Monday, January 06, 2014

Um homem, mulher!


Gosto muito de fazer resoluções no final de ano e, este ano, a primeira foi não ter resoluções nenhumas. O que desde logo me provocou um problema: se a primeira é não ter resoluções, como serão então as outras? Minto. As resoluções de ano novo são uma oportunidade para sermos homens e mulheres melhores e, na impossibilidade de eu ser uma mulher melhor – o que muito lamento -, devo aqui admitir que quero ser um homem melhor. E não há ano nenhum em que o não queira, irei ter 105 anos - talvez mais - e pensarei sempre deste modo: quero ser um homem, mulher! Do mesmo modo que o meu principal objectivo será sempre salvar o mundo. E não se pense que é tarefa fácil – não é não –, não se pense que é só vestir a nossa roupa interior por cima das calças – isso era o outro –, salvar o mundo é o cabo dos trabalhos. Acreditem que sim. É uma trabalheira enorme que não está ao alcance de muitos, sobretudo para quem não tem visões raio x nem uma capa voadora. A conclusão a que chego é esta: é impossível salvar o mundo e andar de transportes públicos. Sobretudo em hora de ponta, reparem só: há uma ocorrência, um país qualquer em conflito que quer naturalmente que eu o salve, ligam para mim e dizem-me “Alvim, precisamos de ti, vem para cá e salva-nos que isto é urgente”, e eu vejo-me obrigado muitas das vezes a dizer-lhes: “pois é rapazes, eu até ia, mas estou aqui embarrilado na segunda circular, ao quilómetro 12”. Daí que, a cada ano que começa, eu queira que ele acabe o quanto antes. E só isso explica a minha última resolução para o que aí vem: mais do que não fazer resolução alguma, mais que salvar o mundo, mais do que ser um homem melhor, eu quero é que este ano acabe depressa.  

Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i
[Imagem de Tim Walker]

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