Friday, October 24, 2008

Quanto valemos?


Mania esta de termos que ser explorados no início da carreira, como se tivéssemos que ser sujeitos a uma qualquer humilhação. Mania esta das empresas se habituarem aos estágios não remunerados e findo os 3 meses "que era muito bom e tal, mas que infelizmente por razões logicamente financeiras não será possível integrá-lo!". Não interessa se era bom, se fazia falta, se tinha talento, se teve uma atitude diferenciadora em relação a todos os outros, o que interessa – isso sim – são os 3 meses. E os 3 meses acabaram e ali vêm outros. Mais 3. Mais 3 meses.





É o preço da experiência. As empresas querem pessoas com experiência mas novas, para não pagarem muito e por perceberem que estas ainda não têm bem a certeza de quanto é que valem. As pessoas com experiência e com uma certa idade que já dói a deitar, sabem exactamente o seu preço. E o problema é esse. As empresas não gostam de pessoas que sabem o que valem e ao mínimo pedido de aumento "Temos aqui sindicalista!". E daí tudo fazerem para não termos grandes ideias, nem termos muitas vezes razão, porque obviamente as melhores ideias valem dinheiro e isso pode levar à tal conversa a pedir aquela tal coisa que ainda há pouco falávamos. O aumento, lembram-se? Uma palavra maldita como aquelas que não se podiam dizer nos regimes ditatoriais e que é preciso falar baixinho e olhar duas vezes para um lado e para o outro, como se fossemos atravessar uma estrada junto a uma curva de pouco visibilidade. Fala-se em aumento e os patrões pedem logo um copo de água e os medicamentos para a tensão arterial. Tem-se uma ideia que sabemos ser vencedora, e logo o patrão, vendo que é tão boa, trata de nos tolher a alma como o frio nos dias de Inverno em que temos de ir trabalhar. Não interessa se é boa, o que importa mesmo é que o funcionário não cresça para não lhe pedir aquilo que sabemos. E depois, se houve uma ideia boa, ele sim é que a teve" mesmo que estas sejam um tudo-nada iguaizinhas à que lhe havíamos dado no dia anterior".



E assim, criou-se o hábito de só nos darem um aumento quando somos cobiçados por outra empresa e aí sim, ouvimos aquilo que nos faz lembrar os primeiros dias em que íamos para a cama ranger paredes. Que somos muito importantes e tal, indispensáveis, essenciais para, bonitos para, tome lá dinheiro para, nem pense em sair para. E na maior parte das vezes, esta conversa já chega tarde para, porque a vontade de sairmos é imensuravelmente maior do que ficarmos para. A vontade de os fazermos perceber o quanto valíamos. De os fazermos saber o nosso valor quando sempre lhes havíamos dito. Gritando com a certeza do público do Preço Certo. Trazendo sempre bolinhos regionais para o Fernando Mendes.

16 comments:

  1. É... (Gostei da distância percorrida entre a exploração profissional e os apupos do Preço Certo), xuac

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  2. Subscrevo TOTALMENTE!!

    Joana

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  3. Bye bye Antena 3?

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  4. Acertaste na 'mouche'! Abraço, Alberto

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  5. Pois... e quando somos cobiçados e o chefe diz "Não há imprescindiveis!! Podes ir!!!!".
    Ai não há abanão que nos valha!

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  6. Não queres colocar aqui parte da entrevista que fizeste à Solange F. na Maxmen?

    Fica Bem

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  7. Grande Alvim

    Aqui está um texto que subscrevo na integra.

    Grande abraço

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  8. É engraçado este texto hoje. Porque hoje assisti a uma conferência de Mestres de Gestão de Recursos Humanos e, naturalmente, este tema - com muitos outros - esteve na ordem de trabalhos.
    Concordo a 100% com a opinião do Alvim.
    De certo modo penso que o panorama está a mudar.

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  9. Vais para a tvi?!!!

    Espero bem que não

    :)

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  10. Pensei neste texto quando vi isto:

    http://tinyurl.com/5osxlv

    Um abraço.

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  11. Como eu concordo contigo...
    Ando a passar por isso mesmo agora. Andamos anos a estudar para depois encontrarmos os grandes estágios não renumerados, que nos dão calos, dores de cabeça, mas dinheirinho nem vê-lo!!!!

    inicio do primeiro mês:
    "Vai adorar fazer paret da nossa redacção"

    Final do segundo mês:
    "Tem o espirito que nós precisamos"

    Final do terceiro mês:
    "Lamentamos não poder aproveitar o seu grande talento, mas realemnte neste momento é nos impossivel mante-la aqui"

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  12. Uma verdade tão verdadeira nos dias de hoje que deixou de ser posta em causa.
    Um assunto sério e triste, escrito com o humor e inteligência que caracteriza tudo o que o Alvim escreve.
    fabtástico!!!!!

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  13. Pois é senhor! Posso dizer com ânimo, comigo já aconteceu...

    Acabei o curso de Comunicação Cultural e como todos os licenciados procuro incessantemente por empregos, estágios e outros trabalhinhos... Acontece que respondi a um anúncio de estágio NÃO REMUNERADO para uma escola de Audiovisuais chamada ACADEMIA... e não é que, milagre dos milagres, me responderam. Chamaram-me para uma entrevista! Fui à entrevista e, milagre dos milagres outra vez, disseram-me que teriam muito gosto em contar comigo. Começava na 2ª feira!! Felicidade... Ora afinal aquela conversa de ser difícil arranjar estágios... Tudo mentira!! A primeira entrevista e fico, que maravilha! Lá fui eu, cheia de expectativas...
    Conversei com o responsável da escola sobre as minhas funções:
    "Até vais gostar do trabalho, no princípio são bases de dados, mas depois é para produzir, produzir!! E qual o horário que te dá mais jeito?"
    Inexperiente, não sabia o que dizer só queria começar! "tudo menos de noite" (porque têm aulas à noite...)
    E ele lá experimentou..." E das 9.30 às 18.30?"
    Inexperiente outra vez, disse que sim, que ponderava melhor, mas em principio sim...
    "Damos subsídio de Alimentação e de transporte" (Ah que bom!) "mais ou menos 100 euros" (100 euros...ora bem passe metro/carris 28, logo dava cerca de 3.30 euros para refeição...Que gordinha que eu ficava!
    Comecei a trabalhar nesse mesmo dia...Em casa, caiu-me a ficha: como é que isto é possível!! Queria que trabalhasse 8h com 3 euros de subsídio de alimentação...
    No outro dia disse-lhe que não trabalhava nessas condições, mas apenas em regime de part-time! Ninguém vive do ar, amigo!... Ainda se armou em esperto: "Ah, assim não recebe o subsidio de Alimentação!" Fiz as contas à frente dele, disse-me que dava um bocadinho mais do que os 3 euros...
    Trabalhei mais umas horas, saí e voltei 5 minutos depois a dizer que não contasse comigo no dia seguinte!"

    Decidi que não vou pensar que perdi uma oportunidade que outros não desperdiçariam... Fazer bases de dados! É um mundo de exploração todos sabemos, mas assim ao menos temos a firme convicção de que não perdemos realmente nada... Não vou trabalhar 3 ou 6 meses para ter uma carta de recomendação!
    Hoje já ninguém sabe o significado de estágio, mesmo para o voluntariado há regras relativas ao horário de trabalho para não permitir este género de exploração!
    E esses senhores com essas atitudes é que fazem o mundo, não é o mundo que os faz a eles!

    Por fim, a título de curiosidade, o que levou este senhor a escolher-me para a entrevista (segundo ele próprio) foi uma frase que tinha na minha Carta de Apresentação:
    " (...) acredito que ainda há alternativas à formatação de jovens criativos em operadores sem rosto de call-centers, e acredito na minha motivação e capacidades para exercer uma actividade profissional estimulante e enriquecedora no contexto dos novos espaços culturais emergentes."

    Posso dizer com honra: ANTES JOVEM CRIATIVA OPERADORA DE CALL-CENTER a dormir um soninho descansado e de barriguinha cheia!

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  14. Cara Alice,

    A minha namorada tirou um curso nessa tal Academia e, sabendo bem quanto se pagou por ele, imagino o dinheiro que não meteram ao bolso. E é um empresa pequena. O que fará as multi-nacionais!
    Tenho o mesmo curso que a Alice e as tenho muitas propostas. Para servir cafés (assistente de produção, diga-se!). Precisava de 6 ou 7 mãos para contar o número de pessoas que se sujeita a isso.
    Enfim, tentarei lá fora!
    Grande texto, Alvim.
    Abraço!

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  15. Poi só podia ser GRANDE!
    e reparas te a que horas ela o escreveu.
    Grande Alice

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