Friday, October 18, 2013

Balanço Vital no Jornal Metro

Desta vez convidámos a professora e investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) Felisbela Lopes a seleccionar 5 acontecimentos marcantes na sua vida e a revelar-nos outros tantos projectos para o futuro. Ora leiam:


5 acontecimentos

1 – Tinha uns cinco anos, quando fui sujeita a um inesperado castigo que me atirou por uns longos minutos para o isolamento de um quarto. Quando de lá saí, a primeira coisa que fiz foi pegar numa tesoura e cortar radicalmente o longo cabelo que ostentava. Para que constasse que nada fica sem resposta. 

2- Nos primeiros tempos no jornal Público, entregaram-me um caso de pedofilia. A mãe da criança conta de forma expressiva os abusos sexuais cometidos sobre o seu filho. Depois de uma pesada narrativa, diz que vai chamar o menor para as fotografias e para repetir aquilo em discurso direto. Eu e o repórter fotográfico dissemos-lhe que não o fotografaríamos, nem tão pouco conversaríamos com ele. Porque não se pode mostrar tudo, nem existe o direito de ouvir tudo de públicos mais vulneráveis. 

3 – Primeira aula na universidade. Tinha 22 anos. Entrei numa sala onde estariam uns 50 alunos. Uns quantos estavam na minha secretária. Uma aluna sentava-se na cadeira destinada à docente com os pés em cima da secretária. Entrei e ninguém se mexeu. Olharam-me como uma colega. Abeirei-me de uma mesa da primeira fila, pousei o computador e disse “Bom dia, vamos começar a aula”. Fez-se um súbito silêncio. Desde aí, as aulas têm sido sempre momentos de grande prazer. 

4 – Os hospitais são sítios onde vou sempre cheia de medo. Tenho pavor de médicos sem tempo ou que coloquem as poupanças como prioridade de ação. Também sinto pânico das palavras sem alma que pronunciam. Um dia, um médico, num tratamento simples, deixou-me cair desmaiada de uma marquesa. Parti uns dentes, fiquei uns dias com marcas da queda no rosto e suspeitou-se de um traumatismo craniano. Aprendi que ninguém cuida melhor de mim do que eu. 

5 - A participação na emissão no “Bom Dia Portugal” estava a decorrer normalmente, quando, de repente, a caixa do microfone sobre o assento da cadeira atrás das minhas costas cai ruidosamente no chão, o que significava que, em segundos, o microfone que estava pendurado no decote da blusa iria cair também. O realizador troca o plano e eu baixo-me rapidamente para apanhar o dispositivo. Continuo sempre a falar e subitamente começo a sentir qualquer coisa estranha no nariz. Tinha começado a sangrar e o direto ainda estava a meio. Valeu-me a cor do baton desse dia. Até a pivot Sandra Pereira achou que aquele vermelho resultava de eu ter borratado o que a caracterizadora me colocara nos lábios.  Na TV o que parece é. 

5 projetos
1- Andar mais a pé 
2- Trabalhar menos
3- Ignorar alguns políticos que temos
4- Esquecer o que significou a palavra troika
5- Reformar-me aos 70 anos e ficar uns 25 anos com uma pensão que me permita fazer sucessivas viagens 

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