Sunday, August 18, 2013

Douro: a reportagem do intrépido repórter

Depois de uma semana intensa como mete-discos, o repórter Alvim decidiu refugiar-se no Douro para preparar a próxima época. Não é a primeira vez, não será a última, mas desta vez perdeu festa do peso, porque justamente nesse dia, no dia 14, fazia pela vida a muitos quilómetros daqui. Vim no dia a seguir com a pouca roupa que já me restava mas com a certeza de que tudo se resolveria com um Omo e um ferro de engomar (o que viria mais tarde a verificar-se). Mas passemos a factos que interessam:

1 – O Douro é lindo. É um facto, não conheço nenhum local que me deixe mais deslumbrado que o Douro. Minto com os dentes todos, gosto também muito de Innsbruck e Praga, mas em Portugal, com a boquinha aberta de espanto, o Douro. 

2 – As férias da minha infância foram sempre aqui pelo que é óbvio que sinto uma ligação emocional com o local. Pareço aquelas mães que começam as frases com “Não é por ser meu filho mas é muito inteligente o meu Chiquinho” Uma vez perguntei a um reconhecido sommelier, se existia este corporativismo na escolha dos vinhos que gostamos. Isto é, se interferia na nossa escolha o facto de sermos daquela região. Para que me entendam, se o facto de sermos da bairrada nos faz querer vinho da bairrada, se o facto de sermos do Alentejo nos faz querer vinho do Alentejo. O sommelier abanou com a cabeça de forma afirmativa e percebi assim porque gosto tanto dos brancos do Douro. Em particular – e se me permitem – o maravilhoso vila real. 

3 – A minha amiga Alice. Por duas vezes fui jantar com a minha amiga Alice do restaurante jéréré. É um clássico que dura há anos e que não dispenso. Gosto da comida do Douro in, do doc, mas nenhum destes tem a Alice e a comida da Alice (recomenda-se o bacalhau com broa) e isso faz toda a diferença. Pergunto-lhe: Alice tens vinhos de outras regiões e ela responde-me:” Muito pouco! Então eu sou do Douro, achas que não ia ajudar os que são meus? É claro que eu vou ajudar os que são meus Nandinho!”. A resposta da Alice faz-me pensar se Portugal não deveria pensar assim também no seu todo. Então se podemos comer as laranjas feitas cá, porque diacho vamos nós comprar de outros? Eu sei que é um corporativismo e que isso nunca soa bem, mas neste caso, parece-me que será este o caminho. 

4 – Já passaram por mim 5 lanchas. Em pouco mais de 20 minutos já passaram por mim 5 lanchas, aqui onde me encontro, na varanda do quarto 223. O Churchill tinha uma varanda também no arquipélago da Madeira onde fumava os seus charutos. Eu tenho esta varanda no Douro onde bebo um delicioso chá com gelo. O cenário repete-se: as lanchas são conduzidas por um homem e na parte da frente há raparigas deitadas, em bikini, a fazerem-se ao sol. Não vi um único homem em idêntica situação, sempre raparigas. E depois queixam-se que os homens são isto e aquilo, que injustas são. Passou agora mesmo , neste preciso instante, uma lancha só com dois ocupantes. Ora respondam-me lá: Onde está a mulher? Exactamente. Onde está o homem? Adivinharam. Mas só dois o que com franqueza dá ideia que ele é o taxista. Com mais mulheres à frente, sempre se pode confundir com um condutor de transportes públicos ou um casanova que fará amor com todas elas quando parar o motor. De uma forma ou de outra, tratamos bem as nossas mulheres e é bom que assim seja. Porquê? Porque se está tudo bem com a vida da nossa mulher, com a nossa vida está também tudo bem. E o contrário, pode não ser verdade. A marta Gautier diz isto no espectáculo dela e concordo. Às vezes quando a nossa vida está muito bem, a nossa mulher começa a fazer perguntas. É claro que ela quer que a nossa vida esteja bem, mas muito bem, muito bem, pode levantar perniciosas desconfianças. 
5 – A animação do Douro. Adoro as pessoas daqui, de tal modo, que me apetece abraça-las a todas, mas tenho vindo a verificar que quando chega a altura de dançar e dar uns pulos, as pessoas se acanham e não participam tanto como deveriam. Eu sei que é por timidez – é sempre por timidez - e não é só aqui – não é não - mas para um artista que está no palco é o diabo. De resto, para além da zona principal onde há imensos restaurantes e cafés e bares, o que honestamente se deve fazer é visitar umas quase diárias festas populares nas zonas circundantes. E acreditem que há uma todos os dias. E se souberem esperar, garanto que irão ouvir o querido mês de Agosto do Dino Meira. 

6 – Não se percebe como é que o Douro ainda não tem o seu festival do vinho do porto. Em vez disso, tem o da francesinha. O professor Marcelo devia ter uma explicação para isto.

7 – Um gin no Douro In. Desde o tempo do lendário Meireles, o Douro In continua a ser o melhor espaço para beber um gin. É um clássico que o vosso repórter não dispensa e que repetiu ao longo dos dias. Em algumas ocasiões, mais do que uma vez tamanha era a proximidade do hotel.

8 – Hotel Régua Douro. Se há coisas que existem no Douro são óptimos hotéis, quase todos eles da outra margem do rio onde me encontro. O Aquapura e o Vintage House Hotel são claramente as grandes vedetas mas outros há que são igualmente recomendáveis. Se me permitem , a quinta de Santo António onde há alguns anos organizei uma mítica festa rural é um deles. Da festa, lembro-me que o hino oficial da mesma era o tema Scatman John de Scatman e ainda hoje não percebo porquê, mas sempre que ouça falar em festa rural é Ski-Ba-Bop-Ba-Dop-Bop que eu ouço. Contudo, o vosso repórter escolheu a outra margem e está instalado no Hotel Régua Douro que tem a piscina mais luminosa que eu conheço, bons quartos e uma vista quase tão boa como aquele marmanjo que adormeceu quando colocava mel na Bo Derek. O vosso repórter, despede-se com amizade desde o quarto 223, do Douro para o mundo.

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