Está na moda ter medo, é fashion, nas ruas de nova Iorque não se fala em outra coisa. As pessoas têm medo de tudo, aposto que haverá alguém, neste preciso momento a ter medo deste artigo, a atirar o jornal ao chão e a correr pelas ruas da cidade aos gritos. O medo tornou-se uma marca mais poderosa do que a chanel e em nome dele praticam-se as maiores atrocidades, como se este fosse um novo Deus. As pessoas têm medo e eu não as censuro porque também o tenho. Mas não tenho medo de tudo. O mundo ocidental está a ser derrotado por isto, por este medo doentio, como se tivesse uma arma apontada à cabeça. As pessoas têm medo de falar, de escrever, de dizer o que pensam por temerem perder o emprego, os amigos, a mulher e os filhos e sobretudo a vida que têm ou pensam ter. Daí que seja comum que as pessoas que não têm uma vida, não tenham medo de nada, porque não há nada a perder. Quando se perde a vida, a nossa vida, ficamos com uma coragem de Rambo à nossa volta e com a faca na boca, deslizando pela cerrada vegetação, estamos dispostos a honrar a vida que nos tiraram, subtraindo a vida de outros, como se isso devolvesse a nossa.
Engano. A vida que nos é tirada não nos é devolvida deste modo, mas exactamente de forma oposta. É ao darmos a vida a outros, que ganhamos de novo a nossa. Mas não é fácil perceber isto, porque existe essa coisa a que chamamos vingança. As pessoas passam a vida a vingar-se da vida que têm ou da vida não têm, já não sei bem. Mas o que sei, é que se não houvesse vingança, não nos mataríamos tanto, inclusivamente, a nós próprios.
Mas calma lá, eu não estou aqui a citar a bíblia nem coisa parecida, não é nada disso. Eu não estou a afirmar que devemos dar a nossa vida pela dos outros, mas sim, e repito-o: a dizer que devemos dar novas vidas para além da nossa. Só isso. E não é pouco, bem sei.
Mas existe o medo – oh o medo, deus credo! – e é esse barulho que ouvimos a altas horas da madrugada na cozinha, que nos impede de sair do quarto quando é quase certo que foi um tacho mal posto, que terá caído sem que ninguém lhe tocasse. O mundo tem que sair do quarto sem medo e sem perguntar se "Está aí alguém?" porque se estiver alguém, esse alguém nunca irá responder com o tal medo que nos permite localizá-lo e fazer-nos disparar com o medo que trazemos. Porque é isto que aprendi nos filmes de acção. Porque o Rambo nunca pergunta se está aí alguém? Porque não está ninguém. Porque tudo não passa de um tacho mal posto no armário da cozinha.
O Rambo é que sabe!
ReplyDeleteQuando se fala de medo vem-me sempre ao pensamento, o medo não nos deixa viver.
A cada movimento tento sempre racionalizar, é o tacho, é a madeira a estalar...
Gosto muito do que escreves e das noites animadas no Sardinha ;)
Pois...medo mesmo (irracional, estúpido, idiota e supersticioso, o.k. eu admito) eu tenho da minha sogra!
ReplyDeleteE o que ele me impede de fazer?!
E o que eu me insulto a mim própria por isto?!
Não se riam, às vezes acho que preciso de apoio psicológico urgente!
Eva
Olá, Alvim!
ReplyDelete"As pessoas têm medo de falar, de escrever, de dizer o que pensam por temerem perder o emprego, os amigos, a mulher e os filhos e sobretudo a vida que têm ou pensam ter."
Retive esta frase porque é aquilo que vejo e sinto. Cada vez mais indentifico-me com a frase de Manuel Alegre "A mim, ninguém me cala". Mas sei que essa atitude perante a vida tem o seu preço, ou melhor dizendo, tem o seu medo. Há um ditado popular que diz "Quem cala, consente". Não sei se é por ter 40 anos, mas à medida que os anos passam, tenho menos medo. E sei que se os portugueses tivessem menos medo e não estivessem tão agarrados ao seu trabalhinho, à sua vidinha rotineira e vazia, que Portugal estaria melhor!!!
Parabéns, Alvim por este texto!
Bom ano!
EHEHEHEHEHEH, Rais'part'ó tacho.....bem visto.
ReplyDeleteMuahh
Texto excelente!
ReplyDeleteE bastante verdadeiro...somos todos muito medricas :)
neste mundo, viver com medo, é inevitável ;)
ReplyDeletepor favor não deixes de escrever.
ReplyDeletecom os meus alunos trabalhei a obra o gato e o escuro, do mia couto, e foi só aí que eu aprendi o que era o medo. foi uma descoberta de medos. acho que todos os meus pequerruchos são rambos :)
ReplyDeletegrande Alvim! :)
ReplyDeleteGostei do texto e concordo a 110%.
ReplyDeleteMedo de ser despedido
Medo de não voltar a ter emprego
Medo amar
Medo de não voltar a ser amado
Medo de falhar...
Medo de ficarmos presos sem nunca sequer tentar...
E já às portas da morte... E ca porra, era só um tacho mal posto.
Vivam
Temática muito pertinente :P
ReplyDeleteE concluíste bem. Afinal de contas 90% das vezes há-de ser mesmo a louça mal arrumada no armário!
Claramente o Rambo nunca se encontrou com o Chuck Noris :)! Se tal tivesse acontecido, percebia que o medo faz parte da condição humana e é difícil de se lhe escapar!
ReplyDeleteEu por exemplo, tenho sempre medo de ir a uma gasolineira, instituição bancária e afins... não o medo do que me pode acontecer, mas medo que a simpática senhora do outro lado do balcão me diga- "Está aí alguém?"!!
All in all exclente texto, uma injeção de testosterona não fazia nada mal a muita boa gente .
Cumprimentos
Nelson Santos
Temos medo ou receio? Ou será que são a mesma coisa? O medo penso que seja uma espécie de Adamastor que não nos permite seguir em frente ou pensar sequer ter um objectivo, um desejo, seja la o que for porque temos medo...simplesmente temos medo ou muitos medos (isto assim ja é patológico)...
ReplyDeleteO receio é uma espécie de salvaguarda para as coisas más que nos possam acontecer...temos cada vez mais receio de amar ou entregarmo-nos a alguém de corpo e alma...mas o receio não nos impede de nos entregarmos a outra pessoa...o máximo que pode acontecer é pensarmos: eu tive algum receio porque realmente aquele traste realmente não era pra mim...mas foi optimo...
medo ou receio?? já que temos de sentir alguma coisa pra não nos julgarmos uns verdadeiros rambos de tachos e panelas eu prefiro, de todo, um receiozinho.
beijinhos capitão.
?!
ReplyDeleteFelizmente ainda nao sou eu quem arruma a louça, ou loiça, cá em casa, porque caso fosse não haviam cá tachos a cair às quatro da manhã e a interromper o meu sono de beleza. Grande texto com uma critica no ponto certo, o dedo na ferida. Quantas vezes temos de engolir o orgulho no nosso dia-a-dia? Esse é o maior sinal de medo.
ReplyDeleteConfesso que estava aterrorizado quando comecei a ler este texto, não fosse cair-me um tacho na cabeça entretanto.
ReplyDeleteOh Alvim, pá... não sei será sensato regularmos-nos pela forma de como o Rambo reage ao medo.
ReplyDeleteEu não vivo em medo... quer dizer, tenho alguns receios e assim... mão definitivamente não vivo em medo...
Ah!! Minto! Tenho medo, mesmo muito medo que façam mais um filme do Rambo ou do Rocky.
Caray... só de pensar nisso tremem-me os joelhos!
Alvim, És grande!
ReplyDeleteDepois de imenso tempo sem cá vir ao teu blog, soube-me bem ler este artigo.
Beijinhos,
Teresinha
Bem eu medo assim a sério, só mesmo de palhaços e já é ridículo o suficiente para aturar as piadolas de sempre dos colegas acerca dessa fobia assim a modos que parva.
ReplyDeleteQuanto texto acho que o medo aumentou porque a falsa sensação de segurança caiu por terra, porque caso sejamos despedidos ou não concordemos com algo ou comecemos a pedir demasiado existem 50 pessoas à porta com as mesmas (ou mais) habilitações que nós e dispostos a trabalhar nas condições que nós não consideramos adequadas.
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