham, mas pensam sempre. “Ah..ao menos tentei..!" E ficam por aí.. É esse o grande problema..
Tentei.. e acabou..
Mas não chega..temos de tentar e tentar e tentar...até conseguir.
Lutar até vencer...
Há que também referir o facto de os portugueses serem muito pacifistas... Pois..
Enfim..
Talvez o nosso maior orgulho agora é na área do futebol: o Euro 2004. Ai o euro 2004...!! Estava quase lá... E agora o Cristiano Ronaldo (que bem merece o destaque..) Mas não devemos achar que somos os maiores pelos outros.. Cada um tem de marcar a diferença, cada um tem de ser a notícia... cada um tem de ser o MAIOR por si próprio.. Seja no que for.. E não me venham com a treta de que estamos em primeiro na tabela de consumo de álcool que isso não conta (e para isso ate contribui-mos bem, Alvim :D )
Bem..mas isto tudo para dizer que concordo plenamente com tudo o que disseste..
E só para acabar, gostaria de referir uma pessoa que acho que tem marcado presença pela diferença, ousadia, coragem, audácia.. Uma pessoa destemida e sem papas na língua frente a alguns que se julgam os maiores .. e que pronto, também é capaz de contribuir um pouco para a contagem na tabela acima referida.. Claro, falo do Dr. Alberto João Jardim.
Um beijo enorme..
Espero ver-te em breve..
Kátia Rodrigues
O problema em querer ser mais e melhor é depois a frustração que nos consome por cada meta que não conseguimos ultrapassar; a desilusão por cada NÃO que ouvimos; a angústia de querer tanto e não poder ter nem um bocadinho. E, principalmente, a revolta que sentimos quando sabemos que sim, que queremos ser os maiores do mundo, mas que por mais que tentemos, não há espaço para nós!
ReplyDeleteTentar nem sempre significa conseguir ...
Bem, no final de ler este extenso texto, cumpre-me referir que fiquei abismado com tanta retracção em utilizar um sempre oportuno PALAVRÃO de vez em quando!
ReplyDeletePortuguês qe quer ser o maior tem que dizer palavrão!
abraços
Oh Alvim! És uma inspiração e ainda bem que és dos que não têm medo de ser os maiores! :)
ReplyDelete"o português não pode nunca olhar para trás antes de cortar a meta". Já o mito de Orfeu e Euridíce nos diz isso... Mas esses são gregos e frequentemente não têm medo de ser maiores!
ReplyDeleteÉs grande Capitão Alvim! Gosto do tom de incentivo que este texto tem. Vamos ser o antes e não o depois!
ReplyDeleteForça Portugal!
Abraço.
Senti-me inspirada.
ReplyDeleteUm texto muito inspirador!
ReplyDeleteObrigada Alvim.
Peço desculpa pela invasão, mas finalmente dei com o blog do Pedro Ribeiro e vim logo 'cuscar' aqui também.
ReplyDeleteTodos nós devíamos ter um pequeno Rocky Balboa dentro de nós (salvo seja), a dar-nos murros para nos mexermos, para não ficarmos a olhar para o céu, à espera que nos caia tudo já feito e a invejar quem vai mais longe... porque é tão mais fácil invejar que combater e fazer pela vida, não é?
Curioso dar com este post num dia de profundo desencanto...mas de alguma forma, fiquei um bocadito mais animada ao ver que ainda há gente normal, e com pensamento construtivo, por aí! Thanks, Alvim!
( e claro, fico sempre contente quando me falam do Rocky Balboa. Esse sim, quer dizer, não o Rocky, o Sylvester, não o gato, o Stallone, mesmo, contra tudo e todos, com a boca meia torta e a fala meia presa, cheio de adversidades, e ainda assim chegou lá!)
Bom fim de semana!
FODAAA-SEE ;)
ReplyDeleteParabéns Alvim... Sempre oportuno, inteligente e com muito humor!!!!! Admiro-te imenso, continua assim...
ReplyDeleteJá agora passa pelo meu blog se der, é que o ultimo post é, entre outros, para ti!!!!!;P
http://sociedadeindividual.blogspot.com/
Espero que não te importes, e compreendas, o "roubo" do teu post de dia 16...rs
Abraço, fica bem
grande discurso!!
ReplyDeleteAlvim a primeiro ministro!!!
Eu não sei o que se anda a passar com os portugueses... deve ser o vírus da resignação...
Onde raio foram parar os descendentes dos navegadores portugueses, que foram os maiores do mundo??? que acreditavam que tinham direito a metade do mundo???
SErá que já não se estuda a história dos descobrimentos neste país?? é que parece que esta história já não inspira ninguém!!
muito bem da mesmo para pensar..
ReplyDeletea mentalidade portuguesa em geral nunca e assim (e tambem ficava bem aqui um palavrão)...:)
Mesmo correndo o risco de não ver o meu comentário publicado aqui vai: Caralho!!! Alguém tinha que o escrever.
ReplyDeleteE porque eu concordo plenamente com o que escreveste neste post, porque também acho que nos faltam ambições e, muitas vezes, uns vegetais vermelhos e redondos bem grandes - dois palavrões no mesmo comentário era abuso ;) - apenas tenho a dizer o seguinte: Alvim, vamos comer um sorvete de cacau? Ou beber uma gasosa? Ou tomar uma limonada?
Keep on blogging :)
Não poderia concordar mais. De facto, o segundo lugar não é mais que o primeiro dos últimos!
ReplyDeleteConcordo em absoluto!!!
ReplyDeleteSurreal é estar em terceiro lugar e ainda assim parar na tasca para ir beber uma mini, ler a bola, e gabar-nos para os colegas da carga de porrada que demos na mulher na véspera.
ReplyDeleteAcho que o português leva doses industriais de melancolia e de pessimismo na sua infância, que mais tarde provocam, já na sua vida adulta, uma insegurança tremenda que o torna inapto para uma qualquer tarefa. O título de "desenrascados" vai dando para o gasto. Desenrasca-se uma vida, desenrasca-se um país.
Mas a piada e ironia da coisa é que está toda a gente farta de viver num país (à) rasca.
Paz!
J
É assim mesmo! Alvim à presidência! Hmm, pera lá! Eu à presidência!!
ReplyDelete- Palavrão - mas que (outro) grande texto! Fiquei na expectativa que o texto terminasse com uma asneira mas não, nada disso apesar de o merecermos. Concordo contigo nós (portugueses) de uma maneira geral não nos esforçamos para ter o que realmente ambicionamos ficamos simplesmente à espera que as coisas venham ter connosco.
ReplyDeleteNão queria entrar por aí, mas os portugueses vivem obcecados com o futebol, temos uma selecção de estrelas, no ententanto pouco ou nada fazem mas continuamos a gostar deles. Mesmo tendo campeões do Mundo de tripo salto, salto em comprimento, duatlo, trialto, bodyboard, ... o que realmente interessa é com quantas prostituas anda a dormir o Ronaldo...
Caos- Pudim Doce
Bem, que post tão moralizante e motivador! É realmente uma - e agora um palavrão - ficar em terceiro lugar, ou em segundo no euro 2004... mas águas passadas não movem moínhos!
ReplyDeleteAlvim, tás na minha lista de links, pá! E espero por ti na semana académica de Macedo de Cavaleiros!!!!!!
bom texto alvecas- palavrão-!
ReplyDeleteNão me interessa saber se és mesmo quem dizes ser... não me interessa ler o que todos estes comentadores opinaram... daí que se repetir alguma coisa do que eles disseram ou se for contra alguma coisa do que eles opinaram peço imensa desculpa, mas não era essa a minha intenção....
ReplyDeleteÉ a primeira vez que entro aqui no teu blogue, mas não é a primeira vez que leio um texto teu, lembro-me de um em especial que falava do gostar, mas do gostar a sério... lembro-me de pensar (o tal palavrão) Este gajo tem razão que até doi... e agora este!! (mais uma vez o tal palavrão) Pensava eu (na ingenuidade da minha tenra idade e experiência) que talvez esta minha vontade de marcar a diferença, de ser alguém, alguém importante (não daqueles que aparecem nas revistas cor de rosa e em tertúlias pink) mas sim daqueles que marcam a diferença pela sua vontade de vencer, pela sua vontade de ser GRANDE não apenas nesta aldeia que é Portugal mas no Mundo.... mas depois lembro-me que sou sonhadora... pelo menos é isso que me têm vindo a acusar...
Obrigada por me fazeres acreditar (sem o saberes, claro está =P) que afinal talvez esta minha atitude de sonhadora não seja tão errada como por vezes parece ser ;)