Friday, September 28, 2012

Inquéritos de Férias do jornal Metro

A convidada desta semana foi a escritora e psicóloga Marta Gautier.


Umas férias 
Aquelas em que não me sinto uma clandestina por ir para o escuro do cinema às três da tarde, ou por ficar dentro de casa a arrumar um armário. Farta da servidão ao sol! Aqueles que acham logo que têm de aproveitar! É parolo até! Mas também aquelas que acham que o sol só têm uma função, têm o que se lhe diga. ‘Olha, está solinho, é bom para a roupa’.  

Uma ideia
«Vamos lá então perceber as mulheres. Mas só um bocadinho…» de Marta Gautier, 10 euros. S. Jorge, Lisboa: esgotado Setembro e Outubro. Teatro Confluência, Cascais: 3, 9, 10, 17, 23, 24 e 31 Outubro: reservas – 913439592 ou 913439938. Não Alvim, achavas que eu fazia isto só pelos teus lindos olhos…

Uma asneira 
As pessoas que se queixam do estado do país e derivados. Já não se aguenta. E qual é a ajuda? Repara, uma pessoa que anda aí, e depois se queixa aqui, ali e acolá sobre coisas com as quais toda a gente concorda! A minha teoria é assim: ou fazes alguma coisa ou CALA-TE. Mas mesmo que faças, faz CALADO! Não há nada mais bonito.

Uma paixão 
Pela vida… Acordar de manhã e lembrarmo-nos que temos de ir comprar laranjas, assim, uma coisinha de nada mas que sabe-se lá porquê entusiasma-nos porque descobrimos um sítiozinho que tem as melhores laranjas. Oh pá, no fundo são as coisas pequenas, estás a entender o que eu estou a tentar exprimir?… Há umas que falam assim…

Uma curiosidade
Sabes como se tira o pó das flores falsas? Pôe-nas num saco, atira para lá sal grosso, fecha o saco e abana-o como um louco.

Uma pergunta
Se o problema é esse, porque é que não se faz mais dinheiro? O papel das notas vem das árvores, pois que se plantem mais, se faça mais papel, e assim se colmatem injustiças e défices.
Riem-se e dizem que não é assim que funciona, que eu sou uma inocente. Pois…

Uma resposta 
«OLHA!, ao menos eu assumo!!» Era uma ‘ganda’ boca na minha adolescência e agora também. Dá ideia de que se pode ser tudo desde que se assuma. Tipo, ‘Olha, eu sou um cretino mas assumo.’ ‘Ah, desculpa, achei que não assumias. Agora assim já muda tudo.’

Uma lição 
Descobri como se lida com adolescentes! Tive um cá em casa uns meses. É um truque espectacular e vai salvar toda a gente. É assim: sorrir e fingir que se acredita em quase tudo o que eles dizem. Sorrir sempre, não investigar nada e responder apenas mecanicamente: ‘Claro querido, podes.’ Depois reza-se. Nas exceções, dizer não. Não sempre. Mesmo que cortem uma veia à nossa frente. Sempre a sorrir.    

Uma aventura
Andar de bicicleta. Comprei, entusiasmada. A minha vida ia mudar. Mandei pôr um cesto à frente. Custava-me adormecer à noite a imaginar a minha estreia. E o resto da minha vida a ir comprar flores e pão de chapéu de abas. A filosofia de tudo ia mudar. Mas aquilo é horrível. Parecia que arrastava um atrelado atrás. Cheguei a casa a empurra-la com as mãos. Passou a vizinha e eu disse que era o pneu.

Um segredo
Finjam que a crise não existe. Sim, completamente autistas. Não ouçam nada nem ninguém. Não acreditem em nada disso. Digam só que sim com a cabeça, a sorrir. Façam só o que têm a fazer. E depois vejam o que acontece.

Uma invenção
Era assim: acabavam-se os cigarros e assim já não havia nada a fazer.

Um desabafo
Estou cansada daquelas pessoas que querem dizer tudo na cara. Que são ‘muita’ sinceras, que põem a mão no peito, que dizem ‘comigo é assim’.

Um problema
Hoje não me apetece. A vida é espectacular. Sim, eu sou destas que diz estas frases. E agora? Agora olha, é sentir o cheiro das flores, respirar profundamente as árvores, perder 10 minutos a ver uma criança brincar… Pronto, isto já era a gozar. Mais ou menos…


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