Thursday, July 05, 2012

Depois do vermelho!


Da mesma forma que há misses universo a pedir que se alcance a paz mundial, eu, que já apresentei o concurso de misses da Mealhada de 98, gostaria não só que a paz mundial fosse de facto atingida mas acima de tudo – e isso é ainda mais importante – que os semáforos acabassem. Os semáforos são a burocracia das estradas, a fila da repartição de finanças, o documento que nunca saberemos preencher até ao fim. Os semáforos são pessoas que não andam para a frente e engonham de tal modo – e que bom é usar o termo “engonhar” – que forçam as outras a desistir até se tornarem iguais a elas.

E depois os semáforos não deviam ter três cores coisíssima nenhuma. Deviam ter   duas, porque só há duas coisas que realmente importam em tudo na vida: a mulher e a amante, a água e o vinho, o sexo e a comida, o amor e a paixão. E por mais que se diga que um terceiro elemento é encarado com a mesma distinção dos outros dois, parece-me evidente que tal não se verifica por mais que nos doa. E por vezes dói de facto. Querem exemplos? Vejam-se os de Porto e Lisboa, Siza Vieira e Souto Moura, Ronaldo e Messi, morango e chocolate, Rui Tovar e Gabriel Alves, carne e peixe.

Querem mais? Eu dou mais, não se preocupem: branco e preto, loira e morena, alto e baixo, frio e quente, pai e mãe. Não tenham dúvidas, são sempre apenas duas coisas. E com os semáforos também devia ser só vermelho e verde, justamente como era o campeonato de futebol antes de Pinto da Costa ter entrado em cena. Por mim acabavam-se os semáforos e  com o fim desta espécie acabavam também os cruzamentos e as vetustas esquinas, quantas vezes frequentadas por senhoras com parcas vestes. Por mim acabavam-se os semáforos e em vez deles só haveria rotundas e pontes e túneis subterrâneos e operações da brigada de trânsito que em vez de fazer parar quem passa faziam justamente o oposto dizendo o portuguesíssimo “siga siga siga”. Por mim acabam-se os semáforos, já hoje, depois de passar o vermelho.

Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i

2 comments:

  1. Estou como tu. Acho que os semáforos fosse abolidos.

    Ainda me lembro do tempo em que os cruzamentos eram os reis das nossas estradas.

    Recordo-me do ar alucinado que fazia ao tentar entrar num de forma a que todos os outros parassem para eu passar...Na altura a questão das prioridades metia-me um bocado de confusão! :D

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