Existe uma tradição ancestral em relação ao segundo nome
que normalmente o relega para segundo plano. E, no entanto, há uma espécie de
obstinação em relação ao próprio termo, que comummente - e até abusivamente - é
usado na comunicação. A toda a hora se ouve “segundo o gabinete de imprensa da
presidência da república, segundo fontes oficiais, segundo uma testemunha”, mas
poucos o fazem em relação ao primeiro. Isto é, quer-me parecer que em relação à
fuga de informação – e possivelmente ao fisco – os segundos passam a perna aos
primeiros. E não só, há segundos que se tornaram mais célebres do que estes
também. Querem exemplos? Pois bem, é ou não é verdade que quem fica no segundo
lugar da miss Portugal é sempre a mais gira? Mesmo a nível de pavimentações,
ouçam-me, haverá alguém mais popular - e já agora intransitável – do que a Segunda
Circular? E, com franqueza, alguém se lembra do D. João I quando comparado ao D
João II? Parece-me óbvio que não e, mesmo que não parecesse, aqui vos garanto
que diria o mesmo. Há segundos nomes que, tal como algumas pessoas, nasceram
para ser segundos e outros que, mesmo que sejam segundos, nasceram para ser
primeiros. É o caso de António: quando em segundo, António empalidece, fica
doente com direito a canjinha na cama. Mas, colocado em primeiro, todo ele é
uma explosão de flores de jasmim pelo ar. O mesmo acontece a Maria, Maria
torna-se um nome acessório, uma modesta camponesa que corta feno ao final da
tarde, mas se colocada como primeiro nome, é uma princesa reluzente com
sapatinhos dourados. Há nomes que tal como pessoas, se anulam quando estão
juntas. É o caso de Sofia quando se encontra com Ana. Ana leva sempre a melhor
e, por isso, o mundo está cheio de anas sofias e rarissimamente de sofias anas.
O mesmo acontece com Luís Miguel e com José Luís e pegando no nome que consta
em ambos, percebemos que o Luís quando ao lado de Miguel assume uma posição de
domínio absoluto que abdica em definitivo quando chega perto de José. Mais. Há
nomes que a este nível assumem uma certa bissexualidade. É o caso de Maria
João, nome de qualquer bonita moça, mas que quando invertida, dá origem a João Maria
que, como se sabe, é sempre um rapazinho de famílias distintas que normalmente
tem uma quinta em Ourém. Contudo, o caso muda quando se tenta inverter as
posições dos dois primeiros nomes. Há pouquíssimos casos em que tal mudança não
cause estranheza. É o caso de Maria Luísa ou Luísa maria, de Pedro Luís ou Luís
Pedro, José Francisco e Francisco José e poucos mais há. Tudo o resto soa a
forçado e pouco harmonioso. Até mesmo o vosso escriba Fernando António a quem
sempre chamaram desta forma quando este acabara de cometer uma vil safadeza.
Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i
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