Gosto de sair à noite, mas nem sempre foi assim. Durante um período da minha vida que gosto de esquecer, saía de dia, mas acreditem que não é a mesma coisa e acaba por ser aborrecido encontrar sempre as senhoras da limpeza. Não é que eu não goste ou que tenha alguma coisa contra, mas nunca achei muito- como direi? - excitante, ver mulheres com uma voluptuosa farda azul a varrerem o chão e a recolherem os copos.
O que eu gosto mesmo é de sair à noite, pela tardinha. E eu saio. E gosto. E bebo uns copos. E como todos – julgo – tento divertir-me o mais que posso e se possível conhecer alguém que queira vir comigo tomar o pequeno-almoço. Uma meia de leite e uma torrada bem aparada, aqui para a mesa do fundo, se faz favor! E todos se olham e penteiam o mais que podem enquanto comentam a noite anterior “Que aquela loira, a do bar, se estava a fazer completamente a ele, mas ele não podia dar o flanco porque estava com a outra que afinal o deixou completamente agarrado, pois claro!” e a outra “A morena que estava com a prima, que passou a noite inteira a enviar-lhe sms’s enquanto se agarrava ao namorado, a porca! Já viram isto?” e todos se riem enquanto partilham as aventuras da noite anterior e comentam quem entra na porta do café. Aliás, as grandes figuras da noite, sabem-se neste momento, na entrada em cena para o pequeno-almoço, na quantidade de “Hei, como tu estás!” que se ouvem, no burburinho gigante da multidão à chegada e em alguns casos, na gloriosa saída em maca para a ambulância.
E existe fama sim. E é esta. A de ter bebido tanto que já nem se lembra. De ter uma vaga ideia de que terá dito isto mas não tem a absoluta certeza – os risos sucedem-se - de que fez algo ali a meio da noite onde lhe parece ter acontecido alguma coisa mas que não se recorda – E alguém pergunta “Olha lá, tu lembraste de te teres atirado à Dulce a noite toda?” – e invariavelmente, ao primeiro indignado “Eu fiz-me à Dulce?” a gargalhada é geral e o episódio é contado ao seu protagonista principal como se este não o tivesse vivido ainda há pouco. “Eh pá, eu não posso ter feito isso! Eu não disse! Eu não fiz! Eu não quero! Eu não estava assim tão mal! Digam-me por favor que isso não é verdade! E todos os “nãos” se transformam agora em “sims” para seu absoluto espanto. E de todas as vezes, perante esta perniciosa perda de memória, os amigos e as amigas aproveitam-se disso para juntarem outros pormenores que na verdade nunca chegaram a acontecer, mas que os divertem tanto ou mais do que os que na realidade existiram, mas que ele nunca terá a certeza suficiente para os desmentir.
E no pequeno-almoço, dá-se conta que entretanto ali se estabeleceu uma espécie de tribunal onde, a um ritmo frenético, são agora trocadas acusações entre todos. “Que tu é que estavas muito mal! Que o outro é que teve a culpa! Que o vodka estava claramente marado! Que aquele disse isto! Que outra está mortinha, mortinha, por estar contigo! Que não, que não foi nada assim e eu é que sei e vou contar a verdade! Que alguém saiu a meio da noite! Que a outra desapareceu ao mesmo tempo! Que não fui eu! Que não foi ela! Que eu é que sei mas não digo! E quanto isto, mais uma meia de leite e “olha-me só para aquela maluca que acaba de chegar, pá! Diz lá que eu não tenho razão! Olha com quem ela está! Eu tinha-te dito, mas tu não querias acreditar, pois aí tens! É mais uma tosta mista que temos que ir para casa. E vamos. E Fomos. A noite termina aqui, curiosamente, no preciso instante em que as senhoras da limpeza com batas azuis voluptuosas varrem já a noite passada e recolhem os corpos, que aí encontram, vazios.
Epah! Grande texto! Quem não recorda estes pequenos-almoços junto aos melhores momentos nunca viveu a 100%! Estas conversas, (também conhecidas por conversas de trigueirinha!) são a 'Pièce de Resistance' da noite! São o encerramento de momentos de diversão que jamais nos esqueceremos ou jamais nos lembraremos, e de qualquer das formas é bom!
ReplyDeleteAbrcs
e estar caidinha de bebada à porta de uma discoteca a achar que aqueles homens q te rodeiam (no caso de seres uma menina!) são "tãããão simpáticos" por se oferecerem pra te levar a casa...
ReplyDeleteeia nunca tinha passado o reveilón em lx, passei pelo bairro e, eu que até curto decadência, tavam ali a ser umas quantas marcas ultrapassadas, o cheiro, meu deus alguma vez me livrarei daquele cheiro, toda a gente a comer-se, subitamente, com a descida das badaladas, impulsionados por uma frustração tóxica ou uma nostalgia repelente, tristeza, novas drogas e novos horizontes deviam ser abertos...
ReplyDeleteWWW.MOTORATASDEMARTE.BLOGSPOT.COM
É muito lindo quando se tem 20, 25 anos, agora com 33 fazer deste tipo de vida uma filosofia de vida...
ReplyDeleteDesculpa-me, mas é deprimente!!
estórias com piada... mas só MTO de vez em qnd.
ReplyDeletenunca tive grande pachorra!
;p
Olá
ReplyDeleteEu até bem pouco tempo passei por isso tudo... às vezes ria-me qdo contavam o que fiz mas era um riso triste por não ter vivido o que os outros viram eu viver.
Chegava a ter conversas de quase 1 hora sem se notar que estava bebida e dizia coisas que nunca me passaria pela cabeça dizer e que no meu estado normal não as penso/sinto, fazia coisas que depois de me contarem achava impossivel, não era eu.
Não acontecia sempre, mas quase sempre, eu dar o click. Por vezes olhava para mim e ficava contente por me lembrar de mim, por sentir que ia me lembrar mas no dia seguinte havia partes, tempos que não batiam uns com os outros e eu ia investigar.. nesses tempos eu tinha existido mas não era eu.
Não quero mais...ano novo vida nova...
Não vou dizer que não gosto de bebados..há bebados lindissimos por dentro mas eu prefiro não fazer parte desse grupo, prefiro os ver/ouvir do que os ser.
Um abraço
As melhores memórias desses momentos são das sempre longas semanas da queima das fitas!! Pena que, não tarda mesmo nada, a vida vai ser outra... :)
ReplyDeleteGrande texto Alvim!!!
“Olha lá, tu lembraste de te teres atirado à Dulce a noite toda?”
ReplyDeleteEsta frase tem um erro, como de resto já é costume nos teus textos. Gabo-te a escrita, que gosto de ler, mas este tipo de erros...
Quanto ao texto...é no mínimo deprimente. Mas, cada um sabe de si.
Grande texto Alvim! Retrata bem alguns grandes momentos que todos já passamos. E não sendo motivo de orgulho tambem não é nada deprimente... è a vida no seu melhor!! :)
ReplyDeleteContinua te a divertir