Monday, November 25, 2013

Paz! Paz! Paz!


Não há país no mundo mais pacífico do que o nosso, de tal modo que não tenho dúvidas que, no Sermão da Planície, no Evangelho de Lucas – eu sei destas coisas –, quando Cristo disse “Não resistais ao homem mau; mas a qualquer que te dá na face direita, volta-lhe também a outra” era em nós que pensava, caramba. Dá-se o Nobel da paz ao Obama, ao Marshall, ao Luther king, à Unicef, ao Mandela e era a Portugal que deveria ser dado. E mais do que uma vez. Tivesse o comité sueco o mínimo de vergonha – que está visto que não tem – e constituiria Portugal como espécie de vencedor honorário. E assim, na altura da divulgação dos resultados, o porta-voz da cerimónia diria: para além de, obviamente, Portugal, o Nobel da paz vai para Bashar al-Asad. E assim sucessivamente. Todos os anos isto até que a academia em peso se mudasse para o Terreiro do Paço. Olhem para os outros países, ai que têm ouro, ai que têm petróleo, ai que têm dinheiro – está bem, está bem – mas depois têm também porrada de criar bicho. Olhem a Síria, olhem o Iraque, olhem a líbia, olhem o Egipto, olhem o Barreiro, Olha que coisa mais linda, Mais cheia de graça, É ela menina, Que vem e que passa. Quando olho para Portugal, o que vejo é um Kuala sentado num ramo de uma árvore a comer pacificamente folhas de eucalipto e, quando ouço alguém dizer que a violência está à porta, só se for para sair e emigrar também. Portugal está de tal modo que até a violência deu à sola, tantos anos de prática, tantos ensaios, tanta pide, tantos verões quentes e nem isto ficou. Esperem, ficou a paz. E temos tanta que podemos exportá-la, vendê-la, fazer contrabando em Vilar Formoso pelo mato, o que for. Portugal é o país com mais paz no mundo e é com essa paz que enterraremos a violência. E possivelmente um baú cheio de moedas de ouro.

Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i
[Fotografia de Lars Tunbjörk]

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