Monday, June 03, 2013

Amanhã nunca mais

Eu não quero amanhã, quero hoje, eu não quero daqui a pouco, quero agora, eu não quero fazer planos a médio e longo prazo, quero não ter planos, nenhuns, quero comer a comida que está na mesa enquanto está quente. Não quero ter calma nenhuma não senhor e dispenso bem quem me venha dizer para ter calma justamente nos momentos em que menos preciso dela. Eu não quero ter calma coisa nenhuma. Se é para estar nervoso, eu estou nervoso, se é para estar calmo eu estou calmo, não me peçam o contrário. Por isso tanto gosto de pessoas que dizem " vamos a isto!" porque ao mesmo tempo que o dizem, normalmente arregaçam as mangas e fazem. As pessoas "vamos a isto", não estão cá com coisas e vão mesmo a isto. Vão, se pelo meio, não encontrarem as pessoas que lhes pedem calma ou que lhes dizem que isto não é para se fazer, é para se ir fazendo, como se uma tarefa fosse uma espécie de livro que não é bem para ler, é para se ir lendo, tipo bíblia ou o livro do pantagruel. Por isso saiam da frente que eu tenho pressa, e vou avisando de dedo em riste que só tenho paciência para o amanhã se este for daqui a poucos dias, se for um daqueles amanhãs que levam uns bons 10 anos de amargura, não contem comigo, não pensem mais nisso. Comigo só hoje, agora, quando muito no amanhã de amanhã.

Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i
[Fotografia de Joel Meyerowitz]

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