Thursday, January 24, 2008

Recusamos ou sorrimos para a foto?





Sempre pensei que para se convidar alguém para escrever um prefácio era necessário sermos amigos. Do mesmo modo, que quando se escolhe o padrinho do nosso casamento – à partida – deve ser o nosso melhor amigo ou alguém cujo grau de parentesco quase nos obrigue a isso, tipo: pai, irmão, tio, avô, enfim, o que agora se lembrarem.

Com o tempo percebi que não, que muitas pessoas recebem um convite para irem a um casamento de um casal que possivelmente não vêem há mais de dez anos - e não se pode recusar porque fica mal – que cada vez mais recebemos sms de pessoas que escrevem algo como “envio esta mensagem apenas e só para os melhores amigos e tu fazes parte desta pequeníssima lista” e invariavelmente, ao vermos o nome de quem assina, percebemos que não conhecemos a pessoa de lugar algum, apetecendo enviar uma mensagem de resposta onde poderíamos dizer: “Numa lista tão pequena como a que revelas ter, também tens amigos que conheças?”

A verdade é esta, por vezes fazemos convites porque tem que ser e outros porque é importante que seja. Voltando ao exemplo do casamento - que dá muito jeito aqui - não é difícil perceberem como são diferentes estas duas formas. Reparem no exemplo “porque tem que ser”: “Vamos ao não convidar para o nosso casamento, a prima Vitória que era visita regular lá de casa quando éramos miúdos? Ah pois, e agora?” – em muitos casos, a resposta é afirmativa porque só se casa uma vez – seguramente com aquela pessoa – e sempre é mais uma para se juntar à festa. Depois, um exemplo “Porque é importante que seja”: Deve ou não convidar-se o comendador Melo, que embora não seja amigo da família é das pessoas mais importantes da cidade? Melhor: Convida-se ou não António Nunes, presidente da ASAE, quando sabemos ter um restaurante da família cujo sistema de ventilação pode não ser o mais adequado para a nova lei? Em ambos os casos, a probabilidade de dizermos “sim” é muito grande porque se revela importantíssimo assegurarmos desde logo o nosso futuro e alargarmos o nosso poder de influência ou – talvez mais isto – juntar-nos a quem o sabemos ter.

Em Portugal, ainda há muito gente a convidar para padrinho de casamento o patrão da empresa, como se isso fosse a garantia de uma promoção para breve ou inibidor de um despedimento sumário. E sabem que mais? Pode ser mesmo. Em Portugal ainda há muita gente a convidar para o seu casamento o tio rico que veio da América para viver a sua reforma dourada e não sabe o que há-de fazer ao dinheiro, como se fosse com eles que o quisesse gastar. E sabem que mais? Pode realmente fazê-lo. Em Portugal, ainda há muita gente que gosta de aparecer ao lado do senhor tal que é muito importante e dá uma imagem de um poderoso relacionamento que poderá lhes ser útil para o negócio que há muito esperavam celebrar. E sabem que mais? Pode resultar, pode haver celebração sim. Em Portugal, ainda há muito gente a convidar outros para o que quer que seja, apenas porque são conhecidos ou famosos ou com um último nome sonante que lhes garante a visibilidade que necessitavam para aquele evento, para aquela acção, para aquele produto. Em Portugal, ainda há muita gente a convidar outras a escreverem um prefácio para um livro sem nunca as terem conhecido – uma palavra sequer – sem perceberem se escrevem bem ou não que isso de nada importa porque o importante mesmo é serem conhecidos e apetecíveis para os fotógrafos que já se aproximam.

E se não me apetecer sorrir? E se não quiser ficar bem na foto? E se não quisermos escrever um prefácio para uma pessoa que sabemos não nos conhecer? A pergunta impõe-se: Recusamos ou sorrimos para a foto?

21 comments:

  1. genial...cm spr...genial!

    és o maior ó Alvim! E só não explicito todo o meu amor por ti aqui, porque não quero passar por gay.

    abraços

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  2. Tu podes recusar!Outros há que terão que sorrir...

    Fabuloso;-)

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  3. Genial texto Alvim. Eu simplesmente, recusava.

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  4. Quando me casar convido-te para a boda. Serás o convidado de honra. Mas tens de pôr o teu bigode postiço e o papillon branco que vi algures numa foto.

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  5. Que bom que "postaste" isto aqui porque li isto hoje no metro e fiquei com vontade de te responder... Ora, como não faço a mínima ideia sobre as circunstâncias que te inspiraram a escrever este texto vou mandar as minhas "postas de pescada" à vontade:

    1) Se escreveste um texto como este a resposta é clara: deves recusar, pois obviamente te afecta (se é que foi dirigido a ti) este convite que pelas tuas palavras parece ser altamente "interesseiro". Agride-te, obriga-te a ser falso? Então RECUSA.

    2) Quanto ao que dizes acerca dos casamentos concordo plenamente com tudo. Se algum dia me casar espero ter coragem para a dita "selecção". Quero ter lá apenas as pessoas que me digam muito.

    3) Quanto ao prefácio já vejo a coisa por outro prisma. Imagina alguém cheio de talento escondido que precisa de um empurrão. Que precisa que alguém acredite, que alguém aposte, que alguém faça chegar aos ouvidos dos outros que aquilo vale mesmo a pena. Porque não hão-de os que já cá andam há mais tempo e já têm visibilidade, ajudar os aspirantes? A mim parece bem. Talvez um dia te peça um prefácio. E não te conheço... E tu não me conheces... E não me parece mal pedir-te ajuda. Parece-me até lisonjeiro. Pode significar apenas que te admiro e que quero que o meu empurrão seja feito por ti. Podia ter ido a outra freguesia qualquer... Podia ter pedido ao meu melhor amigo para o fazer, mas na sociedade em que vivemos ninguém vai ligar nenhuma ao que a Andreia Moreira tem a dizer bem como o seu melhor amigo Hugo Silva...(Who the fuck are andreia moreira e hugo silva?) Digo eu...

    Mas é como já disse, como não sei do que falas e não sei em que circunstâncias te inspiraste, parece-me pelo teu texto, pela agressão que sentiste com semelhante convite que a resposta só pode ser uma: NÃO (acompanhado ou não por um belo sorriso)

    Força aí no NÃO Alvim. É importante saber dizer não. Eu ando a aprender!

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  6. Recusar! Sem hesitações, ou sem pensar duas vezes, porque é uma coisa, que pelo que escreveste, não estás com a mínima vontade de fazer. E que ao que parece, não te dá qualquer gozo.

    E a propósito de casamentos, estás convidado para padrinho do meu. Porque ai e tal que és conhecido. E fica bem... E é bonito... E se nos conhecermos só no dia da cerimónia, tanto melhor...:P

    Fica bem...

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  7. Estou estarrecida com este teu texto....está brilhante!!!!Um dos melhores que li até hj, sem dúvida alguma,...parece que me tiraram uma radiografia, andas-me a ler o pensamento???....Até me arrepiei....
    De facto é mto complicado gerir esta questão dos interesses/ afectos genuínos qd se tem algum protagonismo social....por um lado torna-te desconfiado, das verdadeiras intenções de quem te circunda - estão contigo e estimam-te pelo que TU ÉS, unica e exclusivamente, ou pq terão uma projecção ou proveito subjacente a essa situação - por outro, obriga-te, em determinadas alturas "a comer e a calar" - pq o social te impele a vestir uma capa - qd te apetecia fazer precisamente o contrário...pq socialmente, te fica mal, seres genuino....

    É inevitável, e incontornável (lamentavelmente), mas o lado positivo de tudo (pq se não damos um tiro nos miolos) é que te torna selectivo nas tuas relações...o lado bom, como deves saber melhor do que eu, é que aprendes, quase que "mecanicamente" a fazer um raio-x às pessoas, valorizando desse modo, as que são genuinas e sem qq interesse. Podes ser circundado por todo o Mundo, mas o teu Mundo, são só aquelas...e essas sim, são importantes...

    Axo q tb n te deves deixar explorar a ti, ou à tua imagem, pq tu é q a conquistaste... por isso, qd fores confrontado c uma situação dessas (seja de prefácio ou não)avalia bem, escuta-te, e tenho a certeza, que saberás o que fazer...

    Importante é seres genuíno contigo mesmo!!!

    Um beijo

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  8. não é por nada ana, mas da maneira como pareces estar derretida pelo autor do post, se ele for ao teu casamento, é bem capaz de haver uma cabeça com duas novas (?) aquisições.

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  9. Já deixaste de fumar?
    Vamos beber um chá de gengibre antes de 2010?
    Tenho saudades tuas.

    Um beijo,
    Sara Moura

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  10. Acho que a melhor solução é recusar com um sorriso, dar uma desculpa esfarrapada e esperar que a outra pessoa perceba.
    Adoro a tua forma de escrever...***

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  11. Eu quando era mais nova sonhava com o meu casamento e pensava sempre que haveria de convidar todas as pessoas que conhecesse e mais algumas porque queria que toda a gente presenciasse O meu momento. O tempo foi passando e a minha opinião mudou radicalmente. Comecei a pensar que se me casasse, convidaria apenas as pessoas que me são mais importantes, as únicas que mereceriam estar presentes no Meu momento! Gostaria que assim fosse, mas hoje em dia, não penso em casar-me.
    Mas é engraçado falares nisso porque há poucos dias atrás a minha melhor amiga informou-me que se vai casar!!! Já lhe disse que vou viver ao máximo toda a azáfama do casamento dela, já que eu não tenho essa intenção!!


    E depois desta conversa da treta!, queria dizer-te que gostei deste texto, que me surpreendeu por um motivo diferente - pelo tom. Achei-o diferente de tudo o que já li teu!

    E já agora aproveito para te dizer que ainda não te liguei porque estou sem saldo!!! Mas um dia destes...ligo :P


    Beijinhos*

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  14. O melhor é aceitar, não vá dar-me na telha escrever um livro, pior que isso, escrever um livro com prefácio... e depois é sempre bom arranjar um ilustre desconhecido para o escrever...lol


    Além disso estás a fazer uma boa acção, porque assim o livro vai vender de certeza!!

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  15. Bem, a mim convidaram-me para ser padrinho de casamento...apenas por eu pela minha área de formação...que fazia "pendant" com a área do padrinho da noiva....Achas isto normal?

    Eu recusei...a sorrir!:)

    Abraço:)

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  16. Por vezes dizer não é complicado... ainda nos julgam mal nao é???

    Pois é ... eu por vezes tenho dificuldade em dizer Não , mas já melhorei muito com o tempo começeia pensar mais nas minhas convicções . Se realmente é algo que não quero então NÃO!!!

    Tornei-me muito selectiva e quanto ao caso dos casamentos ... no meu ( se alguma vez casar) só vão as pessoas próximas e com quem tenho mais convivio .


    Cumprimentos e Larguras da Penixeira!!!!

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  17. Belo texto, Alvim.
    O importante é ter coragem para dizer "não", sem pensar no que os outros pensarão de nós. O que interessa é que estejamos bem connosco próprios.

    Abraço

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  18. Fiquei fã! Eu recusava. De falsos sorrisos está o mundo cheio.

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