Sunday, December 07, 2014

Ana Aragão, arquitecta e ilustradora, responde ao Inquérito do Fernando Alvim.



- Umas férias
Numa cidade grande, cheia de gente e de movimento. Pode ser uma cidade qualquer, e não tem de ser bonita, prefiro cidades confusas, com muita informação visual. O importante é que me possa perder nela, nos bairros, nas lojas, entre as pessoas. De preferência estou sozinha. Gosto de calor, de música nas ruas. Prefiro espaços agitados do que sítios muito calmos. O movimento exterior traz-me paz interior. 

- Uma ideia
Deviamos instituir a hora da sesta em Portugal, a bem da produtividade. Acho que os locais de trabalho deviam ter uma área mais informal, onde o diálogo e a discussão fossem fomentados. Um belíssima ideia seria também mudar o calendário para que o fim-de-semana passe a durar 3 dias. Acredito mesmo que as boas ideias surgem, grande parte das vezes, quando estamos distraídos. 

- Uma asneira
Fingir que sei com quem estou a falar. Como nunca me lembro de ninguém, tenho momentos absolutamente hilariantes. Ou trocar o género dos bébés, quando me deparo com alguém com um rebento novo. Devia ser obrigatório vestir os meninos de azul e as meninas de cor de rosa, caso contrário é um enorme desafio adivinhar.

- Uma paixão
As conversas longas, que duram horas, que têm o poder de transformar um desconhecido em alguém cúmplice. 

- Uma curiosidade
 existe um ponto cego na nossa retina, chamado escotoma, que não contém receptores de luz e não nos permite registar imagens. É o nosso cérebro que completa essa imagem inexistente. Ou seja, a percepção do exterior não está completa sem a nossa projecção interior. É absolutamente fascinante pensar como a nossa percepção do mundo tem também uma condição imaginária. 

- Uma pergunta
Porque é que insistimos em traçar linhas imaginárias/fronteiras para tudo e mais alguma coisa? 

- Uma resposta
 "Il n'y a pas de solution, parce qu'il n'y a pas de problème." Duchamp

- Uma lição
 Aprendi que o mais importante não é surgirem boas oportunidades, mas sim estarmos preparados para as agarrar. Acredito na sorte, mas não no sentido de fatalidade. Para mim sorte corresponde à inteligência de saber aproveitar as oportudadades.

- Uma aventura
Andar de bicicleta no Porto. Andar de carro em Gaia. Ou confiar no meu sentido de orientação. É aventura garantida. 

- Um segredo
Não acredito na inspiração, e também não adoro a palavra criatividade. Acredito na inteligência, na capacidade de reinvenção, na ironia, mas sobretudo no "fazer". Arte não é uma epifania divina, arte é (saber) fazer.

- Uma invenção
Mata-secas: equipamento altamente eficaz no combate a momentos menos divertidos e estimulantes. Sempre que estiver a apanhar uma seca, pressiona-se o botão on e o filme Yellow Submarine começa a passar dentro da nossa cabeça.

- Um desabafo
Não há paciência para os títulos cá em Portugal (Sr. Dr., Sr. Eng.º, Sr. Arqto...). Acho que as pessoas se deviam tratar todas pelo nome próprio.

- Um problema
A mania de que toda a gente tem que ser empreendedora, criar o seu próprio negócio ou ter uma ideia brilhante. Não temos todos que ter a ideia mais inovadora e revolucionária do século. A inovação, uma das palavras da moda, não é a maior virtude em todas as áreas. Não temos todos que inventar a roda, porque muitas vezes ela já foi inventada e funciona lindamente. 

- Um herói
O Quino (é o meu super-herói, gostava de desenhar como ele)

- Palavra preferida
Litote. É a figura com mais estilo. 



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