Wednesday, March 13, 2013

Os Desastres do Amor ou Fortuna Palace

Saudado regresso do Teatro da Cornucópia ao TNSJ, Os Desastres do Amor ou Fortuna Palace é um espetáculo exemplar da prática artística que desde 2010 vem definindo o discurso teatral da companhia dirigida por Luis Miguel Cintra e Cristina Reis. Uma prática que decorre tanto da vontade política de radicalizar opções como da urgência pessoal de fazer balanços e dar a cara, dessacralizando os textos e recorrendo à surpresa. Em Os Desastres do Amor, Luis Miguel Cintra adota e adapta Pierre de Marivaux, trocando as voltas a vários dos seus textos. O espetáculo devolve-nos Félicie – peça curta onde uma viúva bem-posta procura a felicidade e acaba por descobrir a impossibilidade do amor –, conjugando-a com um diálogo entre o Amor e a Verdade; com um texto dramático sobre o poder do dinheiro e a corrupção; e com outra peça onde velhos deuses do Olimpo se entregam a uma patética altercação sobre o amor… Armadilhado este libertino marivaudage, Cintra construiu um espetáculo que tem lugar numa espécie de hotel de termas para reformados, parasitas ricos e maledicências, e que – minado por referências culturais e afetivas, da Traviata de Verdi aos antigos jingles publicitários – expõe a decadência da (nossa) cultura. Ou, nas palavras do encenador que vem agindo muito mais como autor, “o fim de uma civilização, ou a chegada de um novo mundo que não conhecemos e ainda chamamos barbárie”.


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