Monday, October 21, 2013

COMEÇAR DE NOVO

Portugal precisa de sangue novo. E tem que ser já. Mas não pode ser um sangue novo que já esteja viciado. Tem que ser um sangue fresco que cheire a novo dia, um tipo de sangue cheio de vida, com vontade de correr -  de fita na cabeça tipo stallone no rocky-  pelas  veias pulmonares e pelas artérias sistémicas. Portugal tem que correr e tem que ser já. Desde a maratona das amendoeiras em flor à corrida de são silvestre, temos que cortar a meta com os braços no ar enviando beijos para quem nos aplaude, para quem nos vê em casa,  como fazia a rosa mota. Portugal tem que beber água e continuar a correr e despejar o frasco inteiro pela cabeça abaixo e continuar a marcha. Só a meta interessa e é bom que nos aplaudam à nossa passagem. Se não se importam vou também eu dando beijos e abraços aos leitores e leitoras que estão a correr comigo agora, de calções, de ténis, percorrendo esta belíssima frase que agora termina.  Portugal tem que ganhar tudo, desde a meia maratona ao euromilhões, desde a raspadinha ao quem quer ser milionário. Mas não haverá uma tia-avó qualquer que nos tenha deixado ficar uma prazerosa herança? Portugal não teve esta sorte e por isso é que não pode parar.  Mas tem que ter sangue novo e tem que ser já. O futebol percebeu-o há uns anos atrás quando começou a colocar sangue novo nos treinadores das suas equipas mais cotadas. Percebeu-se que a experiência e a razão dos anos, valiam muito pouco quando o sangue novo e a vontade de provar tudo ainda, mais facilmente as levavam à vitória. E levaram. Olhem o mourinho, olhem o villas boas, olhem o Guardiola. Era possível serem treinadores destas equipas com a idade com que eles o fizeram, há 20 anos atrás? Não era não. Mas eles conseguiram-no. E se é verdade que o sector privado vai timidamente fazendo algumas experiências, a função pública vai resistindo como pode. Não há uma pessoa com 30 anos que seja líder destacado na função pública portuguesa. E devia caramba.  Portugal precisa de gente nova, de ideias novas, de sangue novo, talvez até de reinstalar o Windows e começar justamente, de novo.

Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i
[Imagem de Thomas Dorn & Isabelle Derigo]

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