Monday, December 09, 2013

PORTUGAL SAFA


A grande vantagem de Portugal em relação a todos os outros países e povos e tribos e pessoas do mundo é a capacidade que se tem de se safar. Toda a gente diz que a palavra saudade é um termo só nosso e ainda na passada semana confirmei de inusitada forma, quando perguntei a uma finlandesa que conheci numa festa Erasmus no Verão passado isto: tens saudades minhas? Ao que ela respondeu desta forma: não. E não, porquê? Porque não só a palavra é nossa como é nosso o próprio sentimento, senhores. Na Finlândia ninguém tem saudades de ninguém. Nem em Oslo. Nem no Magrebe. Nem em Peratallada. Ainda ontem estava uma distinta senhora irlandesa a dar uma daquelas entrevistas de rua onde dizia “ai aqui na Irlanda, ninguém vai ter saudades do FMI”. E eu do outro lado do sofá a abanar o meu copo com duas pedras de gelo dizia: pudera, os irlandeses também não as têm. Ouçam, os irlandeses não fazem ideia nenhuma do que são saudades. Um puto irlandês foge de casa aos 13 anos e passados 5 decide regressar, e o melhor que a mãe lhe poderá dizer é se janta mais logo e se quer peixe ou carne. Aliás, a alguém ter saudades do FMI, não tenham dúvidas que seremos nós. De tal modo que já por 3 vezes pedimos que voltassem. E esta poderá não ser a última. Portugal, no entanto, para além de, como já se disse, ser o único país do mundo a ter saudades, é também o melhor país do mundo a safar-se. Ninguém se safa como nós. E não se pense que safar é a mesma coisa que desenrascar, nada disso, são duas coisas bem distintas. Um desenrascanço pode ser um adiamento de um problema, resolvê-lo pela metade. Safar-se é resolvê-lo na íntegra. De vez. Portugal não se desenrascou para a qualificação do mundial. Portugal safou-se. E bem. De tal modo, que admito que, para muitos dos portugueses, soube muito melhor assim do que nos termos qualificado a tempo e horas. E é isto que distingue Portugal de tudo, de todos, e o torna único em todos os planetas onde possa existir sinais de vida. A verdade é esta: Não há outro país que se safe tão bem.    

Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i
[Fotografia de Martin Kollar]

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