Thursday, August 16, 2012

TODOS PARA MARTE


Ando a seguir com particular inquietação a chegada do robot curiosity a Marte. Estou essencialmente curioso, não com o que o robot possa vir a descobrir, mas justamente com o que pensam descobrir aqueles que enviaram o robot a Marte. Para começar, não percebo esta obsessão por saber se há água em Marte? Mas, com franqueza, água? em Marte? Mas já aqui temos tanta. Ainda se fosse whisky ou maduro branco, agora água? Água não é coisa que de facto nos faça falta. Depois, saber se há vida em Marte? Ora vamos cá ver, há aqui boas e más notícias: as boas é que há vida sim e há muita, há marcianos com fartura, marcianas que também usam calções justinhos porque sabem que está na moda e, na verdade, todos sem excepção gostam de comer pão com chouriço como todas as pessoas e ao domingo também dão passeatas com os seus. Contudo, as más notícias, é que os marcianos não nos querem ver, não precisam de nós, não mexem uma unha para nos conhecerem  e,  a mexerem alguma coisa, é justamente o interruptor da luz para que não os possamos ver. Que interesse tem Marte? - pergunto. Porquê gastar 2,5 mil milhões de dólares para visitar um planeta que tem de temperatura regular uns enternecedores 55 graus negativos. Querem o quê? Fazer de Marte uma estância de ski para ricos? Uma arca frigorífica gigante para a sicasal? Uma nova Sibéria? Pois não sei,  mas parece-me que a haver algum interesse era justamente enviarmos para Marte não um robot, que parece sempre frio e distante – e neste caso mais do que nunca –, mas justamente  pessoas que se destacaram no nosso planeta e que merecem uma outra missão, como fazem de resto os gestores de topo,  é ou não é? 4 ou 5 anos numa empresa e, conseguida a insolvência, parte-se para uma nova aventura. E são tantas as pessoas que penso que fariam falta a Marte nesta fase de descoberta que me é difícil particularizar cada uma delas:  desde os taxistas das chegadas nos aeroportos às pessoas que participam em fóruns televisivos para dizerem que estão indignados ou muito indignados, estou certo que haveria um novo mundo a explorar. Por isso, e por via das dúvidas, estou neste momento a dirigir-me com passo apressado à NASA para aí me entregar e esperar que me levem.

Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i

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