Wednesday, May 10, 2006

Elogio do Amor


"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas.Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber.
Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.
Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e é mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.
O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática.
O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.
Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, banançides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra.
O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos.
Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.
Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo.
O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. é uma questão de azar.
O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra.
A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina.
O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima.
O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente.
O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.
O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessýria. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.
O amor é uma coisa, a vida é outra.
A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.
Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra.
A vida dura a Vida inteira, o amor não.
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."



Miguel Esteves Cardoso in Expresso

Monday, May 08, 2006

A melhor canção de sempre




Jeff Buckley - Forget Her

while the city's busy sleeping
all your troubles lie awake
i walk the streets to stop my weeping
but she'll never change her ways

don't fool yourself
she was heartache from the moment that you met her
my heart feels so still
as i try to find the will to forget her somehow
oh i think i've forgotten her now

her love is a rose dead and dying
dropping her petals and man i know
all full of wine the world before her
but sober with no place to go

don't fool yourself
she was heartache from the moment that you met her
my heart is frozen still
as i try to find the will to forget her somehow
she's somewhere out there now

oh my tears fall down as i tried to forget
the love was a joke from the day that we met
all of the words all of her men
all of my pain when i think back to when
remember her hair as it shone in the sun
it was there on the bed when i knew what she'd done
tell yourself over and over you wont ever need her again

don't fool yourself
she was heartache from the moment that you met her
oh my heart is frozen still
as i try to find the will to forget her somehow
she's out there somewhere now

oh
she was heartache from the day that i first met her
my heart is frozen still
as i try to find the will to forget you somehow
cause i know you're somewhere out there right now

Tops!



Sempre gostei de tops ( também desses que as mulheres usam habitualmente quando o tempo aquece) mas igualmente dos outros. Da imensidade de tops que existem para reunir as escolhas de várias pessoas ou só de uma, em relação a tudo ou quase.As melhores canções de sempre, os melhores filmes de sempre, os melhores livros de sempre, as coisas mais irritantes de sempre, os melhores programas de sempre, a cena mais escaldante de sempre e nunca mais agora saímos daqui. Top que é top, tem que acabar invariavelmente com " de sempre!"

E assim, o que proponho esta semana é fazermos aqui o top das coisas mais irritantes de sempre. Antes mesmo de divulgar a minha lista definitiva, avanço com as 4 primeiras:

1 - Chegar a uma bomba de gasolina pronto para abastecer o veículo. Sair do bólide, tirar a mangueira, a tampa do depósito e quando finalmente estamos prontos a accionar o mecanismo, uma voz surge das colunas e diz: Bomba nº2, lamentamos mas essa bomba encontra-se em pré-pagamento. Primeiro , somos tratados como uma bomba ( apetece pergunta se nuclear ou daquelas para a asma?) depois, como podemos nós advinhar qual a quantidade de gasolina que precisamos para atestar o depósito antes mesmo de o fazermos.

2 - O barulho de uma folha de papel a ser vincada.

3 - O som da bateria de um telemóvel quando assinala que está quase a acabar.

4 - Chegar ao multibanco e perceber que a pessoa que está à nossa frente está a pagar por ali, tudo e mais alguma coisa: Água, luz, telefone, transferência para a filha que está no Canadá, eu sei lá agora! .Normalmente, esta gente, chega 30 segundos antes de nós.

Thursday, May 04, 2006

Em todas as ruas te encontro , em todas as ruas te perco



poema

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco


Mário Cesariny

Wednesday, May 03, 2006

Estranho dia este!




Nasci a 3 de Maio de 1974, 8 dias depois da revolução de abril. Hoje, ao levantar-me reparo que é dia 3 de Maio de 2006. A pergunta impõe-se: Onde estive eu durante estes 32 anos? O que se passou entretanto?

Monday, May 01, 2006

Dia do trabalhador




Antes de tudo deixem-me dizer-vos que aquela história da visão não passou de um falso alarme. Acertei em tudo de novo, as letras todas com perícia e alguma sorte, não preciso de óculos - disse-me a jovem que me fez o teste, e a verdade, que é quando saí do oftalmologista já via melhor. Por vias das dúvidas, comprei uns óculos para usar quando estiver muitas horas ao computador.

Adiante. Hoje é dia do trabalhador e ao contrário do comum dos portugueses eu estou a celebrar o dia, imagine-se, trabalhando. Reparem só na agenda de hoje:

Entre as 10 e as 13 faço emissão na antena 3, depois vou para o edificio da vodafone gravar um spot promocional para a corrida dos Sofás que se realiza no dia 7 nesse mesmo local. Ás 16.30, entro em directo no curto circuito até ás 18.30. Ás 19 faço emissão de novo na 3, onde irei falar sobre cinema com os organizadores do Indie Lisboa. Ás 20, tenho uma reunião de trabalho com os meus colegas do programa "Prazer dos Diabos" e por volta das 2 da manhã, estarei a passar música em Aveiro até às 6. Às 7, apanho o comboio na estação de Aveiro e parto para Lisboa onde chegarei por volta das 10 da manhã. Chego ás 10.30 a minha casa onde me entrego aos lençois. Acordo às 14 e tenho a sensação que o dia não será muito diferente.

E ainda há quem diga que não se trabalha neste país. Viva o dia do trabalhador! Viva!