Sunday, August 26, 2012

Entrevista à QUIR



Trabalha em TV, rádio, é escritor, DJ... O mundo artístico é conotado como mais open-minded. Tem essa opinião? 
Sim, acho que a ideia que se tem é justamente essa e que a sociedade em redor pensa que andamos todos metidos com todos, o que seria uma maravilha e lamento imenso que assim não seja. Por outro lado, por sermos obrigados a falar mais e a partilhar com todos o que dizemos e escrevemos e falamos, talvez na maioria dos casos isso se verifique. Com excepção obviamente: do Medina Carreira e deixem cá ver um exemplo assim de forma absolutamente aleatória... Ah já sei, o José Hermano Saraiva.

Há quem diga que há muitos LGBT nas artes. Concorda? 
Concordo, mas acho que devia de haver mais. Acho que há poucos e os poucos que há não estão a saber fazer mais filiados, assim um bocadinho tipo Bloco de Esquerda. Devia haver promoções, cartões com desconto, anúncios na televisão, mas nada está a ser feito.

Na sua opinião, como encaram os profissionais da comunicação e os media esta realidade? 
De frente, por causa das coisas. E com verdade, dando-lhe até bastante atenção porque é uma coisa que é moderna e fica bem fazer-se. Às vezes só não sei é se acreditarão verdadeiramente naquilo que dizem e escrevem, mas isso daria um outro parágrafo. E não temos tempo, verdade?

Todos conhecem a veia humorística do Alvim. Acha ser mais fácil fazer comédia com temas pouco consensuais, como a homossexualidade? 
Não, é mais difícil e mais arriscado mas ao mesmo tempo é mais apetecível. O sexo e a sexualidade sempre foi um alvo preferencial do humor e neste domínio, como devem calcular, ainda mais. Agora, acho que existe uma preocupação excessiva em perceber se aquele fulano é ou não preconceituoso em relação a esta causa. Aliás, uma entrevista como esta tem antes de tudo uma pergunta implícita, "É este rapaz preconceituoso em relação a isto ou não?" É um pouco como aquelas pessoas que passam a vida preocupadas em perceber se as outras gostam ou não delas. Eu quero que isso se lixe, não perco um segundo com isso, quero que as pessoas gostem de mim como sou mas percebo perfeitamente que nem todos podem gostar. Se fosse gay, assumiria na hora e não compreendo muito bem aqueles que dão desculpas esfarrapadas como a mãe e etc. para não o revelarem. Esperem, não é que sejam obrigados a isso, de todo, a nossa sexualidade só a nós deve importar. Mas a desculpa da mãe enerva-me. Que diacho, a minha mãe se soubesse que eu era gay, não tenho dúvida que me amaria de igual modo. Mas isso sou eu que tenho uma mãe dos diabos.

Os LGBT têm sentido de humor? 
Têm, aliás se há coisa que os LGBT se podem orgulhar é justamente disso, do seu humor, da forma como se divertem e contagiam todos os outros. E os melhores são justamente os que brincam com o facto de serem gays e aproveitam isso como uma arma poderosa para fazerem humor. Querem um exemplo: outro dia fui ao programa do Goucha e logo no início da entrevista, de forma a provocá-lo, disse-lhe em tom jocoso: Goucha, peço-te desculpa por não ter trazido uma camisinha mais fluorescente, mas honestamente não consegui encontrar. Ao que o Goucha respondeu: "Mas caramba, como é possível, ainda esta manhã saíste do meu quarto". O Goucha esteve tão bem, mas tão bem, as pessoas riram-se a valer e arrumou comigo em 3 segundos. Nas entrevistas em que falo sobre esta temática o meu objectivo é justamente divertir e informar de forma descomplexada. Preconceito é não brincar com isto, é ter medo de fazer humor e nem sequer tocar no assunto para não ferir susceptibilidades. Se assim for, então é melhor não falarmos nem dizermos nada. Isso parece-me muito pouco corajoso e nada catalisador da mudança que todos defendemos. 

Alguma vez foi alvo de críticas por ter ferido susceptibilidades? 
Não me recordo de nenhuma grave mas é sempre um tema sensível. Na verdade não me recordo de ter participado numa entrevista, numa conferência, em qualquer cenário onde esta temática fosse central, que não tivesse sido muito, mas muito divertida.

Porque é que em Portugal são muito poucas as figuras públicas que assumem a sua homossexualidade? 
Porque são maricas.

Considera que o deviam fazer? Porquê? 
Porque as pessoas com visibilidade podem, com a sua exposição, mais facilmente contribuir para que o mais depressa possível não exista qualquer preconceito ou discriminação a este nível. Não que os outros - os menos visíveis - também não o consigam, mas facilmente compreenderão que desta forma é mais célere.

Enquanto figura pública, se fosse homossexual assumia? 
Já disse que sim e volto a dizê-lo. Mas, desafortunadamente, sou completamente heterossexual. E assim, nunca terei nada com o Ricky Martin.

Conheces algum caso ‘dentro do armário’? 
Sim, mas está lá dentro e não sou eu que lhe vou abrir a porta. E não, isto não é nenhuma piada política.

Qual a tua opinião sobre a ‘comunidade’ LGBT (Lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros)? Conhece bem esta realidade? 
Conheço e, como qualquer heterossexual, tenho um fetiche por lésbicas. Vejo duas mulheres lésbicas e começo logo a fazer filmes e a pensar que de algum modo eu vou juntar-me a elas e brilhar a um nível estratosférico. Sei hoje que isso é bastante improvável. E olhem que tentei mais do que uma vez. Sem qualquer sucesso.

Alguma vez frequentou espaços dirigidos aos LGBT? Quais? 
Sim, o Café Lusitano no Porto de que gosto bastante. E já que falo no Porto, o melhor nome de bar gay que conheço, imbatível até, foi justamente nesta cidade, justamente no espaço onde é agora o Boys'r'us. Chamava-se Leite Condensado. Não é lindo? Não é imbatível? Chiça.

Já teve experiências com alguém do mesmo sexo? 
Sim, em puto: fui para a cama com o Ken pensando que era com a Barbie.


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