Monday, April 15, 2013

Portugal às 18.30


Convenciou-se em Portugal que tudo o que o que houver para lançar neste país será sempre às 18.30. Não é às 18 – não senhor - não é às 19 – virgem santíssima –, em Portugal, se é para lançar, tem que ser às 18.30. Por isso, se a NASA fosse em Portugal, vos garanto que qualquer lançamento no espaço de uma nova operação da Space Shuttle seria às 18.30. mesmo a Revolução de Abril, se agora fosse – e nunca se sabe se não haverá outra –, não tenho dúvidas que seria a esta hora. Aliás não se percebe porque existem outras. Porque é que não se resumem os ponteiros do relógio a um só? As horas a um minuto? Porque é que não se acabam com as manhãs que não servem para nada? Digam-me: de que vale continuarmos com as tardes se não há ninguém para um simples lançamento? E que dizer das noites? Para quê ter noites se aí nada pode ser assinalado? Não há 18.30 à noite. Nem de manhã. E por isso, não tem sentido algum. Para mim o mundo devia ter só esta hora, este assinalável tempo onde o universo inteiro faria coisas, lançamentos, certificados de aforro, filhos, conferências, aulas, casamentos, levar à falência um país, bolos de iogurte, implosões várias. E posto isto, apagava-se a luz como se de um recolher obrigatório se tratasse e dormíamos todos exaustos de tanto vivermos aquela hora e esperando pelo amanhã que saberíamos nos traria outra. Mas o presente, o meu presente, não me deixe viver por enquanto as 18.30. As 18.30 é uma coisa que os outros têm, é algo que eu sei que existe – como a festa da tomatina em Valência - mas que não posso ainda viver como deveria. Por isso, não me convidem para nada que seja às 18.30, não me convidem para nada ouviram bem? Porque há quem trabalhe a essa hora – eu sei que é incrível, eu sei que é difícil acreditar - mas um dia virá que não o farei. E nesse dia, aqui prometo, ergueremos os copos, brindaremos com vivas, na certeza absoluta que será às 18.30.

Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i

No comments:

Post a Comment