Thursday, March 19, 2015

O poeta António Pedro Ribeiro faz o Balanço Vital do Fernando Alvim


5 FACTOS QUE ME ACONTECERAM

1) Braga, Setembro de 1990. Eu cantava na banda Ébrios e escrevia para um jornal de Braga. O director do jornal propôs-me escrever um artigo contra o hipermercado "Feira Nova" que tinha um conflito com o jornal. Em vez disso, dirijo-me de manhã cedo ao jornal e sugiro que se distribuam panfletos anti-consumistas e contra as grandes superfícies no hipermercado. Assim se fez. Os jornais de Braga publicam a minha foto e colocam o título "Che Guevara manda fechar o hipermercado". Vou a passar na rua e há pessoas a fugir de mim, os operários largam as obras, na Avenida Central os velhotes fazem-me continência. Parecia uma revolução.

2) Póvoa de Varzim, 2003. A Câmara da Póvoa de Varzim edifica uma estátua do major Mota, presidente da Câmara no tempo da ditadura e Comandante da Legião Portuguesa. Eu, sozinho, em nome duma Frente Guevarista Libertária, distribuo panfletos à população contra a estátua e em defesa do 25 de Abril. Passados 3 meses a estátua cai. A Câmara acusa-me de ser autor do acto. Sou chamado à Polícia Judiciária. Não há provas. Os inspectores passam duas horas a falar comigo do Fidel Castro e do Che Guevara.

3) Póvoa de Varzim, 2011. Sou acusado de ser co-autor do blogue "Povoaonline" que acusa o ex-presidente da Câmara da Póvoa, Macedo Vieira, de corrupção. Sou levado a tribunal. Saio ilibado. Não chego a ir a julgamento.

4) Festival de Paredes de Coura, 2006. Digo poesia ao lado de Adolfo Luxúria Canibal e de Isaque Ferreira. O Centro Cultural de Paredes de Coura a abarrotar. Digo "When The Music's Over" de Jim Morrison, "Borboletas" e "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro", o meu grande êxito, editado pelo Valter Hugo Mãe. Falo de Deus, da infância, da minha mãe, dos vícios que ganhei e que, aos 18, não tinha. O público ri, grita, intervém, ovaciona. Foi a melhor actuação da minha vida.

5) Braga, 1984. Um amigo meu, o Jorge Pereira, empresta-me o disco "Strange Days" dos Doors. Eu já conhecia os Pink Floyd e as letras contestatárias do Roger Waters mas quando ouvi aquele álbum, especialmente a longa canção "When The Music's Over" e quando o Jim Morrison gritava "We want the world and we want it...NOW!", bem, todas as missas acabavam ali, todas as infâncias acabavam ali, um novo mundo se inaugurava, um mundo de liberdade e descoberta, um mundo de revolta contra o instituído, um mundo de portas abertas.


5 EVENTOS QUE ME PROPONHO REALIZAR

1) Gostava de criar um jornal panfletário, revolucionário e cultural.

2) Gostava de voltar a actuar no Festival de Paredes de Coura ou noutro.

3) Gostava de um mundo livre, sem repressão, sem castração, sem controle, onde os homens e as mulheres se tratassem como iguais, onde acabasse o primado do dinheiro e da economia.

4) Gostava de ser mais reconhecido.

5) Gostava de ser um filósofo.

No comments:

Post a Comment