Monday, April 16, 2012

Homens de todo o mundo, uni-vos! (VERSÃO COMPLETA)


PARTE I

Os homens todos, sem excepção, deviam levar um merecido par de bofetadas. Mas das bem dadas, daquelas que imprimem silêncio num restaurante cheio de gente. E porquê? Porque as mulheres estão como estão por nossa causa. É que não há outra. Esta coisa de bastar que vistam um decote mais ousado, um vestido mais justo, uma saia mais curta para que nós fiquemos com a cara de um miúdo que quer um brinquedo no toys’r’us tem de acabar. E o que eu proponho é que nos juntemos, todos os homens deste país, em local e data a designar, para numa reunião magna, para definir uma nova conduta, para reduzir o facilitismo e vulgar facilidade com que habitamos as nossas mulheres.

Eu sei que isto é um problema universal – bem estou aqui a lembrar-me de alguns países que não as tratam assim tão bem – mas para os outros, entres os quais o nosso se inclui, penso que é chegada a altura de fazermos alguma coisa. De agir. De mostrar às mulheres que não é assim tão fácil e que não basta, que não chega vestir uma saia mais curta, para de imediato ter vantagem sobre a D. Ermelinda, funcionário fabril, que com este tipo de atitudes se tornou – e com toda a lógica – uma funcionário febril. E porquê tudo isto? Porque as mulheres tornaram-se crianças mimadas a quem não se pode dizer que não a nada. As mulheres estão muitíssimo mal habituadas e agora querem os brinquedos todos. Já não lhes basta o Ken, nem pensem nisso. As mulheres querem o Ken e todos os seus acessórios, do cabrio à pochete brilhante. E a culpa disto é das mulheres modernas, e não da D. Ermelinda. As mulheres modernas, com esta história da emancipação e da queima das sutiãs e da apav e pardais ao ninho, tornaram-se insuportáveis.

Mas tal qual um filho que sabemos ser nosso, isto é uma cruz que temos de carregar. E olhem que às vezes são bem pesadas. Sejamos claros, as mulheres, estas mulheres de que agora falo, são um luxo a que nos tempos que correm nem todos podem ter acesso. Eu tenho muitos amigos que quando tiveram de fazer ajustes orçamentais e cortar em alguma coisa, fazendo bem as coisas perceberam que a sua maior despesa estava justamente na mulher. A tal ponto que muitos deles foram forçados a prescindir das mulher para ficar apenas com a amante. É como, vamos cá ver, é como prescindir da casa principal para ficar apenas com a de férias. Por isso é que há menos casamentos, e eu compreendo perfeitamente.

Um casamento é uma compra, um relacionamento não contratual é um arrendamento. E um arrendamento no período que atravessamos parece-me de facto a melhor das opções. Nada de papéis assinados nem essa coisa de na saúde e na doença até que a morte nos separe. Nem pensem nisso. Homens de todo o mundo, every man on earth, atencion hombres en todo lo mundo, hommes dans le monde (isto é tradução do Google, quero que se lixe) vamos unir-nos e dar um jeito à casa. Até porque, por este andar não existe outro alguém que o possa fazer senão nós. Gostava pois que me imaginassem agora, no alto da serra de Monsanto, com um daquelas megafones em que não se percebe metade do discurso, mas em que se apreendem e aplaudem as palavras e as frases mais fortes. E elas são: basta! E elas são: acabou! E elas são: olhem não sei onde estão as chaves do carro que ainda agora aqui estavam. Esperem, deixem-me regressar a este discurso inflamado.

PARTE II

E onde é que eu ia? Exactamente, as mulheres precisam que não lhes demos assim isto tudo, as mulheres precisam de saber que isto custa, que dá trabalho, que é preciso sujar as mãos, e os pés, e esfolar os joelhos. E olhem que estou com aquela vermelhidão facial que o Ary dos Santos tinha quando dizia poesia e que quase aposto me deixará afónico amanhã.

Mas é preciso que se  saiba. O quê? Que as mulheres estão a dominar tudo isto e estão mal habituadas, caramba! Não tarda nada e a nossa espécie ficará reduzida a uma tímida recordação que terá existido durante uns séculos. E olhem que já há sémen artificial ou lá o que é. Com as nossas mulheres, tal como com o nosso país, precisamos de ser mais exigentes e não sermos mais facilitadores de crédito. Olhem para  o que deu a banca.

Quer comprar  casa? Ah, pois aqui tem. Um carro? Pois com certeza. Férias de neve nas Astúrias? Sem qualquer problema. E depois foi o que se viu. E o que se vê nas mulheres é este endividamento, sobretudo emocional. Fomos enrolados. Aliás, isto nem sequer é um endividamento, é uma enrolamento emocional. E fomos enrolados porque fomos palermas, porque lhes demos tudo. A menina quer a boneca? A menina tem a boneca.

A menina quer ir para casa que não está a gostar da praia? A menina vai para casa arrastando consigo toda a família que até estava a gostar da praia. Por isso, as mulheres que temos, bem ou mal, são da nossa exclusiva responsabilidade. E nós homens, andamos a criar pequenos monstros mimados, princesas que fugirão com os cavalos, autênticas crianças birrentas em que nenhum pai tem já mão, nem muito menos um marido ou namorado ou o que for. Está na altura de exigirmos mais, de não bastar uma saia curta, um cabelo apanhado que só Deus sabe, essa transparência que lhe fica tão bem, esperem:  não, non, not, nicht, ikke; ??? ( outra vez o tradutor do Google) temos de exigir, temos de ser homens, temos de meter mão nisto, mas não é dessa forma que estão a pensar, essa palmadinha que tantas vezes damos quando estão a preparar o jantar, nas raras vezes que o fazem.

Não, temos de dizer que gostamos delas sim, mas que neste momento, não só já têm muito mais direitos do que nós, como se tornaram numa espécie indomável a que é necessário aplicar algumas medidas de austeridade. Sendo assim, o que proponho desde já é que durante duas semanas nós homens façamos abstinência sexual. Esperem, durante uma semana, assim é que é, nós homens façamos abstinência sexual, um blackout físico, para elas saberem o que é bom para a tosse. Para a semana continuarei esta crónica, até porque há justamente um exemplar desta espécie maldita de que acabo de falar a bater-me à porta. E pelos vistos quer entrar. Deus me ajude.

Fernando Alvim
Publicado originalmente no Jornal i

2 comments:

  1. Medo Alvim?!?!?!?!?!
    Quando a coisa se inverte é tramado, não é?

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  2. eu proponho não 2 semanas de abstinência sexual, mas a todas as mulheres dois meses!Vamos lá a ver que manda afinal!!!...Mua haha
    Vanessa Urbano

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