A pedido das mais altas patentes da sociedade portuguesa, entre as quais o meu vizinho da frente e duas ou três raparigas encardidas com os festivais de verão, eis que reponho o texto "Essa coisa de gostar de alguém". É uma espécie de RTP memória neste blog.
Esta coisa de gostar de alguém não é para todos e, por vezes – em mais casos do que se possa imaginar – existem pessoas que pura e simplesmente não conseguem gostar de ninguém. Esperem lá, não é que não queiram – querem! – mas quando gostam – e podem gostar muito – há sempre qualquer coisa que os impede. Ou porque a estrada está cortada para obras de pavimentação. Ou porque sofremos de diabetes e não podemos abusar dos açucares. Ou porque sim e não falamos mais nisto. Há muita gente que não pode comer crustáceos, verdade? E porquê? Não faço ideia, mas o médico diz que não podemos porque nascemos assim e nós, resignados, ao aproximar-se o empregado de mesa com meio quilo de gambas que faz favor, vamos dizendo: “Nem pensar, leve isso daqui que me irrita a pele”.
Ora, por vezes, o simples facto de gostarmos de alguém pode provocar-nos uma alergia semelhante. E nós, sabendo-o, mandamos para trás quando estávamos mortinhos por ir em frente. Não vamos.. E muitas das vezes, sabendo deste nosso problema, escolhemos para nós aquilo que sabemos que, invariavelmente, iremos recusar. Daí existirem aquelas pessoas que insistem em afirmar que só se apaixonam pelas pessoas erradas. Mentira. Pensar dessa forma é que é errado, porque o certo é perceber que se nós escolhemos aquela pessoa foi porque já sabíamos que não íamos a lado nenhum e que – aqui entre nós – é até um alívio não dar em nada porque ia ser uma chatice e estava-se mesmo a ver que ia dar nisto. E deu. Do mesmo modo que no final de 10 anos de relacionamento, ou cinco, ou três, há o hábito generalizado de dizermos que aquela pessoa com quem nós nos casámos já não é a mesma pessoa, quando por mais que nos custe, é igualzinha. O que mudou – e o professor Júlio Machado Vaz que se cuide – foram as expectativas que nós criamos em relação a ela. Impressionados?
Pois bem, se me permitem, vou arregaçar as mangas. O que é difícil – dizem – é saber quando gostam de nós. E, quando afirmam isto, bebo logo dois dry martinis para a tosse. Saber quando gostam de nós? Mas com mil raios, isso é o mais fácil porque quando se gosta de alguém não há desculpas nem “ ai que amanhã não dá porque tenho muito trabalho”, nem “ ai que hoje era bom mas tenho outra coisa combinada” nem “ ai que não vi a tua chamada não atendida”.
Quando se gosta de alguém – mas a sério, que é disto que falamos – não há nada mais importante do que essa outra pessoa. E sendo assim, não há sms que não se receba porque possivelmente não vimos, porque se calhar estava a passar num sítio sem rede, porque a minha amiga não me deu o recado, porque não percebi que querias estar comigo, porque recebi as flores mas pensava não serem para mim, porque não estava em casa quando tocaste.
Quando se gosta de alguém temos sempre rede, nunca falha a bateria, nunca nada nos impede de nos vermos e nem de nos encontrarmos no meio de uma multidão de gente. Quando se gosta de alguém não respondemos a uma mensagem só no final do dia, não temos acidentes de carro, nem nunca os nossos pais se sentiram mal a ponto de nos impossibilitarem o nosso encontro. Quando se gosta de alguém, ouvimos sempre o telefone, a campainha da porta, lemos sempre a mensagem que nos deixaram no vidro embaciado do carro desse Inverno rigoroso. Quando se gosta de alguém – e estou a escrever para os que gostam - vamos para o local do acidente com a carta amigável, vamos ter com ela ao corredor do hospital ver como estão os pais, chamamos os bombeiros para abrirem a porta, mas nada, nada nos impede de estar juntos, porque nada nem ninguém é mais importante, do que nós.
Ora, por vezes, o simples facto de gostarmos de alguém pode provocar-nos uma alergia semelhante. E nós, sabendo-o, mandamos para trás quando estávamos mortinhos por ir em frente. Não vamos.. E muitas das vezes, sabendo deste nosso problema, escolhemos para nós aquilo que sabemos que, invariavelmente, iremos recusar. Daí existirem aquelas pessoas que insistem em afirmar que só se apaixonam pelas pessoas erradas. Mentira. Pensar dessa forma é que é errado, porque o certo é perceber que se nós escolhemos aquela pessoa foi porque já sabíamos que não íamos a lado nenhum e que – aqui entre nós – é até um alívio não dar em nada porque ia ser uma chatice e estava-se mesmo a ver que ia dar nisto. E deu. Do mesmo modo que no final de 10 anos de relacionamento, ou cinco, ou três, há o hábito generalizado de dizermos que aquela pessoa com quem nós nos casámos já não é a mesma pessoa, quando por mais que nos custe, é igualzinha. O que mudou – e o professor Júlio Machado Vaz que se cuide – foram as expectativas que nós criamos em relação a ela. Impressionados?
Pois bem, se me permitem, vou arregaçar as mangas. O que é difícil – dizem – é saber quando gostam de nós. E, quando afirmam isto, bebo logo dois dry martinis para a tosse. Saber quando gostam de nós? Mas com mil raios, isso é o mais fácil porque quando se gosta de alguém não há desculpas nem “ ai que amanhã não dá porque tenho muito trabalho”, nem “ ai que hoje era bom mas tenho outra coisa combinada” nem “ ai que não vi a tua chamada não atendida”.
Quando se gosta de alguém – mas a sério, que é disto que falamos – não há nada mais importante do que essa outra pessoa. E sendo assim, não há sms que não se receba porque possivelmente não vimos, porque se calhar estava a passar num sítio sem rede, porque a minha amiga não me deu o recado, porque não percebi que querias estar comigo, porque recebi as flores mas pensava não serem para mim, porque não estava em casa quando tocaste.
Quando se gosta de alguém temos sempre rede, nunca falha a bateria, nunca nada nos impede de nos vermos e nem de nos encontrarmos no meio de uma multidão de gente. Quando se gosta de alguém não respondemos a uma mensagem só no final do dia, não temos acidentes de carro, nem nunca os nossos pais se sentiram mal a ponto de nos impossibilitarem o nosso encontro. Quando se gosta de alguém, ouvimos sempre o telefone, a campainha da porta, lemos sempre a mensagem que nos deixaram no vidro embaciado do carro desse Inverno rigoroso. Quando se gosta de alguém – e estou a escrever para os que gostam - vamos para o local do acidente com a carta amigável, vamos ter com ela ao corredor do hospital ver como estão os pais, chamamos os bombeiros para abrirem a porta, mas nada, nada nos impede de estar juntos, porque nada nem ninguém é mais importante, do que nós.
True story! Devo dizer que escrevi algo parecido, mas em menos de 1/5 das palavras! Mt bom!
ReplyDeleteeu escrevi c menos 1/10 das palavras...
DeleteSimplesmente perfeito! Sublime ideia de «gostar de alguém sem condicionantes que pouco ou nada têm a ver com o facto de conseguirmos ou não estar juntos», muito bom!
ReplyDeleteGostei :)
ReplyDeletevery romantic. mas isto não é só gostar de alguém, é mais estar apaixonado. porque quando se gosta de alguém mas já se ultrapassou esse estado de obsessão boa que nos faz ficar sempre alerta, também pode acontecer ficarmos sem bateria ou não ovirmos o telefone.
ReplyDeletee é assim. simples e verdadeiro.
ReplyDeletejoão silva
LIndooooooooooo...Grande verdade.
ReplyDeletegosto :)
ReplyDeleteExcelente texto, muito divertido e sem duvida uma forma fantástica e muito realista de interpretar os sentimentos.
ReplyDeleteParabéns...
So true....
ReplyDeleteQuando se gosta de alguém basicamente, faz-se tudo...é impressão minha ou o Alvim está in love????
ReplyDeleteAcho que hoje em dia as pessoas estão mais interessadas em fazer fortuna do que propriamente gostar de alguem! Ja não é moda. Estão juntos por uma questão de pratica e comodismo. Sera que alguem sabe o que é amar realmente...?tou convencida que não.
ReplyDeleteAlvim.
ReplyDeleteF*dasse. Nem mais.
É a diferença entre a relação de amor e a relação de compromisso. A diferença entre o bater cardíaco acelerado sem explicação aparente e o querer, porque a morena de 1.80m e belos pulmões, levava uns belos apupos (e que até acaba em qualquer coisa...).
Secalhar é por causa disso que não sou muito de experimentar peixes, nunca sei se vou ficar com espinhas travadas na garganta. Ainda me lembro do dia em que me deu na mona experimentar arroz de camarão quando era chavalo e até hoje não quero outra coisa.
É o feeling vs pensamento. E se o feeling alguma vez falhar, acho que mais rápido acaba em separação ordeira, do que um divórcio escangalhado. Não há como enganar.
Já perdi a conta ao número de vezes que coloquei este texto no meu blog, no facebook (sempre com os devidos créditos, obviamente eheh), que o li, reli, que o entreguei à namorada da altura para ela abrir os olhos... enfim muita coisa já terá saído dessa cabecinha Alvim, mas poucas se poderão equiparar a este texto!
ReplyDeleteQue venham mais pérolas destas cá para fora!
Fenomenal...
ReplyDeleteÉ o teu ex libris Alvim!
ReplyDeleteMuito bom texto! ;)
ReplyDeleteEspecialmente o paragrafo final!
realmente o vizinho da frente tinha razão, o que o Mundo andava a perder, estou impressionada..
ReplyDeletePor vezes gostamos de alguém, no entanto a forma como o transmitimos assusta, sentimo-nos impotentes para fazer melhor, mas gostamos e queremos muito aquela pessoa! Concordo, mas não a 100%, existem personalidades que não se exprimem muito bem do ponto de vista afectuoso...
ReplyDeleteMas quando só um dos "nós" pensa assim, possivelmente só esse "eu" é que gosta. O outro, ou nos cria a ilusão do que é o sentimento gostar - vá-se lá saber que prazer há nisso (se é que não é apenas o tal medo de avançar) - ou nem se dá ao "trabalho" de nos fazer sentir que o único alicerce do que sempre julgámos ser o "nós", é o "eu".
ReplyDeleteConfuso?
Essa coisa de gostar de alguém dá trabalho, e talvez as pessoas estejam cansadas dos esforços que têm de fazer para que algo resulte. Se calhar, com o tempo, fomos esquecendo as "regalias" que podíamos obter disso.
"Nobody said it would be easy, they just promised it would be worth it"
Mas é isso..quando se gosta de alguém não há limites. Não há barreiras. E mesmo o medo de que tudo aquilo algum dia termine, acaba por ser substituído - por mais ou menos tempo - pela vontade de que tudo, afinal de contas, resulte.
Execelente post/memória!
OLHA LÁ Ó ALVIM ESTE TEXTO É DO MEC
ReplyDeleteParabéns pelo texto.
ReplyDeleteGostei e fez-me recordar certas coisas do passado em que não havia as tcnologias de hoje, mas quando se gostava de alguém, confirmo-o, até no meio de uma grande multidão via-se quem se queria.
Cumprimentos
Essa coisa de gostar de alguém é tão simples e no entanto gostamos sempre de complicar. Na verdade o complicado é gostar assim de alguém…
ReplyDeleteCaro amigo não me consigo lembrar como é que cheguei a este blog, talvez através de alguma de essas “amigas encardidas pelos festivais de verão” em comum. Mas não quero deixar de partilhar o que “essa coisa de gostar de alguém” provocou em mim. O problema de “essa coisa de gostar de alguém”, mais do que incapacidade genética, herdade ou adquirida de comer bivalves sem ficar com urticária, é não querer deixar de petiscar as gambas de moçambique, mesmo quando temos um camarão tigre no prato, ficando sempre a achar que no fundo aquilo são delicias do mar e que lá no mar alto deve andar uma lagosta a dar-a-dar.
ReplyDeleteQuando gostamos de “alguém” , vemos sempre as suas sms porque estamos constantemente a confirmar se recebemos alguma e passados 10 anos não só as expectativas não mudaram sobre o “alguém” como ainda temos aquela sms, que conseguimos salvar de nokia-em-nokia até chegarmos ao iphone !
Na verdade, quando gostamos de “alguém” , não só não deixaremos de estar com esse “alguém” porque os nossos pais estão doentes, mas pelo contrário, estaremos com “alguém” por causa disso. Pois é uma óptima desculpa para repousar a preocupação nos braços do ” alguém”!
Ao gostar de “alguém” normalmente o acidente somos nós!
Alvim... tu ainda vais ser o Ministro da Cultura deste pais :))
ReplyDeleteSimplesmente Lindo!
ReplyDeleteAté me arrepiei...porque passei a minha vida toda a dizer o mesmo...e ainda assim....
ReplyDeleteBeijinhos
Sil
myfashionscript.blogspot.com
Parabéns Alvim! Pela sensibilidade e capacidade de o exprimir, pois isto de gostar de "alguém" não é para todos...
ReplyDeleteFelizes daqueles que sabem amar, pois apezar de sofrerem muito quando não são correspondidos, conseguem sentir aquilo que os outros nunca sentirão:) Eu sou Feliz!!!! C.L.
Simplesmente espectacular!
ReplyDeleteGostar de alguém é gostar assim, simplesmente. :)
ReplyDeleteQuando se gosta, gosta. Eu acho, apesar da minha tenra idade, que o Alvim está apaixonado. Pronto, agora quando ao texto em si... Parabéns Alvim, espectacular, estás á vontade para o repor no próximo verão quando as tuas vizinhas tomarem banho, antes dos festivais, claro... abraço
ReplyDeleteGostei, mas pensava que no final a pergunta seria... será que para gostar de alguém não temos que gostar de nos mesmos em primeiro lugar?
ReplyDeleteEstás armado em Margarida Rebelo Pinto?
ReplyDeleteO Alvim está 'in love' eh eh eh
ReplyDelete(mas tem razão no que escreveu!)
Ora nem mais!
ReplyDeleteTrue Story.
ReplyDeleteAsí se habla!
ReplyDeleteEste texto compara alhos com bugalhos. Uma relação entre adolescentes imberbes a brincar aos telemóveis é incompatível com uma relação onde se é esperado ir ter a um local de acidente ou hospital. São realidades mutuamente exclusivas e portanto nunca equacionáveis numa mesma relação. O que acontece é que muita gente passa a vida distraída em futilidades e a enredar-se em desculpas esfarrapadas, algumas quase tão esfarrapadas quanto elas próprias...
ReplyDeleteO problema é depararmo-nos com o amor não correspondido. O dilema é: tentar conquistar e fazer figuras correndo o risco de nunca conquistar ou simplesmente desistir..
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