Monday, May 13, 2013

Ninguém disse que ia ser fácil


Durante muito tempo convencionou-se que o difícil é que era bom, que o fácil nada interessava. As pessoas fáceis eram associadas a uma fraca ou inexistente personalidade, as difíceis, justamente o oposto. Ser fácil para um homem já é suficientemente mau, mas experimentem dizê-lo a uma mulher e  pensem imediatamente com as pernas, fugindo enquanto podem para o Magreb. Não há nada pior para dizer a uma mulher do que “és fácil”. E não deveria ser assim . Uma mulher só é fácil para quem quer. Se foi, é porque queria mesmo muito. As pessoas que dizem que aquela ou aquele foi fácil, ou têm ciúmes de não terem sido as escolhidas, ou tendo sido elas mesmas as escolhidas, são umas bestas e não se fala mais nisto. É porque não perceberam nada - nadinha - não perceberam que foi a vontade de estar com elas que determinou ou não a facilidade da resposta. E podemos não estar a falar só de sexo.

Dantes era tudo muito difícil, agora, por mais que a economia seja adversa, as coisas são mais fáceis. Não tanto a vida mas sobretudo as pessoas. E não vejo mal nenhum nisso. Sei o que estarão a pensar muitos, que o difícil terá sempre um outro sabor, mas ninguém pensa na quantidade de coisas que por serem difíceis nunca nos saberão a nada. As pessoas só pensam que é muito melhor quando é difícil e conseguem vencer. Nunca ninguém pensa quando é difícil e não conseguem: ou porque perderam a tentar ou porque nem sequer o experimentaram devido a isso. Eu gosto de pessoas fáceis, de coisas fáceis, da palavra fácil, desde a abertura fácil dos pacotes do supermercado à instalação fácil de um móvel do Ikea. E isto é de tal modo verdade, que ainda hoje irei para a cama com uma receita da Alsa, de fácil preparação. Ou com um banco de crédito fácil.

Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i
[Fotografia de Erin Hanson]

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