Monday, June 11, 2012

Eu, à fala com o Expresso

- Considera-se um empreendedor? Quais acha que são os seus principais pontos fortes neste área?

Não sei se esse é o termo que melhor se me aplica, mas confirmo que faço pelo vida. Na verdade, nunca acreditei muito na estratégia de ficar sentado no sofá à espera que o telefone toque. Gosto de acreditar que eu sou tudo aquilo que persigo. E olhem que não são poucas as coisas que eu persigo.

- Quais os principais desafios que tem enfrentado como empreendedor?

Perceber que o não, nem sempre é decisivo. Um bocadinho como aquele "não" das mulheres quando lhes perguntamos se querem uma sobremesa no restaurante. E liquido que vão dizer que não, mas quando vier a nossa mousse é certinho que vão querer absorver o produto. Penso igualmente nos pregadores da fé, que vão de porta em porta, passando a palavra do senhor e aguentando toda a série de pessoas que invariavelmente estão com pressa e que não vão ter tempo para os ouvir. Também é verdade que um não pode ser definitivo, mas não deve ser dramático.

- Sei que participa em várias iniciativas para estimular o empreendedorismo. Na sua opinião, Portugal é um país de empreendedores? O que nos falta para termos mais casos de sucesso?

Acho que tendencialmente Portugal não é um país de empreendedores, mas sim um país de pessoas que se desenrascam. E isso não é de tudo mau. Pelo contrário, se há qualidades que eu prezo no nosso país é esta. E é justamente perante a necessidade de nos salvarmos, que percebo que há cada vez mais empreendedores, mais ideias de negócio, mais empresas inovadores. Talvez por isso, sinto Portugal a arrumar a casa e a lavar as paredes com tinta nova e fresca. Depois de passarmos esta maldita crise, não tenho dúvidas que Portugal será um país muito diferente. E parece-me que muito melhor.

- Quando lançou o seu 1.º projeto? O que o fez lançar-se por conta própria e que riscos ponderou na altura?

Os mesmos de agora. Sempre quis só depender de mim próprio. Quando falho nunca digo que a culpa foi o árbitro, quando a entrevista corre mal a culpa nunca é do entrevistado. A culpa é sempre minha. E é com base neste princípio que actuo. Isto é, não sou de desculpas e se perder, tenho que ter a certeza que fiz tudo para que isso não acontecesse. Nisto sou como o mourinho, não gosto de vitórias morais. Gosto de vitórias reais.



- Qual foi esse primeiro projeto e a que tipo de apoios foi necessário recorrer?

Aos 14 anos comecei a organizar torneios de futebol, aos 15 fui presidente da associação de estudantes da minha escola, aos 18 comecei criei e fundei o festival termómetro que ainda hoje dura. (termometro-online.com). Não tive na primeira edição qualquer patrocinador e eram os espaços que financiavam cada uma das eliminatórias. Confesso que nunca ganhei muito dinheiro com aquilo que fiz, mas o gozo que tive em organizar cada uma das coisas não tem qualquer preço.

- Mete-se nas coisas por prazer, por uma certa dose de loucura, para ganhar dinheiro, ou um misto das três?

Pela ordem que me é apresentada na pergunta. Acima de tudo, para concretizar aquilo que eu imagino. Uma ideia que não seja concretizável para mim não vale nada. A não ser que sirva como elemento decorativo, um mero acessório. E isso não me desinquieta. Definitivamente não gosto de ficar a ver, gosto sim de ir para dentro do campo comer a relva.

- Qual foi o seu projeto mais bem planeado e conseguido até agora? Porquê?

Eu próprio, que sou claramente o maior projecto da minha vida. Depois deste outros se seguiram e ainda seguirão, para já vou realizar já este mês a primeira grande regata de barquinhos a remos. E em Setembro, o primeiro torneio de golfe para nabos. Antes do final do ano lanço uma nova revista e um jornal desportivo gratuito.

- E qual aquele de que mais se orgulha? Porquê?

Não me façam escolher o filho de que eu gosto mais. Gosto de todos e como o príncipe Carlos, acho que todos são meus e parecidos comigo, embora um deles seja a carinha chapada do professor de equitação com que diana Spencer comprovadamente se envolveu. Pronto, talvez escolha a revista 365 (revista365.com) por ser o projecto mais difícil.

- Quantas empresas e projetos tem neste momento?

Deixem cá ver: a revista 365, o Festival Termómetro, a editora Cego Surdo e Mudo, o Festival Alternativo da Canção, a Speaky TV, os Monstros do Ano e para breve a nova revista e o jornal desportivo gratuito que se irá chamar Penalty.

- Quantas pessoas trabalham consigo nesses projectos?

A tempo inteiro 5 pessoas. Colaboradores, entre 50 a 100 pessoas.

- Considera-se um visionário ou também é bom na parte comercial e a gerir as contas?

Considero-me um idiota que gosta de ver as suas ideias em prática e descobrir sangue novo. Quero ser com toda a legitimidade, o novo júlio Isidro.

- Tem alguém que lhe dê uma ajuda nos negócios? Ou uma espécie de mentor que o aconselhe?

Todos os que me rodeiam e as dezenas de livros que vou lendo. Não existe um guru, até porque acho demasiado redutor e perigoso só termos uma influência. De resto, mesmo essas, no dia a seguir, podem estar já completamente desactualizadas, visto o mundo mover-se agora a uma velocidade muito maior.

- Já teve de recorrer a algum tipo de financiamento?

Sim, uma vez, para um bar que fiz no porto. Fora isso, como não funciono ainda milhões vou tendo o dinheiro necessário para os investimentos que me proponho. E quando não tenho, recorro a marcas inteligentes e modernas (reparem na graxa) que a mim se associam para que as coisas aconteçam. E acontecem.

- Quando e como nasceu o projeto da 365? Quantos exemplares imprime e quantos consegue vender de cada edição?

A 365 nasceu há 15 anos, é uma revista de nichos e depois de ter tido um preço de capa que começou em escudos e acabou em 2 euros, é agora gratuita. A sua tiragem é de 15.000 exemplares, mas cada edição está totalmente disponível na net para download gratuito. Não tem é os famosos autocolantes que fazem toda a diferença. É distribuída maioritariamente no porto e em lisboa.

- Qual é o modelo de negócio da revista? Parece-me ser de distribuição gratuita e não tem muitas páginas de publicidade...

Como se mantém uma revista assim?

Com a publicidade que temos que não é assim tão pouca e com a prática de uma política financeira de contenção de despesas. Digam lá que não parecia agora o Vítor Gaspar a falar?

- Li que pretende lançar ainda este ano um desportivo gratuito, uma revista urbana e uma masculina... vai mesmo avançar com isto tudo em 2012?

Com o jornal desportivo gratuito sim e também  com a revista urbana. Vou deixar a masculina para 2013, embora seja o título que mais gozo me irá dar. Uma espécie de sonho de criança.

- Que preparação já fez para lançar estes projetos? Estudos de mercado? Contactos comerciais? Preparação de equipas?...

Já fiz de tudo, estudos, conversas, longas caminhadas pela serra a pensar na vida, contactos comerciais e sentimentais, enfim, tudo o que alguém pode fazer para certificar-se que não terá que fugir para o brasil.

- Acredita que todos eles serão projetos rentáveis?

Sim, caso contrário não os faria. Isto é, podem não vir a dar muito dinheiro, mas se me derem o prazer a que me habituaram todos os outros, já me sentirei muito compensado.


2 comments:

  1. Grande entrevista, humor e inteligência, como sempre.
    Parabéns Caro Alvim.
    Ficamos a aguardar as novas revistas.

    www.simaoescuta.com

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