Ao contrário do que muita gente pensa, não é qualquer um que pode dar-se ao luxo de não fazer nada. Fazer nada é não fazer nenhum e erradamente muitas vezes isto é confundido com estar na ronha ou exercer o direito à preguiça, o que convenhamos, está completamente errado. Para as pessoas de bem que estão a ler este artigo – e serão muitas, convenhamos! - É fácil perceber que existe na atitude da preguiça e da ronhice uma honesta convicção de que estamos sem fazer nada, mas que amanhã faremos muito para compensar o tempo perdido e nos sentiremos mal – pessimamente até - quando ao final do dia assumirmos que nem sequer saímos de casa, que isto de darem filmes série B aos Domingos é um vício que pode tornar-se sério.
De entre todas as pessoas que não fazem nada, as mais extraordinárias são as que, neste domínio, parecem estar a fazer muito. E assim, as pessoas-que-não-fazem-nada-e-parecem-estar-a-fazer-muito, nunca estão disponíveis para o que quer que seja. E porquê? Agora não senhor doutor, que estou ao telefone a resolver um assunto de última hora, peço desculpa! Impossível ficar até mais tarde porque já tenho afazeres inadiáveis que me o impedem, não posso atendê-lo a essa hora, impensável fazer mais isso que não estava nos planos, não posso, não consigo, não tenho tempo, que gostava muito mas infelizmente não vai dar, queria muito mas não, queria pouco mas não, queria assim-assim e não, não e não. Que está a chover muito, que o meu primo chega hoje de Espanha, que tenho muito trabalho, que estou cheio de coisas, foi azar porque se fosse há 5 minutos atrás bem que o poderia teria feito, que já passa da hora, que é impraticável fazer essa chamada, que dá interrompido, que não adianta tentar, que importa desistir, que dá muito trabalho para o tempo perdido.
E porquê tudo isto? Porque não fazer nada vicia e por isso mesmo, quanto menos se faz menos se quer fazer. Aliás, de entre as múltiplas expressões que são usadas habitualmente, acho injusto usar-se, quanto a mim, de forma infundamentada, as expressões: Não fiz a ponta de um chavo! - Como se alguém fizesse chavos nos dias de hoje! – E pior ainda, se me permitem, tapem agora os olhos das crianças por favor "Não fiz um *******! O que num português menos grosseiro e de maior elevação quer dizer "Não fiz um pénis!" – o que - e perdoem-me por isto - me parece carecer de qualquer fundamento, com excepção dos leitores que trabalhem numa das singulares cerâmicas das Caldas da Rainha.
Pior do que isto, só a expressão "Não fez nada" que quanto a mim é um contra-senso. Lá vamos nós usar o Nuno Gomes para isto. Reparem no exemplo: "O Nuno Gomes não fez "nada"!" o que analisado à lupa quer dizer que ele terá feito alguma coisa e ainda bem, porque – a ver se nos entendemos – ele não fez o "Nada" e não é isso que qualquer adepto deseja, caramba? Pois é. E sendo assim, o que deve ser correcto dizer é "Ele fez nada!". Muito bem.
Ora, o português tem orgulho "em fazer nada" e quando questionado sobre o que faz, ele responde: - Nada! - E todos se riem muito - "eh, eh, que giro, gosto muito de estar desempregado há imenso tempo! - e todos se riem ainda mais – É verdade, quase não tenho dinheiro para comer! – oh oh, que engraçado! dizem – E se não se importam vão passando para cá a carteira que esta fusca não é a brincar, eh eh, que divertido! Então não se riem agora?
adorei...nunca tinha visto isto assim deste prisma...parabéns...gosto muito do teu trabalho.
ReplyDeleteRecomendação de leitura: Os prazeres do Ócio- 24 horas, 24 maneiras de não fazer nada, Tom Hodgkinson.
ReplyDeleteOu como diz o Italiano: "Dolce fare niente".
ReplyDeleteSabes Alvim, eu sou do Norte, mais concretamente de Guimarães, e isto aqui em relação a emprego, já foi chão que deu uvas, mas o povo para contornar a situação foram levados a emigrar... Sabes o qe me dizem? que lá onde quer que esteja a trabalhar, são os melhores funcionarios do mundo, trabalhadores, dão as horas que forem necessárias, enfim qual "Workaholic". E cá o seu passado? Queres saber? Pois, Malandros!
Bem é tipico!
Abraço
Francisco Aristides
:) e Porto Côvo aqui tão perto.
ReplyDeleteE viva Porto Covo para fazer nada. Alentejano que se preze (o meu caso) sabe dominar muito bem a arte de fazer o rigorosamente nada :)
ReplyDeleteesquece-te
ReplyDeleteEssa do "não fazer nada" significar que se fez alguma coisa já eu tinha visto, mas é sempre espectacular verificar que consigo chegar a uma conclusão tirada por um dos maiores ícones da televisão portuguesa. LOL
ReplyDeleteE fazes bem em manter-te na rádio e na SIC Radical, porque se qualquer dia voltares à TVI, ainda acabas a apresentar um "Há Festa no Hospital"!
Continua o bom trabalho no teu programa.
Abraço.
Não fazer nada é tao bom...
ReplyDeleteDigo-o não por ser alentejana(de bem perto do lugar de onde a foto que puseste tem origem) mas sim porque, como qualquer pessoa, depois de muito tempo de trabalho (ou no meu caso estudo) só lhe apetece deitar no sofá para descansar, ler um livro ou ligar a TV(e nesse caso fazer zapping)...e simplesmente NAO FAZER NADA!...sabe mesmo bem...
Maria
P.S. aproveito para te deixar o URL de um video que descubri numa das minhas pesquisas pelo Youtube...achei que ias gostar
http://www.youtube.com/watch?v=KAsvhz0d7Kc