- Considera-se um empreendedor? Quais acha que são os
seus principais pontos fortes neste área?
Não sei se esse é o termo que melhor se me aplica, mas
confirmo que faço pelo vida. Na verdade, nunca acreditei muito na estratégia de
ficar sentado no sofá à espera que o telefone toque. Gosto de acreditar que eu
sou tudo aquilo que persigo. E olhem que não são poucas as coisas que eu
persigo.
- Quais os principais desafios que tem enfrentado como
empreendedor?
Perceber que o não, nem sempre é decisivo. Um bocadinho
como aquele "não" das mulheres quando lhes perguntamos se querem uma
sobremesa no restaurante. E liquido que vão dizer que não, mas quando vier a
nossa mousse é certinho que vão querer absorver o produto. Penso igualmente nos
pregadores da fé, que vão de porta em porta, passando a palavra do senhor e
aguentando toda a série de pessoas que invariavelmente estão com pressa e que
não vão ter tempo para os ouvir. Também é verdade que um não pode ser
definitivo, mas não deve ser dramático.
- Sei que participa em várias iniciativas para estimular
o empreendedorismo. Na sua opinião, Portugal é um país de empreendedores? O que
nos falta para termos mais casos de sucesso?
Acho que tendencialmente Portugal não é um país de
empreendedores, mas sim um país de pessoas que se desenrascam. E isso não é de
tudo mau. Pelo contrário, se há qualidades que eu prezo no nosso país é esta. E
é justamente perante a necessidade de nos salvarmos, que percebo que há cada
vez mais empreendedores, mais ideias de negócio, mais empresas inovadores. Talvez
por isso, sinto Portugal a arrumar a casa e a lavar as paredes com tinta nova e
fresca. Depois de passarmos esta maldita crise, não tenho dúvidas que Portugal
será um país muito diferente. E parece-me que muito melhor.
- Quando lançou o seu 1.º projeto? O que o fez lançar-se
por conta própria e que riscos ponderou na altura?
Os mesmos de agora. Sempre quis só depender de mim
próprio. Quando falho nunca digo que a culpa foi o árbitro, quando a entrevista
corre mal a culpa nunca é do entrevistado. A culpa é sempre minha. E é com base
neste princípio que actuo. Isto é, não sou de desculpas e se perder, tenho que
ter a certeza que fiz tudo para que isso não acontecesse. Nisto sou como o
mourinho, não gosto de vitórias morais. Gosto de vitórias reais.
- Qual foi esse primeiro projeto e a que tipo de apoios
foi necessário recorrer?
Aos 14 anos comecei a organizar torneios de futebol, aos
15 fui presidente da associação de estudantes da minha escola, aos 18 comecei
criei e fundei o festival termómetro que ainda hoje dura. (termometro-online.com).
Não tive na primeira edição qualquer patrocinador e eram os espaços que
financiavam cada uma das eliminatórias. Confesso que nunca ganhei muito
dinheiro com aquilo que fiz, mas o gozo que tive em organizar cada uma das
coisas não tem qualquer preço.
- Mete-se nas coisas por prazer, por uma certa dose de
loucura, para ganhar dinheiro, ou um misto das três?
Pela ordem que me é apresentada na pergunta. Acima de
tudo, para concretizar aquilo que eu imagino. Uma ideia que não seja
concretizável para mim não vale nada. A não ser que sirva como elemento
decorativo, um mero acessório. E isso não me desinquieta. Definitivamente não
gosto de ficar a ver, gosto sim de ir para dentro do campo comer a relva.
- Qual foi o seu projeto mais bem planeado e conseguido
até agora? Porquê?
Eu próprio, que sou claramente o maior projecto da minha
vida. Depois deste outros se seguiram e ainda seguirão, para já vou realizar já
este mês a primeira grande regata de barquinhos a remos. E em Setembro, o
primeiro torneio de golfe para nabos. Antes do final do ano lanço uma nova
revista e um jornal desportivo gratuito.
- E qual aquele de que mais se orgulha? Porquê?
Não me façam escolher o filho de que eu gosto mais. Gosto
de todos e como o príncipe Carlos, acho que todos são meus e parecidos comigo,
embora um deles seja a carinha chapada do professor de equitação com que diana Spencer
comprovadamente se envolveu. Pronto, talvez escolha a revista 365
(revista365.com) por ser o projecto mais difícil.
- Quantas empresas e projetos tem neste momento?
Deixem cá ver: a revista 365, o Festival Termómetro, a
editora Cego Surdo e Mudo, o Festival Alternativo da Canção, a Speaky TV, os Monstros
do Ano e para breve a nova revista e o jornal desportivo gratuito que se irá
chamar Penalty.
- Quantas pessoas trabalham consigo nesses projectos?
A tempo inteiro 5 pessoas. Colaboradores, entre 50 a 100
pessoas.
- Considera-se um visionário ou também é bom na parte
comercial e a gerir as contas?
Considero-me um idiota que gosta de ver as suas ideias em
prática e descobrir sangue novo. Quero ser com toda a legitimidade, o novo
júlio Isidro.
- Tem alguém que lhe dê uma ajuda nos negócios? Ou uma
espécie de mentor que o aconselhe?
Todos os que me rodeiam e as dezenas de livros que vou
lendo. Não existe um guru, até porque acho demasiado redutor e perigoso só
termos uma influência. De resto, mesmo essas, no dia a seguir, podem estar já completamente
desactualizadas, visto o mundo mover-se agora a uma velocidade muito maior.
- Já teve de recorrer a algum tipo de financiamento?
Sim, uma vez, para um bar que fiz no porto. Fora isso,
como não funciono ainda milhões vou tendo o dinheiro necessário para os
investimentos que me proponho. E quando não tenho, recorro a marcas
inteligentes e modernas (reparem na graxa) que a mim se associam para que as
coisas aconteçam. E acontecem.
- Quando e como nasceu o projeto da 365? Quantos
exemplares imprime e quantos consegue vender de cada edição?
A 365 nasceu há 15 anos, é uma revista de nichos e depois
de ter tido um preço de capa que começou em escudos e acabou em 2 euros, é
agora gratuita. A sua tiragem é de 15.000 exemplares, mas cada edição está
totalmente disponível na net para download gratuito. Não tem é os famosos
autocolantes que fazem toda a diferença. É distribuída maioritariamente no
porto e em lisboa.
- Qual é o modelo de negócio da revista? Parece-me ser de
distribuição gratuita e não tem muitas páginas de publicidade...
Como se mantém uma revista assim?
Com a publicidade que temos que não é assim tão pouca e
com a prática de uma política financeira de contenção de despesas. Digam lá que
não parecia agora o Vítor Gaspar a falar?
- Li que pretende lançar ainda este ano um desportivo
gratuito, uma revista urbana e uma masculina... vai mesmo avançar com isto tudo
em 2012?
Com o jornal desportivo gratuito sim e também com a revista urbana. Vou deixar a masculina
para 2013, embora seja o título que mais gozo me irá dar. Uma espécie de sonho
de criança.
- Que preparação já fez para lançar estes projetos?
Estudos de mercado? Contactos comerciais? Preparação de equipas?...
Já fiz de tudo, estudos, conversas, longas caminhadas
pela serra a pensar na vida, contactos comerciais e sentimentais, enfim, tudo o
que alguém pode fazer para certificar-se que não terá que fugir para o brasil.
- Acredita que todos eles serão projetos rentáveis?
Sim, caso contrário não os faria. Isto é, podem não vir a
dar muito dinheiro, mas se me derem o prazer a que me habituaram todos os
outros, já me sentirei muito compensado.
És grande.
ReplyDeleteGrande entrevista, humor e inteligência, como sempre.
ReplyDeleteParabéns Caro Alvim.
Ficamos a aguardar as novas revistas.
www.simaoescuta.com