No preciso instante em que vos escrevo – É Terça-feira e são nove e meia da noite desta precisa semana – está a trovejar tanto lá fora, que aqui vos revelo, que há pouco me pareceu ver a Arca de Noé e todos os seus animais a passarem ali pela Praça de Espanha. Talvez não seja. Deve ser só impressão minha. Chove muito. Os alarmes dos carros dispararam todos ao mesmo tempo e os assaltantes mais astutos aproveitam a ocasião para fazer o que sabem: - “ É a trovoada, é a trovoada!” – dizem e enquanto isso, subtraem um auto-rádio, duas colunas, aí vai uma mala, menos um portátil, uma carteira de senhora - “ É a trovoada, é a trovoada!” - e menos uma máquina fotográfica, dinheiro do tablier, um vidro partido que este não estava fácil, uma série de documentos que não vão servir para nada mas eles só disso saberão quando chegarem a casa encharcados e pedirem algo quente que está muito frio e lhes tremem as mãos . Ouvem-se as sirenes dos bombeiros e o choro das crianças dos vizinhos aqui do lado, o mesmo choro que fazem quando o pai lhes diz por esta hora “Tens que ir dormir!” e eles reclamam e protestam da única forma que sabem: A chorar como se fosse o fim do mundo. E se calhar é o fim do mundo e os miúdos é que têm razão, porque está mesmo a trovejar muito e aí vem um – Não pensem que eu estou com medo, ouviram? – Uma luz enorme no céu aberto e toma lá outro pela fresquinha – deixem-me só ir buscar uma vela que eu já vos atendo – E aí vem outro que isto não pára!
Já terei contado mais de 10, talvez 20 e como de costume, as sirenes dos bombeiros confundem-se sempre com as da polícia. Estas eram dos bombeiros porque vi da janela as luzes laranja. As da polícia são azuis e - mesmo a calhar! - Passam exactamente agora. Aliás, é curioso perceber que em caso de intempéries primeiro passam os bombeiros e depois a polícia e noutro tipo de incidentes, primeiro a polícia e só depois os bombeiros. Às vezes, só para chatear, primeiro fazem passar a polícia e logo depois o carro dos embaixadores de um país qualquer, e outras, naquela que eu considero - sem dúvida - a manobra mais espectacular, aparecem primeiro com o carro do INEM, depois a ambulância e em terceiro lugar mas com grande dignidade, o carro da polícia acenando à multidão. Nestas ocasiões, fico sempre com a ideia de que estamos perante a passagem do pelotão da volta a Portugal e chego-me sempre ao passeio para ver se vejo passar o Cândido Barbosa, ao qual muitos já chamam o Fernando Mamede do Ciclismo.
Sempre que vejo um raio no céu digo para mim mesmo “Querem ver que este é para mim?! – e fico muito aliviado quando percebo que fui poupado mais uma vez. Quando era miúdo e isto acontecia, enchia-me de cobertores e fazia da minha cama uma espécie de “bunker” com tal isolamento sonoro, que apenas dava para ouvir a minha respiração apressada. A minha avó bem me dizia “Reza a Santa Bárbara! Reza a Santa Bárbara!” mas como eu estava com o tal isolamento estas palavras só me chegavam quando a coisa já tinha passado. E depois, quando a situação estava mesmo complicada e eu percebia que o fim estava próximo eu sabia muito bem o que fazer: corria para o quarto dos meus pais de peito aberto e já aí demonstrando grande arrojo e coragem dizia-lhes: “Cheguem-se para lá que eu tenho medo!
Já terei contado mais de 10, talvez 20 e como de costume, as sirenes dos bombeiros confundem-se sempre com as da polícia. Estas eram dos bombeiros porque vi da janela as luzes laranja. As da polícia são azuis e - mesmo a calhar! - Passam exactamente agora. Aliás, é curioso perceber que em caso de intempéries primeiro passam os bombeiros e depois a polícia e noutro tipo de incidentes, primeiro a polícia e só depois os bombeiros. Às vezes, só para chatear, primeiro fazem passar a polícia e logo depois o carro dos embaixadores de um país qualquer, e outras, naquela que eu considero - sem dúvida - a manobra mais espectacular, aparecem primeiro com o carro do INEM, depois a ambulância e em terceiro lugar mas com grande dignidade, o carro da polícia acenando à multidão. Nestas ocasiões, fico sempre com a ideia de que estamos perante a passagem do pelotão da volta a Portugal e chego-me sempre ao passeio para ver se vejo passar o Cândido Barbosa, ao qual muitos já chamam o Fernando Mamede do Ciclismo.
Sempre que vejo um raio no céu digo para mim mesmo “Querem ver que este é para mim?! – e fico muito aliviado quando percebo que fui poupado mais uma vez. Quando era miúdo e isto acontecia, enchia-me de cobertores e fazia da minha cama uma espécie de “bunker” com tal isolamento sonoro, que apenas dava para ouvir a minha respiração apressada. A minha avó bem me dizia “Reza a Santa Bárbara! Reza a Santa Bárbara!” mas como eu estava com o tal isolamento estas palavras só me chegavam quando a coisa já tinha passado. E depois, quando a situação estava mesmo complicada e eu percebia que o fim estava próximo eu sabia muito bem o que fazer: corria para o quarto dos meus pais de peito aberto e já aí demonstrando grande arrojo e coragem dizia-lhes: “Cheguem-se para lá que eu tenho medo!
ainda bem que tens escrito com mais frequência. :)
ReplyDeletecontinua assim, inspirado!
agora, confesso preferir os teus textos mais profundos e apaixonados... ;)
AMEI ESTE TEXTO!
ReplyDeleteMais um texto brilhante. Que bom que voltaste a escrever aqui mais frequentemente... :)**
ReplyDeleteNa minha mais sincera opinião, bastaria colocar a imagem e escrever "intempérie" e data por baixo... para bom entendedor meia palavra basta...mas não..."vamos lá dar palha a esta gente que os tempos estão difíceis"
ReplyDeleteElá daltónico não és graças a deus!!! Conseguindo com sucesso distinguir o azul da policia do laranja dos bombeiros. Mouco também não…haja Deus, aparentemente saíste perfeitinho :D
os alarmes que a teimas em dizer que era dos carros, aposto que era mais da lasanha do lidl que estava no microondas não? Os assaltantes nada mais são que ladrões mais atléticos…os menos astutos viram comediantes :P
Á vista desarmada o menino Alvim demonstra um certo medo, medo não digo,...pouca empatia com trovões. ("medo" julgo que te colocaria numa posição pouco confortável)interessante...
vejo que continuas sinceramente seco :D
Gosto disso, da personalidade, da interacção com o ridículo e cúmulo do divagar… sou fã só pela coragem que demonstras…
Com os melhores comprimentos! =)
Tudo isto para dizer que tava borradinho de medo! Topei-te logo nos primeiros paragrafos pah! Mariquinhas...:)
ReplyDeleteContinua a postar regularmente. És uma maquina escriturária. Este texto just made my night ;)
És o mesmo...quando tudo começa a ficar negro, pedes protecção. A outra hipótese - fugir para Marte, sem deixar rasto, porque lá não há disto!
ReplyDeleteBjs
Aqui estava bom tempo :)
ReplyDeletePassei a semana inteirinha na praia!!! :D
Ehehe ;)
Beijinho grande *
muito bom o texto sr. Alvim, esta aprovado
ReplyDeletePois que sinto a minha presença indirecta neste texto.
ReplyDeleteA nossa amiga Santa Bárbara. Estarei sempre disponível para futuras sugestões.
Um beijo
Gosto de te ler!***
ReplyDeleteEstavas com medo, confessa lá! :D
ReplyDeleteMedo da tempestade, do que vem com ela, da solidão que nos provoca, da sensação de inutilidade pelo que ouvimos na rua, essas ambulâncias, esses roubos, essa confusão que se instala.
ReplyDeleteMais uma vez, parabéns pelo texto.
so te sei dizer q no outro dia deu um valente trovao q eu dei grande berro no quarto....... e eu disse berro porque?.. porque se tivesse dito grito ía parecer um bcd GAY.. mas nao eu BERRO !
ReplyDeleteabraço grande alvim!
Parti-me a rir com esta do grande arrojo e coragem!!! Hihihihi... Conheci agora o cantinho e já vou linkar...está topo!!! Beijinhos e keep up!
ReplyDeleteCalma Alvim, não precisas de ter medo, não vai acontecer nada...:)
ReplyDeleteValha-me Deus, trinta e três anos...!!!looool :):)
Mas sim... está giro o texto...
Cumprimentos
***
Aqui está a grande oportunidade de conheceres a Santa Bárbara (não pessaolmente como é obvio)
ReplyDeletehttp://www.quinta-santabarbara.com/benvindos.htm
eu gosto da trovoada =)
ReplyDeleteAh! Eu li isto no Metro. Pôs-me um sorriso na cara logo de manhã. =)
ReplyDelete... fecha aspas!.. " "
ReplyDeleteEm dias de trovoada como estes, com tamanha manifestação da Natureza eu sinto-me tão pequeninaaaa...
ReplyDeleteContinuo a discordar com o "seco",de facto acho que o melhor adjectivo para descrever o que fazes,é "humido",bastante humido.Demonstras muita paixão,até em escrever um pequeno texto sobre a tua primeira namorada,a Luísa.E este texto,a mim só me fez pensar: "ele estava triste." Não por não lhe ter achado piada,acho sempre,é discutivel,mas sim porque está melancólico.E raramente o fazes assim.Tenho a sensaçao que estás sempre com uma constante saudade dos tempos em que eras criança,já leste o livro "surfistas" do Rui Zink?Ias gostar. *
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