O teasing

Fica sempre bem usar um estrangeirismo para definir uma modalidade universal. E o "teasing" não tem tradução possível em português a não ser uma expressão de péssima verbe que não ouso aqui revelar. Algo muito próximo do parece que é mas não é. Isto é o teasing. O teasing é aquela mulher que passa a noite inteira a dizer que faz e acontece, e no final da mesma, deixa-nos invariavelmente sozinhos no mesa a pedir mais um whisky com gelo, se faz favor, que já é tarde. O teasing é o sonho eternamente adiado, mas só para quem é vitima deste método. Porque para quem o pratica, não é um sonho, é apenas uma táctica de obter o que se quer, à custa da ingenuidade dos outros. O teasing parece, mas não é. O teasing pisca o olho, usa mini-saia, diz 'era bom estarmos sozinhos' enquanto nos passa a mão pela perna. E continua por ali abaixo. E insinua, mas não faz. Daí que quem o faz não possa ser qualquer um. Só faz teasing, quem o sabe fazer bem, quem parece que irá fazer mais mas – e aqui é que está – não faz.

O teasing promete. Vive da eterna glória. É uma promoção de um filme de cinema que só escolhe as melhores partes e quando vamos a ver o filme todo, percebemos que não havia mais nada do que aquilo. O teasing promete ser assim o filme todo, mas com verdade, não demora mais do que um minuto. Era só aquilo. Muito pouco quando parecia tanto. E contudo, leva muita gente ao cinema. E ainda assim, engana todos à sua volta que acreditaram que aquilo podia ser muito mais do que apresenta. Mas não. Era só o que aparentava.

Há pessoas que se escudam no teasing porque tiveram um minuto de fama, e posto isto vivem à custa dele, fechando-se em casa, não abrindo a boca, escudando-se numa glória que sabemos não ser justa, na esperança de que esta não passe, que dure até se perceber que é um adiamento, que na verdade, não passa de um embuste. Daí que alguns profissionais do "teasing" não façam mais nada a não ser isso. Vão dizendo que fazem e acontecem e que não estão para perder tempo com indivíduos menores, porque sabem – aqui entre nós – que na sua próxima aparição deixarão de poder viver à custa disso. E há quem adie tudo isto, até perceber que as imagens a que se referem – o tal glorioso momento – são já a preto e branco. Que estão gastas, tal qual camisa preta de gola esbranquiçada. Que foram ultrapassados por aqueles, que não tendo a sorte de nunca ter tido aquele minuto de glória, trabalharam sempre na tentativa de o obterem. E nunca o tendo, ainda assim os superam.

Quem faz teasing é calão, copia nos testes e vai passando. Até ao dia em que lhe aparece uma prova global, em que o isolam de todas as mesas, em que tem provar que todas as outras notas não foram por engano nem golpe de sorte. Nesse dia, quem faz "teasing" é ultrapassado por quem nunca o fez.