Monday, October 07, 2013

Para onde vão quando tudo acaba?


Bem sei que o título acima daria um óptimo nome para um qualquer livro do Lobo Antunes, mas desenganem-se porque não é para isso que agora serve. Nem tão pouco para falar da morte, pelo menos da física, mas da outra morte, em vida. Sim, há pessoas que morrem antes de morrer, como aquelas  que estão sozinhas mesmo que rodeadas de gente.

Refiro-me pois, àqueles que depois de uma intensa exposição pública, onde aparecem diariamente em jornais, televisões, em todo o lado, e de repente, porque perdem as eleições, porque abandonaram o cargo, porque desistiram de jogar, cantar, representar ou apresentar o telejornal, desaparecem sem deixar rasto. Tenho uma tese há anos sobre guarda-chuvas, um dia escreverei sobre ela. A tese defende isto: Já toda a gente perdeu um guarda-chuva, mas nunca ninguém encontrou um, de tal modo que acredito que exista algures um país onde estes se abrigam e se juntam aos milhares. Um país talvez no céu, o país dos guarda-chuvas – quem disse que não podem existir países no céu? – para onde estes voem ou sejam sugados quando são abandonados por esquecimento.

Não imagino a dor de um guarda-chuva ao ser esquecido num qualquer banco de um transporte público, nem de um consultório, nem de um banco de jardim. Há pessoas que são esquecidas como se fossem guarda-chuvas ou que desaparecem como eles, talvez sugados para um país onde todos se encontrem, o país das pessoas esquecidas ou o país das pessoas que se querem esquecer. Acontece mais com os políticos é certo, mas outros há que poderão servir como exemplo. Onde está o jogador Jordão? Que é feito da Madalena Iglésias? Onde vive Sarkozy? Não faço ideia, e eu como todos, tenho saudades da Bruni. Talvez estejam no tal país, não no das pessoas esquecidas, mas justamente no país dos guarda-chuvas perdidos.

Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i
[Na fotografia: Elizabeth Taylor por Michael Tighe]

1 comment:

  1. Eu já encontrei um guarda-chuva. Foi no comboio. Peguei nele e levei-o para casa.

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