Wednesday, August 29, 2012

Regresso à escola

A revista Pais & Filhos fez-me regressar à escola. E lá fui eu.


Qual foi a escola que mais o marcou? 
A Escola Primária nº 27, da Lomba. No Porto.

Quais as principais razões para essa escolha? 
Pela carga emocional que é estudar numa escola onde a nossa mãe é também professora. Isto é, quem é filho de professores, sabe justamente que o que nos acontece é justamente o contrário do que julgam; traduzindo, em caso de asneira (algo muito frequente naquela idade) somos os primeiros a dar o exemplo. E naquele tempo não queiram saber como elas doíam. Fora isso, foi também lá que conheci a minha primeira namorada - Graça, aos 5 anos - e desde logo percebi que mulheres são sempre um cabo dos trabalhos.

Que anos de escolaridade aí completou e com que idade frequentou essa escola? 
Dos 6 aos 10, uma coisa assim. Não reprovei nunca nenhum ano, passei sempre com distinção. Era esperto q.b., enfim, dava passar, tipo Relvas.

Nessa escola, quais eram as suas disciplinas preferidas? E porquê? 
Como todos os miúdos gostava de desenho (pintar e coisa e tal) e sempre gostei de português onde era uma espécie de Camões da turma. Não era mas gosto de pensar que sim.

Lembra-se de algum professor que o marcou especialmente (pela positiva ou negativa)? Que recordações guarda dele? 
Pela positiva, Vítor Amado, professor entretanto já falecido, mas ao qual devo muito da minha personalidade e atitude. E não menos importante: o meu benfiquismo (coisa com a qual se sofre na cidade do Porto como calculam). O professor Vítor Amado era não só professor na escola, como também presidente da junta de freguesia do Bonfim. Lembro-me de uma vez fazermos uma visita de estudo a essa junta e lhe fazermos perguntas com ele na condição de presidente. Percebi que era de desafios como aquele que eu iria à procura. E fui mesmo. Lembro-me de para mim ser uma figura absolutamente inspiradora e rapidamente percebi que ele seria uma das minhas mais fortes influências. E foi.

Como se caracterizaria como aluno nessa altura? 
Um génio não compreendido. Um prodígio desperdiçado que chegava ao final dos anos com os livrinhos a cheirar a novo. Uma maravilha. Gostava era de jogar à bola e namorar com a Graça. Isso é que eu gostava.

Recorda-se de algum castigo que tenha recebido, individualmente ou enquanto turma? 
Como já disse, ao ser filho de uma professora da escola, era invariavelmente eu a dar o exemplo. Isto é, fazia-se uma asneira colectiva e o primeiro a levar umas pauladas era eu. Individualmente, apenas aproveitei uma vez para assaltar material escolar já num período em que só alguns privilegiados tinham acesso ao mesmo (isto já nas férias em que só os filhos dos professores andam pela escola), e quando fui descoberto a minha mãe disse-me: "Falei agora com o teu pai a revelar o que tinhas feito. Ele disse que vem mais cedo do trabalho e que quer falar contigo" - E eu que não sou parvo nenhum, percebi que aquilo não era coisa boa e fugi pela primeira vez de casa. Mais ao final da tarde fui apanhado na casa da minha tia e talvez por isso tenha sido amnistiado. Mas se não tenho fugido, não sei se estaria a responder a esta entrevista.

E de algum trabalho pelo qual tenha recebido uma nota especialmente boa? 
Sim, era bom aluno a português e curiosamente a matemática. Lembro-me de testes gloriosos em que tirei 20 (quando eu tirava, havia também muitos que tiravam), mas curiosamente, a partir do oitavo ano, comecei a ter muitas dificuldades a matemática mas a continuar com elevada performance a português. A turma pedia-me sempre para ser sempre eu a ler os textos dos Lusíadas e outros que tais.

O que mais gostava de fazer nos recreios? 
Jogar à bola, invariavelmente andar à porrada entre todos (uma espécie de intifada amigável) e correr atrás da Graça. Mais tarde, já na 4ª classe, fiquei de amores com Conceição e Ana cristina, um caso raro de poligamia que nunca viria a ser descoberto pelas visadas. Que obviamente espero que não estejam a ler esta minha intervenção.

Ainda tem amigos que estudaram consigo nessa escola? Costuma revê-los? 
Não porque, desafortunadamente, no final da 4º classe, quando a nossa turma ia na sua larga maioria para a escola Ramalho Ortigão, a minha progenitora achou por bem mudar de cidade onde leccionava e pronto, mudei de escola e perdi toda a gente. Graça, Conceição e Ana Cristina incluídas.

Depois de ter saído dessa escola, já lá voltou novamente? Se sim, o que sentiu? 
Já, por causa da minha mãe - ela sim, com muitas amigas ainda - e porque quando eu era mais novo, quando tinha uma crise existencial daquelas fortes, gostava de passar por lá para visitar o recreio e recordar toda a felicidade que jorrava por ali. Foi claramente a escola onde eu fui mais feliz e onde me recordo de ter passado mais tempo, desde o escolar ao extra-escolar. Nunca mais voltei a ter uma escola só para mim. Isto é, um recreio que normalmente tinha dezenas de crianças e de repetente éramos só 3 ou 4. Era uma sensação mágica. A foto da fachada que receberam fui eu que a tirei esta semana. Mais uma vez aproveitei para ver o recreio. Muitos golos marquei eu ali.


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