Thursday, January 10, 2013

Amor de mãe, eu também!

As pessoas têm por hábito distinguir o amor como se este tivesse várias categorias, nomeadamente três: o amor de mãe Angola 69, o amor aos filhos e o amor à pessoa com quem, à partida, fazemos amor. Analisando friamente esta situação, há uma figura que desaparece desde logo: o amor ao pai. Isto é, o homem esforçou-se, andou ali às voltas como roupa numa máquina de lavar e depois nem sequer tem o seu tipo de amor? Nem uma centrifugação? Não me parece justo. Depois o amor de mãe. O amor de mãe é um caso sério, dizem não ser comparável com nada e eu por experiência própria também o confirmo, mas às vezes a ideia que dá é que só existe o amor de mãe e que os filhos não têm amor nenhum para dar às suas mães. E eu como filho insurjo-me e corto já uma estrada, se for preciso. Eu amo a minha mãe do mesmo modo que ela me ama a mim e às vezes até mais. E quando isso acontece ligo-lhe imediatamente e digo-lhe: “Mãezinha, o meu amor por ti é maior que o que tens por mim”, ao que invariavelmente a minha progenitora me responde “Está bem, Nandinho, mas não devias estar a beber às 10 da manhã, filho! Faz-te tão mal...” Isto é, o amor de um filho pela mãe não conta para nada, já o da mãe ou do pai é que é intocável. Isso é um pouco como a programação na antena 2, é melhor nem discutir. E é de tal modo que se reflecte na vida do casal, fazendo com que o amor que sentem um pelo outro se transfira em parte para o filho ou a filha e levando a que muitas vezes ambos admitam que gostam um do outro, mas o amor pelo filho é uma outra coisa, algo muito superior. E é com isto que eu não concordo. E não acho sequer admissível. O amor pela minha mulher nunca poderá ser ultrapassado pelo dos meus filhos. Não pode não. Quando muito, pode ser repartido um bocadinho, mas nunca ficarão com a maior percentagem, esses sacanas. Eu sei que isto chocará muitos, que isto é discurso de quem ainda não tem filhos mas isto é o que eu penso. E o que eu penso é que o amor que devemos ter com quem o fazemos deve ser tão grande, tão imensurável, tão muralhas da China, tão Everest, que mesmo repartido, mesmo tirando-lhe grossas fatias, mesmo subtraindo doses inteiras, será sempre maior que todos os outros: o de mãe, de filho, de pai, do próximo. Àmãe.

Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i
[Fotografia de Monika Ekiert Jezusek]

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