Monday, January 27, 2014

CIÊNCIA PARA SEMPRE


Tenho uma grande esperança na ciência. Não há ninguém no mundo que tenha mais esperança do que eu. A minha esperança é de tal modo grande, que acredito que antes que eu morra, se descubra a fórmula da juventude e imortalidade e que em virtude disso eu não morra e fique vivo para sempre e rapidamente transformado numa espécie de Buddha ocidental, dando sábios conselhos e ensinamentos proféticos. Contudo, recusar-me-ei a ser imortal se ao mesmo tempo não for jovem e não for capaz de correr a maratona de São Silvestre ao primeiro dia do ano. A ciência é uma coisa muito bonita – é, de facto - mas por mais que a ciência nos avise da descoberta de novos planetas e importantes revelações do solo terrestre, o que na verdade queremos saber é se há alguma forma de evitarmos a morte ou as doenças que nos levarão invariavelmente a ela. Gostava de ter sido um cientista para resolver isto. Na verdade, gostava de ter sido um cientista dos bons e descobrir a cura para o cancro, para a sida e para a programação televisiva actual e, em sequência disso, ser aplaudido de pé por todos, mesmo que estivesse na secção de charcutaria do Jumbo. Não fui, não sou. Mas a ciência conquista-me a cada dia que passa, porque está sempre a usar a palavra “descoberta”. Gosto de quem descobre, tanto ou mais de quem é descoberto. E os cientistas fazem-no a todo o instante. O cientista vive de tal modo para descobrir que aqui vos digo: se um dia viverem com um, nunca deixem o facebook aberto. Só a ciência nos pode salvar e em particular os cientistas que descobriram a nova fórmula do detergente skip. Se eles descobriram uma fórmula que lava mais branco, podem muito bem descobrir uma solução para branquear todos os males. Tenho uma esperança na ciência, sim, e espero nunca morrer para vir a comprová-la. 

Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i

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