Thursday, October 30, 2008

A crise


A crise mundial foi só um problema porque acabou com algo que era só nosso: a crise portuguesa. A nossa crise era uma coisa muito nossa e quando alguém se referia a ela com perguntas como “Tu já viste esta crise?” sabia bem responder “Isto só aqui, isto só aqui!” enquanto abanávamos a cabeça. Eu não conheço Portugal sem estar em crise e não é por isso de admirar que as pessoas até gozem com isso, negando muitas das vezes a sua existência: Olha, estou nas lonas, tu não levas a mal que eu não pague a renda este mês? E já alguém vai dizendo entre risos: “ Não há crise!”. E há. Só que agora existe a nossa e a dos outros. E eu acho que a nossa crise é melhor, da mesma forma que admito que o bacalhau da Noruega tem outro sabor e que as brasileiras são as mais atrevidas. Agora, crise? Crise é a portuguesa, é de Portugal, não me venham cá com outras histórias.


Reparem que a crise mundial afectou como o próprio nome indica todo o mundo, mas curiosamente em Portugal, eu não vi nenhum banco a fechar, nenhuma instituição secular ir à falência ou sequer tremer das mãos. E porquê? Porque em crise estivemos sempre nós, só que agora dizem que é mundial e uma cambada de mariquinhas – que é o que são - começaram logo com “ ai socorro, ai a minha vida, ai que eu morro e coisa e tal”. Quando não o deveriam. E em vez disso – isso sim – deviam era pedir ajuda ao nosso país que rapidamente lhes prestaria auxílio com qualquer um dos seus cidadãos, que habituados a isto - não conhecemos nós outra coisa – explicaríamos com detalhe a forma de conviver com esta coisa da crise.

O mundo roubou-nos a crise e Portugal não se pode ficar. Por mim, cortava-se já uma estrada. Uma rua. Os pulsos, eu sei lá. Mas algo tem que se cortar, algo tem que se cortar, que isto não fica assim. Ou pensam que brincam connosco e nos roubam assim o nosso bebé? Não senhor, vão devolver isso e é já. E digo isto, porque sei que no fundo gostamos da crise, como aquelas mãe que dizem “ ai nunca vi um filho asssim, é má vida, não faz nada, é drogado!” mas que no fundo - vamos cá ver - no fundo só o dizem porque gostam muito de nós embora para os outros não o admitam. Eu gosto muito de Portugal e dentro de mim tenho uma bandeira estendida no parapeito da varanda, mas quando sei que estou a falar em público, não digo o que penso apenas e só para não habituar mal o país, para que este não se resigne, para que faça mais e melhor, para um dia se pare de dizer “Que isto está em crise e nunca esteve assim o negócio!”

2 comments:

  1. “ ai nunca vi um filho asssim, é má vida, não faz nada, é drogado!”

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  2. "AS BRASILEIRAS SÃO AS MAIS ATREVIDAS".....por acaso isso foi pelo que eu disse outro dia aqui no blog?

    Meu amor por ti é o mais puro e verdadeiro!

    Bjocas

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