Saturday, December 13, 2008

Que é feito de nós?





Em Portugal gosta-se muito de dizer que lá fora é que é bom e lá fora é que dão valor às nossas coisas e que lá fora não acontece nada disto. E eu – que já estive lá fora algumas vezes – quer-me parecer que os outros países fazem exactamente o mesmo que o nosso . Ora, sendo isto uma imitação e facilmente percebendo que uma imitação é sempre – antes de tudo – um elogio, pode-se começar por dizer que Portugal pode não ser assim tão mau.



Mas isto já vem de longe, dos tempos do liceu, da 4ªclasse do antigamente, em que o mau comportamento na sala de aula era fortissimamente repreendido com um severo aviso da professora: “Olhe que se continuar assim vai lá para fora!”. E ao perceber que se assim continuássemos, saímos dali e íamos lá para fora, nós continuávamos caramba e fazíamos pior ainda. E sendo assim, a professora ponha-nos lá fora sem que precisássemos de qualquer documentação. E nós íamos. Íamos lá para fora, em busca de uma nova vida que não teríamos encontrado aqui, nem muito menos na sala de aula. Daí que não foram poucos os que se aproveitaram disso para se entregarem a outros países como quem dorme fora de casa, para comprar cigarros, na esperança de um dia voltar à sua. Se bem que normalmente quem sai de casa para comprar cigarros, na maioria das vezes, nunca mais volta. Ainda se fosse outro produto, agora cigarros, é complicadíssimo.



Às vezes penso que Portugal terá emigrado para um desses países e quem cá esteja sejam outros em vez de nós e que precisamente por isso, não têm aquele apego que normalmente as pessoas nascidas e criadas num sítio costumam ter. Eu vi isto numa série que se chamava Batalha Final e que deu há uns anos em Portugal na RTP e acho que é bem possível que seja isto que está a acontecer. Na série, se bem me recordo, os extraterrestres, eram iguaizinhos a nós, falavam como nós, pensávamos como nós, mas quando tiravam a carcaça facial com que estavam revistos, percebia-se que não éramos nós e eu gritava muito no sofá.



Daí que eu queira saber onde estamos nós, quem nos terá raptado, quem são estes que agora andam por aqui a fingirem ser portugueses? Já reparam que agora no supermercado é só roupas espanholas? Cervejas alemãs? Queijo francês? Móveis suecos? Telemóveis finlandeses? Computadores japoneses? Já reparam nisto? É óbvio que isto só está a acontecer, porque não somos nós que estamos cá. São outros que eu não sei quem são. Porque nós, nós estamos há muito lá fora. Desde que fomos expulsos da tal sala de aula.

6 comments:

  1. Bem... Com este texto, já percebi porque é que os professores evitam cada vez mais, mandarem um aluno para a rua!

    O que tenho reparado nestes últimos dias e, por causa desta crise económica, o povo lusitano tem ampliado o seu ângulo de visão estando mais atento ao que se passa nos países vizinhos. Isto porque já se houve a expressão: "Quando a América espirra, a Europa constipa-se", o que já não é mau estarmos incluídos nessa Europa.
    Para além disso e, seguindo a lógica do teu último raciocínio, é vergonhoso ver a monstruosa expansão que tem vindo a adquirir o comércio chinoca no nosso país. Mais vergonhoso ainda, está no novo nome colocado a uma das cidades de Portugal. Pois é, estou a falar do Algarve que agora se chama Allgarve (eu até ia dizer "do nosso Allgarve", mas com esta adaptação, passou a ser de todos menos nosso!).

    Agora, o que não é vergonha nenhuma é o facto de eu ter colocado o teu blog nos meus favoritos. Espero que não haja problema.

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  2. hoje ouvi-te na antena 1 e agora chego aqui e leio este post. Tu ás vezes até pareces um tipo inteligente.

    Quanto a Portugal ja se sabe: "so neste país é que se diz: so neste país..."

    Trato-te por tu porque ja te ouço à alguns anos. Seja na radio ou tv.

    abraço

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  3. Certeiro, fernandão.
    A propósito dos portugáis que tens escrito, conheces a revista "Nova Águia"? É inspirada na "Águia" que existiu para aí há um século em que colaboravam Fernando Pessoa, Agostinho da Silva, Teixeira de Pascoaes e etc. (www.novaaguia.blogspot.com)
    É semestral, o segundo número saiu há um mês e, tal como os teus "50 anos de carreira", também anda por aí fora em lançamentos.
    O primeiro número saiu em Maio ou Junho passado e tem lá um texto meu publicado.

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  4. O gato é teu? Peço desculpa, nem li. É que ele é amavél!

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  5. Pequena correcção, Alvim.

    A professora "punha-nos lá fora" e não "ponha-nos lá fora".

    De resto, fantástico como sempre.
    Abraço

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