Do mesmo modo que os bancos têm gestores de conta, também o amor os deveria ter. E aqui vos digo que seria dinheiro em caixa. Dizem-nos que não há nada que custe mais do que amor e eu respondo: então experimentem comprar um t1 no Príncipe Real. O amor não tem preço, é verdade, mas é justamente por não o ter, por não poder ser vendido assim como se fosse produto embargado, que por norma, sobretudo numa fase inicial, nos provoca alguma desconfiança. O mesmo que acontece quando vamos ao El Corte Ingles e garotas novinhas, de pernas altas e indumentária impecavelmente estreita, nos oferecem para provar um queijinho suíço. Ou um maduro branco. Ou um presunto da beira baixa. E nós muito obrigado, que gentileza, pode servir-me mais um pouco, que idade tem? O amor é exactamente assim – não tenham dúvidas - é queijinho suíço, maduro branco, presunto beirão e por isso, quando é bom, quando é realmente muito bom, nos sabe sempre a pouco. Por isso é que não conheço ninguém que se queixe de ter amor a mais. Quando isso acontece – e pode acontecer – o melhor que têm a fazer é fechar essa boca de trapos e irem imediatamente para casa fazer amor com a pessoa que vos dá tanto. O amor é a única coisa no mundo que não pode ser vendida, pensem nisto. Quando muito, podem ser comercializadas variáveis do amor, mas isso é já um produto de contrafacção. O amor é tal qual uma droga pura ao qual não se pode juntar água ou farinha amparo sob pena de entupir as veias, mesmos as nasais. Por isso um gestor de amor seria tão bom, para nos tratar dos depósitos a prazo, dos juros que iríamos obter com aquele investimento, para nos falar do spread, da nossa conta corrente e dos movimentos a ela associados. Dizer “não não, não faça isso” ou pelo contrário “compre juros de aforro homem, despache-se!" Mas o amor não tem, não tem juros de mora, nem gestor de conta, nem preço, nem nada. Tem-se a ele. E ele, bem o sabe que é muito.
Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i
[Fotografia de Greg Smith]
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