Monday, April 30, 2012

Gosto. Não gosto!


O mundo está dividido entre as pessoas que gostam, as pessoas que não gostam e as pessoas que não dão a sua opinião antes de saber a posição das pessoas que gostam e não gostam. E não há nada melhor do que vermos alguém com os dentes afiados e as unhas aprumadas a ser obrigado a recuar como se tivesse acabado de entrar numa estrada que afinal está cortada devido a obras de pavimentação. E nisto, há uma espécie de solidariedade, um corporativismo atávico, entre os detractores e a Laurinda Alves. O detractor quer sangue, quer morder no pescoço, mas antes de partir para essa função certifica-se de que irá ser bem-sucedido, perguntando desde logo o que pensam as outras pessoas sobre a sua futura vítima com perniciosas questões como: olha lá o que é que tu pensas sobre isto? És amigo daquele indivíduo, conhece-lo bem? E dependendo da resposta, o detractor sai fortalecido como se lhe dissessem "meu amigo, se quer sangue, saiba pois que eu também sou vampiro, vamos a isso!" ou recolhe as unhas e as orelhitas à posição inicial se lhe revelam justamente o oposto. Neste contexto, que são vegetarianos.

O grande problema das pessoas que não gostam são justamente as pessoas que não gostam de nada e nas pessoas que gostam o problema são as pessoas que gostam de tudo. E porquê? Porque num caso ou noutro, isso as descredibiliza. Há quem faça carreira a dizer mal e o exemplo paradigmático disto mesmo é – e reparem como o nome aceita que nem uma luva – o Medina carreira. Contudo, do outro lado, outros há que preferem o bem e o céu azul e que por gostarem tanto mas tanto, por falarem tão bem de tudo, arriscam-se de forma muito séria a morrer de felicidade.

Ainda assim, há um outro tipo de pessoas que formam uma espécie de subgrupo dentro destas: são as pessoas que gostam mas. As pessoas que gostam mas, são muito diferentes das pessoas que não gostam mas. As pessoas que gostam mas, são normalmente menos francas do que as pessoas que não gostam mas. E digo-o e reafirmo-o se quiserem, porque sinto nesta primeira espécie uma falsa bondade, um desonesto laurinda-alvimismo, como quem diz "gosto muito do António, é bom moço, mas olha que me saiu um bom cabrão", enquanto as pessoas que não gostam mas, assumem frontalmente que não gostam dizendo que o António é um bom cabrão mas – e aqui há toda uma esperança que importa reter, há todo um potencial Gandhi a crescer – também é bom moço,  é um excelente rapazinho. Daí que muitas pessoas, não se reconhecendo nem numas nem noutras, se fiquem pelo mas, como se estivessem a interpelar alguém para fazer uma pergunta mas não o deixassem falar. Para que me entendam: tipo Judite de Sousa a entrevistar José Sócrates nos tempo áureos. As pessoas mas, são muitas vezes confundidas como pessoas más, mas isso é justamente uma confusão criada por essa gentalha má para mais uma vez interromper e não deixar acabar a frase das pessoas mas. Por isso, e numa justíssima homenagem a estas últimas, a estes interrompidos crónicos que nunca conseguirão acabar uma frase, que acabo esta com com um nobre e finalíssimo mas.

Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i

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