Miss B., a bissexualidade e o meu prefácio

A melhor coisa que me poderia acontecer um dia, era acordar num mês igual aos outros e de repente perceber que me havia tornado num bissexual. Juro que falo a sério e só de pensar nisto, soluço de incontido desgosto. Ser heterossexual é ser só um, ser bissexual é ser dois, heterossexual é bife com batatas fritas todos os dias, bissexual é alimentação variada, ora um bife com as tais batatas num dia, ora um robalo grelhadinho que está uma maravilha, ser heterossexual é ter só os 4 canais abertos, ser bissexual é ter esses 4 canais e a tv cabo e a cabo visão. Daí que me pareça fácil concluir, que no mínimo a bissexualidade, significa o dobro das possibilidades em relação ao estado hétero, o que me parece manifestamente vantajoso. E então, se assim é, como se explica que não sejamos todos bissexuais? Como se conforma alguém por ter só uma parte do mundo, quando poderia ter as duas? Querem saber mesmo a verdade? Estão preparados para isso? Pois cá vai: olhem, não sei, não faço ideia, estou agora aos pinchos com revolta no local onde escrevo mas nem isso me dá uma resposta. Talvez a bissexualidade não seja para todos ou então pode ser mesmo algo que é para todos de facto, mas que muitos se recusam a usar. E eu, se não fosse lamentavelmente heterossexual, usava.

A bissexualidade como seria de esperar tem crescido ao longo dos anos e parece-me que este é um processo literalmente sem marcha atrás. Aliás, a haver alguma marcha, não tenho dúvidas que essa será a marcha tudo. De resto, é curioso notar sorrateiras manifestações até de algumas marcas, que embora nunca o admitam visto o assunto ser para muitos ainda tabu, o façam de uma forma sugestionável para quem percebe disto. Senão reparem, o que dizer do iogurte bi-danone? Estão a ver, não existe nenhum hetero Danone ou há? Do mesmo que não há vestígio de uma cultura heterológica mas ninguém tem dúvidas que existe e está a crescer a cultura biológica? Concordam ou não comigo? É ou não verdade o que escrevo e aqui revelo? Pois não faço ideia de novo, peço desculpa.

O que tenho a certeza é que este livro que agora prefacio vai fazer muito pela libido de Portugal e fazer esquecer de vez os discursos frígidos do ministro Vítor Gaspar. A autora - Miss B -, ao contrário da grande maioria dos comentadores desportivos, foi a campo perceber como é que se faz, não se limitou a dizer que aquele jogou mal e que poderia ter feito melhor, a autora foi à relva, rebolou em muitos casos sobre ela e marcou golo e fez levantar um estádio, às vezes dois e outras coisas que a minha primeira comunhão não me permite agora revelar.

A Miss B despiu-se e cada uma das palavras e frases que se seguem tiraram a roupa com ela. É pois com uma nudez nunca antes vista numa obra literária deste género que eu próprio, em absoluta solidariedade com toda esta gente, acabo por tirar as minhas meias. Espero pois que ninguém consiga ficar com roupa antes de chegar ao final deste livro.

Fernando Alvim