Monday, December 16, 2013

A crónica habitual de Fernando António


Existe uma tradição ancestral em relação ao segundo nome que normalmente o relega para segundo plano. E, no entanto, há uma espécie de obstinação em relação ao próprio termo, que comummente - e até abusivamente - é usado na comunicação. A toda a hora se ouve “segundo o gabinete de imprensa da presidência da república, segundo fontes oficiais, segundo uma testemunha”, mas poucos o fazem em relação ao primeiro. Isto é, quer-me parecer que em relação à fuga de informação – e possivelmente ao fisco – os segundos passam a perna aos primeiros. E não só, há segundos que se tornaram mais célebres do que estes também. Querem exemplos? Pois bem, é ou não é verdade que quem fica no segundo lugar da miss Portugal é sempre a mais gira? Mesmo a nível de pavimentações, ouçam-me, haverá alguém mais popular - e já agora intransitável – do que a Segunda Circular? E, com franqueza, alguém se lembra do D. João I quando comparado ao D João II? Parece-me óbvio que não e, mesmo que não parecesse, aqui vos garanto que diria o mesmo. Há segundos nomes que, tal como algumas pessoas, nasceram para ser segundos e outros que, mesmo que sejam segundos, nasceram para ser primeiros. É o caso de António: quando em segundo, António empalidece, fica doente com direito a canjinha na cama. Mas, colocado em primeiro, todo ele é uma explosão de flores de jasmim pelo ar. O mesmo acontece a Maria, Maria torna-se um nome acessório, uma modesta camponesa que corta feno ao final da tarde, mas se colocada como primeiro nome, é uma princesa reluzente com sapatinhos dourados. Há nomes que tal como pessoas, se anulam quando estão juntas. É o caso de Sofia quando se encontra com Ana. Ana leva sempre a melhor e, por isso, o mundo está cheio de anas sofias e rarissimamente de sofias anas. O mesmo acontece com Luís Miguel e com José Luís e pegando no nome que consta em ambos, percebemos que o Luís quando ao lado de Miguel assume uma posição de domínio absoluto que abdica em definitivo quando chega perto de José. Mais. Há nomes que a este nível assumem uma certa bissexualidade. É o caso de Maria João, nome de qualquer bonita moça, mas que quando invertida, dá origem a João Maria que, como se sabe, é sempre um rapazinho de famílias distintas que normalmente tem uma quinta em Ourém. Contudo, o caso muda quando se tenta inverter as posições dos dois primeiros nomes. Há pouquíssimos casos em que tal mudança não cause estranheza. É o caso de Maria Luísa ou Luísa maria, de Pedro Luís ou Luís Pedro, José Francisco e Francisco José e poucos mais há. Tudo o resto soa a forçado e pouco harmonioso. Até mesmo o vosso escriba Fernando António a quem sempre chamaram desta forma quando este acabara de cometer uma vil safadeza.

Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i

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