Em Portugal criou-se o hábito de se resolverem as coisas ao esperar que as mesmas prescrevam. As pessoas têm esta esperança e não deve haver país no mundo em que reze tanto e tão bem pela prescrição.
A prescrição é basicamente estarmos quietos a ver se isto se resolve. Mas também é ter esperança. E existe uma esperança legal e uma esperança ilegal: A esperança legal, quase que depende só de si e manifesta-se por exemplo num jogo qualquer do Benfica, em que muito legitimamente temos esperança que a equipa ganhe, mesmo sabendo que o Binya pode jogar de início. E depois existe a esperança ilegal, em que já dependemos de outros e sobretudo do mau funcionamento, da ilegalidade, da sorte que se tem das coisas não funcionarem por aqui. Se repararem bem, é exactamente por isso que Portugal sempre que entra na fase de qualificação para um qualquer campeonato de futebol, tem que ir a contas. Isto é, tem agora que esperar que os outros percam ou falhem ou morram quando podia muito bem ter resolvido a coisa sem ter agora que estar à espera de ninguém.
E tudo começou com as multas. Não tenham dúvidas. Esta história da prescrição começou com as multas e alastrou-se a tudo resto. E da mesma forma que muitos não pagam as multas na esperança que prescrevam ou que venha cá o Papa, outros há, em que avisados sobre a lentidão da justiça, deixam que os processos se arrastem até se tornarem tão moribundos e sujos, que prescrevam. Daí que esta pratica compense e seja tão usual no nosso país, manifestando-se de outras formas como se fosse um vírus daqueles difíceis de combater, com outras originais denominações e sem vacina à vista.
A prescrição é sobretudo discreta e fala pouco porque sabe que a única forma de as coisas se prescreverem a seu favor, é precisamente ao serem esquecidas de tanto não as vermos, de tanto não falarmos sobre elas, de tanto nada fazermos para que ninguém as lembre. Daí que o melhor para algo se prescrever é não fazer, é não falar, é não dizer absolutamente nada a ver se passa.
E assim, do mesmo modo que se prescreve a maldita multa do radar do túnel do marquês, deixamos prescrever a nossa relação que tínhamos lá em casa. Da mesma forma que conseguimos que o processo que nos haviam movido prescrevesse, não conseguimos resistir a semelhante prescrição ao nosso emprego.
E assim Portugal vai-se adiando com a incontida alegria que todos sentíamos, quando adiávamos um teste na escola. Portugal espera que tudo passe a ver se isto se resolve. Portugal tem esperança que os outros percam. Portugal faz contas. Portugal espera que a professora eventualmente falte ao exame e assim o adie. Portugal está quieto. E a continuar assim, Portugal pode muito bem prescrever.
A prescrição é basicamente estarmos quietos a ver se isto se resolve. Mas também é ter esperança. E existe uma esperança legal e uma esperança ilegal: A esperança legal, quase que depende só de si e manifesta-se por exemplo num jogo qualquer do Benfica, em que muito legitimamente temos esperança que a equipa ganhe, mesmo sabendo que o Binya pode jogar de início. E depois existe a esperança ilegal, em que já dependemos de outros e sobretudo do mau funcionamento, da ilegalidade, da sorte que se tem das coisas não funcionarem por aqui. Se repararem bem, é exactamente por isso que Portugal sempre que entra na fase de qualificação para um qualquer campeonato de futebol, tem que ir a contas. Isto é, tem agora que esperar que os outros percam ou falhem ou morram quando podia muito bem ter resolvido a coisa sem ter agora que estar à espera de ninguém.
E tudo começou com as multas. Não tenham dúvidas. Esta história da prescrição começou com as multas e alastrou-se a tudo resto. E da mesma forma que muitos não pagam as multas na esperança que prescrevam ou que venha cá o Papa, outros há, em que avisados sobre a lentidão da justiça, deixam que os processos se arrastem até se tornarem tão moribundos e sujos, que prescrevam. Daí que esta pratica compense e seja tão usual no nosso país, manifestando-se de outras formas como se fosse um vírus daqueles difíceis de combater, com outras originais denominações e sem vacina à vista.
A prescrição é sobretudo discreta e fala pouco porque sabe que a única forma de as coisas se prescreverem a seu favor, é precisamente ao serem esquecidas de tanto não as vermos, de tanto não falarmos sobre elas, de tanto nada fazermos para que ninguém as lembre. Daí que o melhor para algo se prescrever é não fazer, é não falar, é não dizer absolutamente nada a ver se passa.
E assim, do mesmo modo que se prescreve a maldita multa do radar do túnel do marquês, deixamos prescrever a nossa relação que tínhamos lá em casa. Da mesma forma que conseguimos que o processo que nos haviam movido prescrevesse, não conseguimos resistir a semelhante prescrição ao nosso emprego.
E assim Portugal vai-se adiando com a incontida alegria que todos sentíamos, quando adiávamos um teste na escola. Portugal espera que tudo passe a ver se isto se resolve. Portugal tem esperança que os outros percam. Portugal faz contas. Portugal espera que a professora eventualmente falte ao exame e assim o adie. Portugal está quieto. E a continuar assim, Portugal pode muito bem prescrever.
Tu faz-me um favor, publica este e outros textos deste blog em livro, pla tua saudinha.
ReplyDeleteBjs
O que decerto não presceverá é o teu sentido/talento crítico.
ReplyDeleteSim senhor!
Um bocado exagerado... digo eu, um pessimista optimista.
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