É certo que existem quase dias mundiais para tudo, desde o dia mundial da tosse convulsa ao dia mundial da água com gás, mas até agora, ainda ninguém havia criado aquele que pode ser um dos mais belos dias mundiais de sempre: falo evidentemente do dia mundial do mosquito. Como qualquer dia mundial, a ideia é durante esse dia recordarmos a importância que algo deverá ter e que com frequência nos esquecemos. E não tenho dúvidas que isso acontece também com estes pobres insectos que sofrem do mesmo síndrome dos bombeiros, isto é, as pessoas só se lembram deles no verão. E os mosquitos deviam ser lembrados todo o ano, por todas as pessoas e não só por aquelas que vivem no meio ou nas imediações dos arrozais. Aliás, o dia mundial do mosquito, para ser comemorado verdadeiramente, deveria ser feito em pleno arrozal, de preferência à paulada a tudo o que mexesse e tivesse duas asas ridiculamente pequenas. Digo isto, porque lhes invejo a sua visão. Um mosquito puro lusitano, ataca como se sabe às escuras. Acende-se a luz e onde está o mosquito? Não está. Pega-se na almofada para espalmá-lo como deve ser na parede e onde pára a sanguinária criatura? Em lado algum. Mas desliga-se a luz, um simples gesto, um dedinho no interruptor e ei-lo de volta, tal qual o emplastro atrás do repórter, tal qual os vendedores de time sharing da rua augusta. Por isso me parece tão importante lhes dedicarmos um dia mundial, porque isso sempre acontece com quem não nos deixa dormir. Reparem no exemplo dos filhos, não deixam dormir os pais durante os primeiros 20 anos de vida e não é por isso que o seu nascimento não é comemorado. E com os mosquitos devemos fazer justamente o mesmo, embora não nos deixem dormir não devemos esquecer o dia deles. E neste dia, o que eu proponho é justamente exterminá-los o mais que podermos, mas com regras que é para o dia não se esgotar logo na primeira edição. Proponho restringirmos o acto festivo, a 20 pauladas certeiras. O dia mundial do mosquito tem tudo para ser um sucesso e já tem oficial. Será a 15 de Agosto, em pleno verão portanto, com transmissão em directo do arrozal de tróia e já há slogan também. Será este: Ganhe uma vida, mate 20. viva o DMM!, viva!
Fernando Alvim
Publicado originalmente no jornal i
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