Monday, July 29, 2013

O rei vai nu

É impressionante a quantidade de monarquia que existe em Portugal. A revista “Hola” e tablóides britânicos insistem em fechar os olhos, mas Portugal está para a monarquia como o Duarte Lima está para a Carregueira.

Os ingleses bem podem glorificar a rainha, os belgas o novo rei, os espanhóis o seu importante condado, mas que importa isso se, quando chegados lá, não vemos qualquer vestígio ou influência. Portugal é o oposto e basta atravessarmos o país para o confirmarmos: temos reis para tudo. O mais popular é o rei dos frangos – há um em todas as cidades – o que muitas das vezes pode confundir quem procura, nestas coisas, a veracidade. E a verdade é que são muitos os que tentam roubar-lhe o protagonismo, sendo um dos casos mais notáveis o do rei das farturas.

É curioso notar que toda esta nobreza está muito ligada à gastronomia – o rei das bifanas de Torres Vedras, o rei do choco frito em Setúbal – mas há exemplos vários que demonstram bem que chegam a outros domínios de actividade: por exemplo, o rei das fardas e o rei dos móveis. No fundo, quero acreditar – e não vejo motivos para que não o faça – que toda esta gente se conhece e nos banquetes monárquicos onde o rei está sempre a comer um pernil de porco à mão, não raras vezes chegam a sentar-se à mesa o rei dos tecidos com o rei das meias e o rei dos presuntos. Contudo, noto com estranheza que há muitos reis mas poucas rainhas e quando as há estão normalmente associadas à lide doméstica: rainha do lar, rainha da limpeza e a conhecida rainha dos churros. Ainda assim, muito pouco.

A verdade é esta: no fundo, Portugal é um país monárquico só que ainda não sabe disso. Isto é, sabe mas teima em não aceitar. O problema de Portugal não é ter um rei, é ter muitos. E é constrangedor perceber que em todos eles, o rei vai nu.

Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i
[Fotografia de Graham Miller]

1 comment:

  1. Oh Alvim, não confundiste as bifanas de Torres Vedras com as de Vendas Novas, pois não?

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