Há neste país um tipo de cidadãos que eu classifico de "pessoas está tudo bem?". As "pessoas está tudo bem?" não fazem o mínimo esforço para dizerem mais do que um "está tudo bem?" e sendo assim, vamos andando que o autocarro está quase a chegar e que entro às 8 e o tempo urge.
As "pessoas está tudo bem?" não sabem dizer mais do que isto. E quando saiem de casa, pressentindo a chave do vizinho de baixo a abrir a porta, fazem por demorar-se mais um pouco, para evitarem um desafortunado cruzamento que as obrigará a aplicarem a questão que já amplamente repetimos. Os "estátudobem?" não nasceram agora e com o evoluir dos tempos foram-se rendendo à civilização e aplicando outras técnicas que fazem com que o seu "está tudo bem?" possa querer dizer mais do que na realidade quer.
E não quer.
Ao telefone, as coisas complicam-se e "osestátudobem?", ao não preverem que do outro lado, alguém possa dizer que "está realmente tudo bem!", mostram-se aflitos e perguntam de novo como se outra pessoa tivesse problemas de audição "Espera lá, mas está mesmo tudo bem?" – chiça, que é chato! - E aí, se a resposta "Já te disse, está tudo bem!" não for suficientemente capaz, é natural que só desistam quando do outro lado da linha, ouvirem um sonoro, possante, um trovão daqueles que destroem telhados de igrejas, discurso na cerimónia de tomada de posse de um qualquer governo, algo que se lhes soe a "Juro por minha honra que cumprirei com lealdade as funções que me são confiadas" quando na verdade apenas ouvem do outro lado, alguém a dizer, já de dentes cerrados, "Está-tudo-bem-porra!"
Os "estátudobem?" não são más pessoas e garanto-vos que serão os primeiros a acudir-vos se perceberem que não está tudo bem ou talvez ainda pior "está tudo mais ou menos!". Alto, parem o mundo, que se fixe a escada e o degrau onde agora estão instalados e se indague tudo o que houver para saber, no sentido de perceber o que se passa, quem está doente, o que terá acontecido, quem é aquele que vai ali e "ó querida vai indo que eu já vou lá ter!", e "esta agora!" e "Mas que maçada!" e "Mas em que lhe posso ser útil, o que posso fazer por si?" e "Mas foi há muito tempo?" e "Como é que isso aconteceu?" e "Mas estavam a contar?" e "Foi de repente?" e "Já vou, já vou!" e "Não hesite em telefonar-me ou tocar-me à porta!" e "Não imagina como fico triste com esta notícia" e "pode contar comigo, bem sabe" e "Já vou, já vou, raisparta a mulher!"
Contudo, existe uma rivalidade ancestral entre os "estátudobem?" e os "Bomdia!" porque embora nem uns nem outros digam mais do que isto, a verdade é que os primeiros reclamam para si e passo a citar "Uma intrínseca humanidade e altruísmo de que são desprovidos os cidadãos Bomdia". E com verdade, parece-me ser justo dizer que alguém que me dedica um "Bom dia!" sem sequer me perguntar "Se está tudo bem?", é imensamente mais frio, insensível e até déspota do que uma pessoa que me oferece, como se me estendesse o peito, um prazeiroso e intenso "Está tudo bem?"
CONFESSO! Eu já fui uma pessoa "Está tudo bem". Ou melhor eu sou uma dessas pessoas! Principalmente quando encontro pessoas com quem nunca tive afinidade mas conheço perfeitamente e não sei o que lhes dizer... Ainda no outro dia no supermercado encontro uma colega da escola secundária. "Olá estás boa?" "Estou, estou boa e tu?" "Ah eu estou bem. E tu?" "Também!" "E então? Está tudo bem" "Está está tudo bem" "Que giro há tanto tempo que não te via. E então? Está tudo bem!" E estivémos naquilo uns minutos enquanto ela não pagou e não se foi embora... E posso jurar que dissemos "Está tudo bem" cada uma algumas três vezes o que dá seis ao todo e resume praticamente todo o diálogo. Eu acho que isto acontece a toda a gente ou não? Em todo o caso continua a espantar-me a capacidade que tens para observar estas subtilezas da vida. (Gosto especialmente das propostas criativas que todos os dias apresentas na prova oral.) Vai para aí uma criatividade sem limites!
ReplyDeleteP.S. Ainda assim eu acho que dentro dessa categoria "está tudo bem" há sub-categorias ie há aquele exemplo que eu dei e há os que deste. E talvez até haja mais... É um mundo de possibilidades digo-te eu...
ReplyDeleteAi, ai, ai, Alvim! Vou-te bater! Vai lá ver como se conjuga o verbo sair!Vê lá se pões um corrector automático no teu PC para não passares estas vergonhas!!(Este é um erro de palmatória!)
ReplyDeleteBjinhos
Cat.
Um programa de estalo!Onde ficamos a saber que os "poetas" nao sabem fazer canja de galinha e que fenomenos a Portuguesa como projectos de mulheres que ALTERNAM entre o cinema e folhas coladas com meias palavras.Gostei da sua afirmação quando disse que a Margarida vila nova quase "SUGOU" a sua pessoa na personagem.Bem Carol já vi que não esquecestes velhos habitos.Ja que tanta coisa escreve livros irei lançar em breve um liuvro que ira ser um best seller juntamente com o Cal do Ze Luis Peixoto ira chamar-se Eu Eduardo Franco - Um dos poucos homens que nao dormiu com a tal senhora.Tenho de ir andando....
ReplyDeleteque sorte! as pessoas "estátudobem?" que conheço só estão à espera de poder dizer-me "e-eu-estoutãomal" e começarem a queixar-se da vida. de facto, não são más pessoas. são auto-comiserativas.
ReplyDeleteexcelente fluidez de escrita ;)
Bem Alvim, as coisas que tu te lembras... não mencionaste uma situação, O ELEVADOR, o "está tudo bem?" ou o "bom dia" no elevador é do pior, tipo, "bom dia", resposta, "bom dia" e depois aquele silêncio, o olhar para o chão, para os botões do elevador e o tempo que não passa... e depois lá se ouve o tlim do elevador, que parou, e saimos aliviados por a situação, tão constrangedora, ter acabado. Parecendo que não, isto é assunto para uma longa conversa.
ReplyDeleteE então Capitão, está tudo bem???
ReplyDeleteAquele abraço,
WWW.SEMGAS.BLOGSPOT.COM
Olá, está tudo bem? Não, não me apetece comentar o post, só queria agradecer a música dos Mini Drunfes que passas-te no último "Nuno & Nando", por sinal, o melhor programa da rádio nacional. O melhor também tou a exagerar, vá lá é bom...
ReplyDeletePara quando uma vinda a Barcelos?
Alvim, alvim, antes de mais parabens pelo teu programa e essas tretas todas q esta gente aqui em cima já disse.
ReplyDeleteuma pérola este post, muito alexandre o'neill da tua parte.
tnh de confessar que deixei de ler este teu blog durante uns tempos, tbm deixaste de escrever, mas continuo um avido leitor.
continua!
(ps: curiosamente o meu primeiro comment)
Eu ainda gosto mais do "Passou bem?". Acho que até aos meus, vá, 9 anos, o "Passou bem" era um aperto de mão. "Vai ali dar um passou bem à senhora" E eu ia.
ReplyDeleteAcho que ainda gosto mais do "Apertar o bacalhau" Esta já era capaz de desenganar os miúdos que, como eu, julgavam que apertar a mão era um passoubem.
Olha no que nos fazes falar. Parece uma conversa de malucos (a minha, claro, não a tua)
Conheço alguns assim...
ReplyDeleteAchei interessante o que li, no entanto gostaria de frisar que isto tudo não passa de pensamentos de uma sociedade que se diz evoluida e generalizamos o não concreto, construimos o problema para sermos construtores de uma solução, portanto encontrar-mos um lugar no mundo, sem dúvida que este tema com a sua tão insignificância que demonstra bem estes parâmetros que falei na nossa sociedade deprimida.
ReplyDeleteAcho que devemos ser nós próprios e deixar de pensar como quando e onde é que se devia de agir.
Porque manipular e querer ir muito mais além de um tudo bem?, não passará de puro charlatanismo.
O Homem deve fazer o que está dentro de si,demonstrar o seu verdadeiro eu.
Como já disseram aí em cima... uma conversa de tudo bem (6 vezes), não será que nessa conversa a essência da cumplicidade de velhas amigas, ficou ciente na mente de cada uma. como já um escritor dizia, hoje em dia os livros são mais grossos para dizer o mesmo que diziam os simples e livros finos antigos.
Dá-se nomes complicados, torna-se tudo complexo e do ponto de vista sociológico, no entanto esquecemos que a essência do Homem e sua simplicidade é o que torna brilhante.
Como dizia o francês Pascal Bruckner, um Homem que está à frente no seu tempo:
"A depressão é a doença de uma sociedade
que decidiu ser feliz a todo preço.
Não se tolera mais a fragilidade.
Tudo é visto sob o ângulo da patologia.
Aí temos de medicar a existência.
É desumano."
É a minha opinião ;)
Cumprimentos