Sunday, April 01, 2012

Toda a gente faz



Os poliglotas fazem-no em todas as línguas, os ateus fazem-no por Deus. Os do Interior fazem-no no litoral; já os professores na horizontal. Os advogados fazem-no com jurisdição, os controladores aéreos com muita atenção. Os alpinistas fazem-no para dar nas vistas; já o nosso João Garcia só o faz durante o dia. Os tecnocratas só funcionam com datas, mas as costureiras fazem-no enquanto cosem as meias. Nisto os doutores são melhores, porque não estão com pormenores. Enquanto o dia cai, uma mulher faz com o seu pai; já pela noitinha quem o faz é a madrinha. Numa aldeia pequenita não há dia sem o fazer, já numa grande cidade só se pensa em… deixem lá isso.

No jogo o capitão faz com muita convicção, mas há quem a praticar dominó o consiga fazer, “oh oh”. Um director de escola só o faz durante uma hora, já no conselho directo é quase tudo permitido. No tribunal, faz-se a ler “A Capital”, mas num restaurante de marisco é um acto de muito risco. Quem tem medo de alturas faz sem grandes amarguras, mas quem é muito ciumento faz só com consentimento. Quem é muito alto faz sem sobressalto, já quem é muito baixinho tem tendência a fazer devagarinho. Os apostadores do euromilhões, gostam de fazer nas eleições; quem pratica karaté obviamente de pé.

Quem é licenciado gosta de o fazer deitado, já os alunos do secundário é fora do horário. Num ano bissexto há deixe lá o queixo, mas quem tem uma herdade sabe bem que só à tarde. Dentro do avião, só se houver ocasião; já no autocarro todos fazem, em todo o lado. Nos feriados nacionais até o fazem os animais; já os pobres artesãos contam-se pelos dedos das mãos. Um cidadão francês espera sempre a sua vez, enquanto no Ramadão, bem se sabe, só com a mão. Quem gosta muito de chocolate fá-lo com a cabeça em Marte e quem se dedica ao ponto cruz é um ai jesus ai jesus. Na junta de freguesia não há hora, não há dia, mas na câmara municipal só por alturas do Natal.

Um nobre professor fá-lo sempre com primor, já um aplicado polícia será sempre com perícia, um engenheiro quer ser sempre o primeiro, já o homem do talho faz muito bem o seu trabalho. Na repartição de Finanças fazem-se imensas crianças e depois no infantário é evidente o mostruário.

Toda a gente o quer fazer, mas nem toda a gente o faz, mas deviam por prazer, seja rapariga ou rapaz.

Fernando Alvim
Publicado originalmente no Jornal i

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