Wednesday, November 18, 2009

Te amo

Não é fácil dizer que se ama alguém mesmo que se ame de verdade. O problema nem é do sentimento em si - amar é facílimo - mas sim da palavra propriamente dita. A haver um novo acordo ortográfico – que discordo em absoluto - deveria prever-se a inclusão de uma palavra para substituir esta. Como se fosse um código que só nós soubéssemos. Chegaríamos perto de uma mulher e com voz de Clint Eastwood nas Pontes de Madison County diríamos algo como : “ Eu 1-5-6-9-8 r-h-z ! “. E assim, ela chegada a casa com uma tabela de códigos descodificadores do amor, perceberia que lhe havíamos declarado o nosso e diria em tom ofegante “ Aquele palerma ama-me, valha-me deus!



Mas nada nos vale. O amor devia ter um clube privado onde teriam acesso apenas e só as pessoas que estavam interessadas em obtê-lo. Chegávamos á porta, mostrávamos o cartão de cliente e já lá dentro, se o quiséssemos ter mais de perto, pediamos uma espécie de table dance sem ninguém ver. Os brasileiros têm uma expressão que diz assim : “ O amor dançou!”. E eu não tenho dúvidas que se referem a isto.

E se me permitem, digo mais. O “te amo ” dos brasileiros soa francamente melhor que o “Amo-te” dos portugueses e eu não sei se isto não será culpa das novelas ou possivelmente da Maitê Proença. Há mais anos de “te amo” novelístico brasileiro do que “amo-te” vila faiense, de tal modo, que eu aqui duvido veementemente, que possa ter existido a palavra amo-te antes da telenovela Vila Faia. De tudo o que eu pesquisei - e posso assegurar-vos que cheguei a ir à torre do tombo para me certificar que não estaria aqui a dizer uma tontice - tudo indica que o primeiro amo-te português, ouçam bem, foi dito com irrepreensível bidodez pelo célebre João Godunha à empregada doméstica Conceição, num estreito corredor de acesso à cozinha principal da novela portuguesa. Godunha disse “Amo-te” . Diz a lenda, que ela terá respondido “ Eu também”.

22 comments:

  1. Em defesa daqueles que não trabalham à sexta à tarde, tal como comentado ontem na PO, tenho a dizer que, em primeiro lugar, isso só é possivel em empresas que não funcionem como se costuma dizer em regime de funcionalismo publico. O trabalho tem que aparecer, independentemente do horario que se pratique. Dá muito jeito, permite tratar de assuntos pessoais, fugir ao transito infernal caracteristico desse dia, descansar da semana atribulada. Não implica que não se trabalhe arduamente durante o resto da semana ou, até mesmo, ao fds.
    A maior parte das empresas com este horario, são aqueles que trabalham de forma muito próxima com Espanha, onde esta prática é muito mais comum. É portanto uma herança de Espanha, onde tb se diz que a produtividade é bastante maior que em Portugal.

    ReplyDelete
  2. Que é a resposta perfeita...
    beijo
    busycat

    ReplyDelete
  3. Eu nunca vi o meu pai dizer amo-te à minha mãe, mas tenho a certeza que se amam. Acho que não é um problema da palavra em si, mas pelo simples facto de não ser popular dizer amo-te a torto e a direito, acho que é uma questão de tradições. Mas sou apologista de que quando sentimos, e de verdade, se tivermos de dizer dizemos e pronto, se gostamos tanto de ouvir, com certeza que a outra pessoa também gostará, e amor é isso mesmo, é pensar primeiro no outro, do que em nós mesmos!!!

    ReplyDelete
  4. Eu sou do contra xD

    Acho o "te amo" muito mais piroso que o nosso "amo-te" :P

    Gostei da referência ao Godunha eheh

    ReplyDelete
  5. Rita João EspinhaNovember 18, 2009 4:49 PM

    Um «ti amo» italiano ou um «te amo» espanhol soa-me melhor que um «tchi amô» em português do Brasil.
    Talvez a estranheza do «amo-te» em português de Portugal seja pelo facto de ser muito raro de se ouvir ou de ser dizer… ou estarmos à espera de o dizer quando tivermos certezas… ou estarmos à espera de ouvi-lo primeiro para então o dizermos também… mas NUNCA um «eu também»… :)

    ReplyDelete
  6. E eu "amo" sua escrita!!! (p.f. ler com sotaque Carioca)
    Agora a sério: olha que o "amo-te" está a banalizar-se. Principalmente nos adolescentes, que o dizem por tudo e por nada, a todo e qualquer namoradinho de escola. Digo-te isto pela experiência da minha filhota emprestada (eu detesto a palavra enteada, que me faz sentir a Madrasta má da Cinderela). Ela tem 15 anos, e ama todos os namorados que arraja!

    ReplyDelete
  7. Li este texto ontem no Metro e achei excelente. Principalmente o 1º paragrafo, aquela 'história' está muito bem feita.

    ReplyDelete
  8. Não admira. É difícil de dizer, fica entalada na garganta, é uma palavra feia.

    ReplyDelete
  9. E por acaso o Amor é mais do que a nossa capacidade de demonstrar a nossa própria parvoice??
    "Amo-te" assim torna-se muito mais fácil de dizer....

    =o)

    ReplyDelete
  10. Não sei bem o que me deu um dia, mas dei por mim a namorar um rapaz bem mais novo que eu e, de um momento para o outro, vi o meu telemóvel a ser invadido com *hugs*, =), Love you! e afins e vindos do nada, sem aviso, a uma rate por hora de ficar com os nervos em franja. É no que dá ter um tarifário com sms de borla e "todo o tempo do mundo".
    Nunca tive tanta saudade da expressão "amo-te"!
    Tal como o fado e a saudade, o "amo-te" à portuguesa é cheio de alma. É como um cão a ladrar, que parece querer morder, mas o brusco som fica a pairar no ar, suave e moribundo, quase como um uivo mal sucedido. "Amo-te" de boca cheia é uma trinca virtual, como se quiséssemos abocanhar a pessoa "amada".
    Costumo concordar com muito do que dizes e escreves, mas hoje até senti o coração a querer subir pelo esófago. Eu amo dizer amo-te, mas foi preciso muito tempo depois do derradeiro exorcismo para compreender o seu verdadeiro significado. E a minha mãe tem sido alvo dos meus latidos amorosos desde então...

    ReplyDelete
  11. João Perry, numa curiosa entrevista, o Nilton perguntou-lhe: "Do que é que gosta mais?" ao que ele respondeu: "De dinheiro"! Resposta simples, inesperada, que não vai de encontro ao que as pessoas estão preparadas para ouvir, embora o pensem!
    Dizer amo-te é tão forte como a "coragem" de vencer o comum! desejamos viver naturalmente, sem que nada nos impeça de nada por muito fora do contexto que seja! há-que desejar dizer Amo-te porque é isso que me faz borbuletas na barriga, porque é isso que; quando olho, tremo; quando cheiro, rejuvenesco; quando imagino, arrepio; quando toco aqueço; e no inesperado sa: AMO-TE! e é essa a verdadeira coragem, a de sentir dizer!

    ReplyDelete
  12. 5-19 13-5-19-13-15 12-9-14-4-15!

    5-12-9-1-14-1

    ReplyDelete
  13. Relacionado com a tematica em questã ou não

    http://aminhapiorqueca.com

    ReplyDelete
  14. Um clube privado. Parece-me boa ideia! ;)

    ReplyDelete
  15. Vá lá ela ter respondido adequadamente!... Eu pessoalmente gosto bastante da fonética de "amo-te", soa-me bem, a franqueza e a segurança. O problema é quando não se ouve o "eu também", substituíndo-se por uma gargalhada sarcástica e um "deixa-te de lamechices!"... O encanto da expressão diluiu-se entre o "Sassaricando" e o "tá-se bem!" dos Morangos com Açúcar... A língua portuguesa consegue ser muito traiçoeira, mas nunca o será na eloquente magia da palavra "amo-te"... pelo menos enquanto persistirem meia dúzia de líricos que ainda ateimam em escrever um simples sms em português correcto (e não corrente)... pode ser que nem o maldito acordo ortográfico o transforme num "te amo", "amotte", "amute"!
    Passam 18 minutos das 3 da manhã e tudo isto me impele para um telefonema inesperado e dizer apenas "amo-te"... Espero que a resposta dela não se distancie muito da que a empregada doméstia Conceição rematou o fabuloso diálogo de duas falas com João Gadunha.

    ReplyDelete
  16. :) mas nem è preciso um clube privado; Love Actually ou o Amor Acontece :)

    ReplyDelete
  17. Amo-te não é apenas uma palavra difícil de dizer. É acima de tudo, uma palavra perigosa, capaz de originar verdadeiras catástrofes emocionais. Por isso, resolvi bani-la do meu vocabulário. Estou, aqui, hoje, a quebrar o exílio a que a confinei. Passo a explicar. Sou uma rapariga assertiva, que não tem medo de qualquer palavra. Quando sentia que estava na altura certa, não hesitava em dizer ao objecto do meu afecto “Amo-te”. Disse-o 4 vezes a quatro pessoas diferentes. E foi a desgraça.
    (Continua no link abaixo)

    http://vidasurbanasmf.blogspot.com/2009/11/amo-te.html

    ReplyDelete
  18. Mais uma vez concordo com o que disseste.
    E tu melhor que muitos de nós no anonimato deves estar mais a par das banalizações do "amor". Amam uma pessoa famosa ou amam a fama dessa pessoa? Quantas vezes encontrarás as tontas que querem conhecer o "Fernando Alvim" - personagem - estar no teu meio pelas razões erradas. E digo isto estando no mesmo patamar que tu. E acho que aquelas que se excitam pela personagem são as que mais nos assustam. O que queremos é um amor verdadeiro pelo nosso interior e não pelo exterior ou meio onde nos encontramos.
    E tu és mais de que um personagem.

    ReplyDelete
  19. Ela vai receber-te com o mesmo Amo-te, o verdadeiro Amo-te.

    ReplyDelete
  20. Embora esteja de acordo contigo quanto ao acordo ortográfico, tenho a dizer que gosto imenso de dizer "AMO- Te" tanto ao meu mais que tudo como à minha filha.
    Com 33 anos de vida, não tenho qualquer problema em dizer "amo-te" embora só a tenha utilizado com estas duas pessoas...
    Tive as minhas "curtes" mas a 1ª vez que disse "amo-te" foi ao meu marido... E já lá vão 15 anos! :)
    E o "Te amo" dos brasileiros não me conquista. ;)

    ReplyDelete
  21. "te amo" custa menos a sair que o "amo-te"... o "amo-te" tem carga, tem alma, tem sentimento... tem demasiado de tudo!

    Mas sim, seria mais engraçado e menos doloroso se saisse em forma de código... já não bloquearia alí à saida da garganta no momento que o quisessemos dizer...

    ...mas como disse, é uma palavra com demasiada carga, daí evitar usá-la, aliás, só a consigo dizer quando já não a sinto... :)

    BJKa

    ReplyDelete
  22. É mais ou menos que nem dizem os Clã, Só pra dizer que te Amo,
    Nem sempre encontro o melhor termo,
    Nem sempre escolho o melhor modo.

    Devia ser como no cinema,
    A língua inglesa fica sempre bem
    E nunca atraiçoa ninguém.

    ReplyDelete